Eleito prefeito de Fernandópolis aos 40 anos de idade, André Giovane Pessuto Cândido ainda não parou para descansar da acirrada campanha eleitoral, polarizada com a atual prefeita Ana Bim. A semana foi de entrevistas e de já encaminhamento de providências para o governo de transição. Na terça-feira, 4, após conceder entrevista ao CIDADÃO, Pessuto foi ao gabinete do Paço Municipal onde foi recebido pelo prefeito em exercício José Carlos Zambon, onde protocolou o pedido de transição (veja matéria na página 2).
O novo prefeito de Fernandópolis é formado em Administração de Empresas e possui ‘MBA em Gestão Pública’. Músico, baterista por formação, entrou na vida pública em 2004 quando iniciou alguns trabalhos na Secretaria Municipal de Cultura. Já em 2005, foi nomeado Secretário Municipal de Cultura, Foi eleito vereador em 2008 e novamente em 2012, sendo sempre um dos mais votados em Fernandópolis. Em 2015 foi eleito presidente da Câmara de Vereadores, função que exerce no momento. Nesta entrevista ao CIDADÃO, fala das eleições, do futuro e da obsessão pela paz política em Fernandópolis:
Prefeito eleito de Fernandópolis, após dois mandatos de vereador, um deles ainda no exercício da presidência do Legislativo. Em que momento decidiu que era hora de se lançar prefeito de Fernandópolis?
Na verdade eu venho me preparando para ser prefeito de Fernandópolis não só politicamente, mas intelectualmente também. Quando assumi o cargo de secretário de Cultura lá atrás, com Rui Okuma, senti como é trabalhar no Executivo e gostei. Acabei me aperfeiçoando, fiz MBA em Gestão Pública e posso até afirmar que a escolha em fazer administração de empresas já foi pensando em um dia administrar a nossa terra. Então, eu venho me preparando muito para ser prefeito de Fernandópolis. Acho que a gente precisa ir conquistando degrau por degrau e foi o que aconteceu. Fui chefe da seção de Cultura, secretário de Cultura, depois vereador por dois mandatos e chegou o momento de ser prefeito. Quando assumi a presidência da Câmara eu percebi que gosto de executar. Eu venho me preparando há muito tempo para esse momento.
Você venceu uma eleição polarizada e de disputa acirrada, entre dois grupos políticos que se revezam no poder. No seu primeiro discurso você falou em união política. Acha possível romper esse antagonismo que até hoje não permitiu, por exemplo, a reeleição de um prefeito na cidade?
Não tenho dúvida disso. Primeiro, eu não represento um grupo político que vinha disputando eleições. Então vamos por um ponto final nesta história. Eu não represento o grupo político do Vilar. A briga antes era Vilar e Ana Bim. Hoje não é. O meu coordenador geral de campanha (Rodrigo Ortunho) foi secretário da atual prefeita. O deputado Fausto Pinato apoiou a atual prefeita para eleger ela como prefeita de Fernandópolis. Então nós vamos quebrar esse paradigma. Eu tenho respeito por todos, já mencionei nos meus discursos parabenizando a prefeita pela gestão e pela votação expressiva que ela teve na cidade, a gente tem que reconhecer isso. Também parabenizamos o Dr. Ricardo Franco, o Vilarinho, que foram para as ruas, encontraram o povo. A nossa missão vai ser efetivamente promover a paz em Fernandópolis e vou tentar a todo custo fazer isso. Acho que só com a paz e a união, respeitando os Poderes, o Legislativo e o Judiciário, vamos conseguir chegar a algum lugar. Claro que o peso da caneta é do prefeito, mas o nosso governo vai ser compartilhado. Por exemplo, na Saúde que é o maior problema da cidade, junto com a geração de empregos. Mas vou focar na Saúde, eu senti que os médicos, os enfermeiros, os dentistas, eles estavam afastados das decisões. Isso não dá mais para acontecer em governo novo. Se a gente quer melhorar a saúde a gente tem que ouvir quem está fazendo a Saúde. E esse compartilhamento de gestão vai nos levar para a tão sonhada união.
Reunir todos os vereadores eleitos, um dia após a eleição, já seria o primeiro passo neste sentido? Essa também será norma no seu relacionamento com o Legislativo?
Essa decisão foi minha, de pedir que todos os vereadores eleitos, bem como os que estão ainda com mandato, que todos estivessem lá na coletiva. Quem conquista não é o prefeito, é a cidade. Então os vereadores vão fazer parte de todas as conquistas, cada vereador vai ter seu espaço, vai conquistar junto. Eu estou presidente da Câmara e sei como funciona o Legislativo. Quero dar as mãos para todos os vereadores, independente de partido. Vamos para São Paulo, para Brasília, vamos juntos buscar recursos para Fernandópolis. Vamos dividir as vitórias, que todos façam parte desta gestão compartilhada, da nossa gestão de braços dados.
A prefeita Ana Bim ligou para você?
Não.
Os outros candidatos ligaram?
Eu fiz questão de ligar para todos os vereadores eleitos. Infelizmente o Dr. Ricardo e o Vilarinho também não ligaram.
O que você diria à prefeita?
Como já disse, parabenizá-la pela votação expressiva que teve, isso mostra que ela tem uma liderança e mostra que teve acerto em vários momentos da gestão dela. E onde ela acertou a gente vai dar sequência em tudo e onde efetivamente ela errou, vamos tentar melhorar nossa cidade. Que ela seja feliz, respeito ela, a família dela, respeito todos, são cidadãos fernandopolenses e quero poder muito trabalhar por ela e pela família dela.
Sua eleição reuniu uma grande coligação. Como pretende conduzir a montagem da equipe de governo? Qual o critério?
Foi uma coligação grande, mas não foi montada em trocas e cabide de emprego. Fizemos o máximo para trazer partidos para somar e construir uma nova Fernandópolis. Então a escolha de secretários é de livre nomeação do prefeito, mas quero ouvir sim os partidos, inclusive os que vão ter assento no legislativo. A escolha vai ser técnica e política.
Tem alguns postos chaves de exclusiva nomeação do prefeito?
Claro que área jurídica, finanças, chefia de gabinete, são alguns postos determinantes e que são da confiança do prefeito. Vou tentar agilizar o mais rápido possível. Só vou dar uma descansada na semana que vem. Na segunda-feira estou indo para Brasília porque temos até o dia 18 para protocolar pedidos de emendas para os deputados em Brasília. Todos os deputados que tiveram votos em Fernandópolis eu vou visitar, um por um, nos gabinetes e vou protocolar pedido de emenda parlamentar. Na quarta-feira, que é feriado, vou dar descansada e volto. No mais tardar em 30 dias já devo anunciar os primeiros secretários.
Qual será o papel do vice-prefeito no seu governo?
O Gustavo Pinato vai ter um papel fundamental e a gente pregou isso na nossa eleição. Por ser irmão do deputado Fausto, o Gustavo terá uma metodologia de trabalho em cima de conquistar recursos em São Paulo e Brasília, usando a força que hoje é o nome do irmão.
Na entrevista coletiva você falou da situação econômica e que precisa de números para estabelecer as prioridades de governo. Mas, na sua mente, o que pretende realizar para mostrar a cara de sua gestão?
A Saúde em primeiro lugar. Há uma reclamação muito grande da população e não vou esperar tomar posse e já devo iniciar o mais rápido possível uma conversa com os médicos, os dentistas, com todos os profissionais de saúde para a gente tentar chegar a um denominador comum na Saúde. A geração de empregos é outro fator preponderante, tem muita gente desempregada em Fernandópolis. Já até pedi uma audiência com o governador Geraldo Alckmin para gente retomar a questão do Parque Industrial VI, da avenida marginal e da infraestrutura lá dentro. Essa audiência deve acontecer no máximo em 40 dias. Acho que a cidade está precisando de uma limpeza urgente. Precisamos dar uma geral na cidade para entrar com ar novo. Vamos focar na geração de empregos e saúde.
A prefeita Ana Bim realizou uma reforma administrativa e juntou secretarias, por exemplo a Cultura foi anexada ao Esporte e Lazer e Meio Ambiente a Agricultura. Pretende manter essa formatação?
Vou ser sincero, não me agrada essa junção. Acho que Esporte e Cultura não se bicam. Acho que a Cultura é mais próxima da Educação do que do Esporte. Primeiro precisamos enxergar os números para depois tomar providências. Se tiver números adequados vamos refazer esse organograma das secretarias.
O seu principal apoiador deputado Fausto Pinato disse em vídeo que circulou pela internet que os chineses da ZPE são que nem cabeça de bacalhau. Já o vice-prefeito atual, José Carlos Zambon em resposta disse que Fernandópolis precisa estender o tapete vermelho para os investidores da ZPE. Qual a sua posição?
Eu não conheço os investidores da ZPE. Vou pedir para o Zambon para que ele possa fazer essa interlocução entre os empresários e a minha pessoa e até entre os empresários e o Grupo Arakaki, que falou que até o momento não tem nada de concreto efetivamente. Então, a ZPE é um sonho para qualquer cidade. Só que é um momento de crise mundial, crise do nosso país, então nós precisamos conhecer esses investidores. Tenho ótimo relacionamento com Zambon, ele vai estar à frente. independente de qualquer questão política. Ele tocou a ZPE com muita seriedade, muita dignidade, deixando até um pleito eleitoral pensando na cidade. Se o Zambon quiser ele vai continuar a frente da ZPE, pra mim não tem problema nenhum. Vamos trabalhar junto. Concretizando a compra do terreno para a ZPE, temos que ir para outro passo e vamos depender muito do nosso deputado federal para conseguir que a lei que está tramitando no Congresso Nacional para reduzir a alíquota de 80 para 60% ande o mais rápido possível. Outra lei importante é que o governo estadual abra mão do ICMS. Mas isso é passo a passo. Vou além, vamos precisar muito do governo federal para agilizar a questão energética de Fernandópolis. Não temos energia suficiente para uma ZPE. Se o Frigorífico atingir sua capacidade total de abate de mil bois, vai faltar energia em bairros da cidade. Não temos energia na cidade.
Você acha que o fechamento das urnas encerrou as eleições?
Pra mim sim, inclusive já estou trabalhando pensando na nossa cidade. Estou indo em Brasília na segunda-feira em busca de recursos para o desenvolvimento de nossa cidade.
Espero que para os outros grupos também tenha encerrado. A eleição acabou, vamos cuidar da cidade. Eu preciso ser um prefeito de todos. Quero fazer uma gestão diferente, a cidade está pedindo isso, ninguém aguenta mais. Precisa acabar com essas brigas. Como presidente da Câmara, e também como vereador, sempre tive uma postura de pensar primeiro na cidade. Jamais fizemos oposição ferrenha, jamais travamos algum projeto da prefeita, pelo contrário, votamos muitos projetos por dispensa de formalidades, acelerando o processo, No meio do pleito eleitoral eu parei a campanha porque a prefeita precisava pagar funcionário municipal e votamos projeto. Acho que a eleição acabou e agora precisamos fazer um governo para todos.
Algum fato da campanha que ficou marcado em seu coração?
Sim, eu estive presente em uma igreja convidado por um pastor. Foi num domingo e nesse momento eu senti que algo diferente tinha acontecido em minha vida. Não sei se por coincidência ou inspiração Divina, acho que foi daquele domingo prá cá eu senti que a campanha ganhou peso, teve um diferencial. Não tenho dúvida, que o poder de um prefeito, de um vereador, de um juiz, emana de Deus. E Deus sempre estará à frente de tudo. Esse foi um momento que me marcou. Mas teve outro momento também que me deixou muito emocionado. Sou diretor da Apae, então fiz questão de estar com todos os alunos da Apae no início e no final dessa caminhada. Porque acho que a energia daquelas crianças, o coração, é algo que eu precisava. Eu quero trabalhar muito por todos. Só isso... (emocionado).
Você falou que a população não aguenta mais brigas políticas. Os 16 mil que não foram às urnas no domingo, que votaram em branco ou anularam o voto, deram esse recado para a classe política?
Não tenha dúvida. Esse foi um recado fortíssimo da população. Não é privilégio de Fernandópolis. Temos que analisar o contexto eleitoral em nível de País. Foram vários pontos que a gente pode pegar, fazendo uma análise global do que aconteceu em nosso País, do cansaço político, do desgaste que ocorre. O não comparecimento das pessoas às urnas, o maior da história, é reflexo do desgaste que o político está tendo. Mas eu amo fazer política, porque tenho vocação para fazer política. Eu amo estar na política, porque eu amo gente. Eu gosto de cuidar de gente. Por isso coloquei meu nome a disposição para ser gestor de Fernandópolis. E vou fazer com muito carinho, respeitando todos os cidadãos.
O que os mais de 35 mil eleitores que não votaram em você podem esperar de sua gestão?
Eu não quero saber quem votou e quem deixou de votar. O que quero é poder fazer uma gestão compartilhada, de gabinete aberto e atender a população com carinho, com respeito, com dignidade, com ética e respeito ao dinheiro público. Estou com minha vida aberta. Eu já falei isso em casa para minha esposa, nós vamos precisar dedicar diuturnamente, 24 horas por dia nos próximos quatro anos, em favor do nosso município. Foi aqui que nasci, foi aqui que minha esposa nasceu, aqui que minha filha nasceu. Quero tratar a nossa cidade com muito amor, muito amor pelas pessoas, para mostrar que existe uma forma nova e diferente de fazer política.