Quase todos os dias, faço caminhada no calçadão da avenida da expô. Algumas vezes, quando uma amiga vai junto, fazemos “terapia” também, como costumamos dizer. Conversamos tanto, desabafamos, rimos e ao terminarmos, não sei se estamos mais magras, mas com certeza, voltamos para casa mais leves. Se há alguma novidade para contar, então, já combinamos ao telefone: “Hoje nós vamos até Macedônia...” Na maioria das vezes, entretanto, por termos compromissos em horários diferentes, caminho sozinha.
Naquela tarde, já na volta, avistei um casal a cavalo, perto do açude, conversando com um rapaz, que segurava um labrador pela corrente. Ao me aproximar, reconheci-os: era uma mulher que trabalhou nos laboratórios da Faculdade, há alguns anos, e o rapaz é ex-aluno da FEF; por isso se conheciam.
Quando me viu, num tom de brincadeira, ela gritou: “-Ô, mulher, tô aqui pedindo o telefone do cachorro e ele não quer me dar...” Rimos muito – ela, o marido e eu. O rapaz, bem mais jovem, bonito e tímido, limitou-se a baixar a cabeça.
A maturidade traz esta vantagem: podemos falar o que pensamos para os mais jovens, sem que haja malícia.; somos livres para elogiar e também para repreender ou aconselhar.
Segui o meu caminho. Depois disso, nós voltamos a nos encontrar naquele calçadão. Ela pesca no açude, cuida de umas vacas que ficam do outro lado da avenida; aparece de charrete, com o marido, de vez em quando. Ao me ver, grita, sorrindo: “Cadê o cachorro?”
Soube que o rapaz – que é amigo de minha filha – embora já tenha concluído uma graduação, estava fazendo outro curso no exterior. Quase não o vejo mais; geralmente no período de férias, ele e o cachorro “dão as caras” por lá.
Na última vez que a encontrei, ao perguntar sobre o cachorro, ela disse: “Acho que vamos ter que caminhar na Bolívia, mulher!”
Quem ouve nossa conversa, não entende. Eu a conheço muito pouco, mal sabemos uma sobre a vida da outra. Mas nesses rápidos instantes, uma cumplicidade feminina nos aproxima e nos torna mais amigas do que realmente somos. Quanto ao cachorro, bem... ainda não tenho seu telefone!