Agora que estou de férias, todas as manhãs tomo café numa padaria. Sou patrulhada por isso; um dia, uma conhecida me viu sentada comendo um pãozinho com manteiga numa padaria do centro e gritou: “Aposto que não fez café na sua casa”. Isso!...raramente faço. Tive uma vizinha que, toda vez que eu arrumava uma empregada, na hora de varrer a calçada, ela avisava: “Eles tomam café fora”. Sim, porque algumas pessoas almoçam fora; outras, jantam fora e nós, bem... nós tomamos café fora!
Nessas manhãs, o que procuro é um lugar tranquilo para começar bem o dia. Lá, de certo mesmo, encontro privacidade, aconchego e bom atendimento. Um lugar sossegado para olhar o celular, responder às mensagens do whatsApp e comentar os posts do facebook. Entretanto, os dias nunca são iguais: às vezes, encontro amigas e as conversas variam de saúde, beleza, festas até a sinceridade extrema de uma que manda a outra, adoentada, pintar o cabelo porque está muito caidona. Rimos muito.
Quando encontro amigos, a conversa vai de política, indignação com atendimentos nos órgãos públicos, a situação das estradas, as últimas notícias da cidade e ouço histórias engraçadas também.
Às vezes, minha filha me acompanha; no celular me mostra vídeos, fotos, me conta as novidades, enfim, me atualiza. Outras, tenho a sorte de encontrar um irmão que chegou de viagem e eu nem sabia. E, nos finais de semana, vou com o marido. É o lugar onde nos sentamos muito próximos uns dos outros e todo assunto ganha ares de conversa ao pé do ouvido, de confidência e cumplicidade.
Ali, vejo também pessoas trabalhando com vendas; não tem como não escutar: “Quanto você quer? Quer aproveitar para levar mais?” Outras, entrevistando candidatos a empregos: “Há quantos anos você trabalha na área?” Vejo professores universitários orientando alunos entre um café e outro. Famílias se sentam com crianças, que brincam com bexigas prateadas com formato de coração. Parece que ninguém tem pressa; a companhia, mesmo que seja a nossa própria, é mais importante. Várias vezes, atrasei o almoço de domingo, porque perdemos a hora lá, nos bate-papos com amigos.
Naquela padaria, sinto-me como se eu estivesse em casa; tenho vontade de tirar a sandália e me sentar em cima das pernas cruzadas. As funcionárias nos atendem sorridentes, sei o nome de todas. A TV ligada apresenta um programa de saúde interessante que só assisto quando estou lá.
Aos domingos, o lugar fica lotado; muda o perfil da clientela. Motoqueiros se reúnem, com roupas próprias de quem vai para a aventura. Conversam alto, falam de suas motos, contam histórias e riem muito. A gente fica assistindo aquela alegria toda, meio de longe; parece que estamos invadindo a praia deles.
Aquele lugar resgata o aconchego de momentos de minha infância. Tínhamos uma vizinha síria, muito querida, que toda tarde, convidava minha mãe para tomar o café que acabara de fazer e nós, os filhos, íamos junto. Era um momento de afeto, de uma amizade certa. Ouvi várias vezes, sem entender muito aquela lógica, uma dizendo para outra: “A sra. é como uma mãe para mim”, sendo que a vizinha era muito mais velha.
O médico psiquiatra e escritor Roberto Shiniyashiki diz que devemos ter um “ninho”, um lugar isolado de problemas onde nos sentimos bem. Atualmente, aquela padaria é o meu ninho. É ali que eu aperto o “ON” da minha manhã e começo o dia bem devagar. E o melhor, saio com a deliciosa certeza de que, começando assim, meu dia não poderá ser ruim.