Sábado de manhã, a loja estava lotada. Calçados espalhados pelo tapete, caixas por todo lado. Arranjei um lugar no sofá e esperei que a moça me trouxesse as sandálias rasteirinhas que eu havia escolhido olhando a vitrine. A que eu usava tinha um elástico me apertando o peito do pé; incomodava.
Como o movimento era grande, as funcionárias subiam e desciam escadas com muita pressa; gente entrando e saindo, disputando botas, sapatos e chinelos. Alguém se sentou ao meu lado, ouvi conversa e quando olhei, reconheci uma amiga querida com quem trabalhei durante anos na faculdade; há muito tempo não a via. Foi uma festa! Com alegria nós nos abraçamos, perguntamos pela família, falamos sobre nosso trabalho, enfim...ela estava - como eu - procurando uma sandália baixa e confortável.
Interrompemos, então, a conversa para provarmos os modelos que havíamos escolhido. Nenhum servia para mim: ora eram largos e deixam a magreza dos meus pés à vista, ora eu não gostava da cor, ora ainda o solado de couro não me agradava. Olhei a sandália ao lado e, inevitavelmente, cobicei... nas tiras, um pesponto imitava um bordado meio indígena e, entre os dedos, uma flor vermelha. Mas para minha surpresa, não estava à venda; era da minha amiga. Elogiei o modelo.
Cansada de experimentar, disse a ela que não levaria nenhuma, pois não havia encontrado nada que desse certo. Naquele momento, ela viu a que eu usava – prata, com um medalhão de miçangas, imitando pequenas pérolas – e se encantou. Todos os modelos que ela provou também não a agradaram. Então, começamos espontaneamente a expressar o quanto tínhamos gostado uma da sandália da outra.
Foi quando arrisquei: “quer trocar de sandália?” Rimos muito, mas fizemos o que tinha que ser feito: experimentamos. Ficou perfeito! Perguntei o preço que ela havia pagado pela sandália dela; era mais ou menos o que eu havia pagado na minha. O estado de conservação também era parecido.
Para o espanto das pessoas que estavam a nossa volta, depois de muita risada, concretizamos a troca. Como duas crianças cúmplices que fizeram uma arte, saímos da loja felizes, sem comprar nada - sem gastar dinheiro - mas com uma sandália “nova”.
Não tenho dúvida: a felicidade é feita de pequenas alegrias.