Nós estávamos em viagem; pretendíamos passar os dias de carnaval em Boituva, na casa de meu irmão. Quando saímos de um posto em Bauru, vi uma placa anunciando que estávamos a 98 km de Botucatu. Tenho uma amiga querida lá, mas há muitos, muitos anos não nos víamos. Havia perdido o número de seu telefone, então, pelo celular deixei uma mensagem para ela in box, no Facebook. Já havia tentando outras vezes, mas sempre sem sucesso.
Desta vez deu certo, ela respondeu na hora e marcamos um encontro no Shopping, na entrada da cidade. Quando fui fazer faculdade em São José do Rio Preto, em 1979, nós nos conhecemos na primeira pensão. Atirada, ela já sabia onde pegaríamos o ônibus, os horários todos e como era ótima em inglês, logo arrumou um emprego em uma escola particular.
Ela era a melhor aluna da sala, em uma época em que eu estava muito apaixonada pelo homem que hoje é meu marido. Trocávamos cartas diariamente e, quando ele vinha de Araraquara, onde cursava engenharia, ele me esperava no pátio da faculdade. Eu fazia as provas correndo só para poder vê-lo. Ela não; estudava muito e arrasava nas provas, sempre com ótimas notas. Arranjou um namorado em Botucatu e, quando ela e eu passávamos o fim de semana em Rio Preto, os dois vinham também e saíamos juntos.
Depois do último abraço, no dia da formatura, ainda trocamos cartas por alguns anos. Cada uma soube do nascimento dos filhos da outra, um cartão de Natal ou de aniversário, mas com o passar dos anos, fomos perdendo o contato. Até que um belo dia, nós nos reencontramos no Facebook. Aí sim, pudemos ver as transformações no rosto uma da outra; conhecemos melhor os filhos de cada uma, atualizamos o perfil dos antigos namorados - agora maridos.
Naquela manhã de sábado de carnaval, meu coração foi a mil. Não acreditava que nós quatro nos veríamos depois de mais de 33 anos. Cheguei primeiro e me sentei num sofá da entrada. Logo vi o vulto de seu marido na porta de vidro e ela, atrás. Corri. Nós nos abraçamos e choramos por longos minutos. Naquele momento, senti – como num filme – um corte temporal; houve um período suspenso entre nossa formatura e agora a aposentadoria (ela, aposentada; eu, quase!). Na verdade, abraçamos nossa juventude, nossos sonhos, o futuro que planejamos e já estava concretizado. Abraçamos o nosso desconhecido percurso profissional, nossas dificuldades omitidas, nossas realizações mais íntimas. O tempo deu um salto - o antes e o depois - e nos conectamos como se tivéssemos nos despedido no dia anterior.
Momentos como aquele nos anestesiam da realidade; o que senti foi tão intenso, que agradeci por termos ainda estrada pela frente. Eu estava em estado de graça e minha família me respeitou com o mais profundo silêncio. Eu não ria nem chorava; tinha uma sensação de estar suspensa no ar. Só na hora em que já estávamos longe que eu percebi...nós nos abraçamos tanto, que perdi um brinco. Mas, afinal, o que isso significa diante de todas as emoções que vivi?