A notícia era de que íamos ficar sem o WhatsApp por 48 horas. Não vou entrar no aspecto político da questão – o que interessa é muitas pessoas tiveram febre, tremedeira, verdadeiras crises de abstinência. Não, não é exagero!
Piadas não faltaram: “Nossa, com o WhatsApp desligado descobri que mora um monte de gente na minha casa...”, “Oi, você também mora aqui?” Como voltou a funcionar bem antes do tempo previsto, ouvi no rádio o locutor dizendo “O WhatsApp é bem brasileiro mesmo...não cumpriu nem a metade da pena!” dentre outras.
Em 2011, Ricardo Semler escreveu um artigo irônico, mas profético, chamado “Iphônicos Anônimos”, no qual simulava uma reunião em que os membros eram todos viciados digitais. Um deles se levantava e dizia: “Boa noite! Meu nome é Rogério!”, ao que todos respondiam: “Boa noite, Rogério!”. E ele: “Estou sem meu Iphone há três dias”. Então, era muito aplaudido. Naquela época, parecia exagero – não imaginava que poderíamos chegar a esse ponto, porém acabou se confirmando sua ideia.
Hoje todos sabem que já existem clínicas para viciados digitais. Há pessoas que dormem com o celular debaixo do travesseiro, levam para o banheiro, não curtem bons momentos porque têm que tirar fotos para postarem nas redes sociais, enfim, alguns até se matam tentando fazer “selfies” em lugares perigosos, como em janelas de prédios, no alto de torres ou montanhas.
No dia a dia, o que estamos vendo são pessoas cada vez mais sozinhas, mesmo junto com familiares, em festas, bares ou no meio da multidão. Ninguém vê o mundo ao seu redor, a maioria fica limitada à telinha do celular.
Neste Natal, poderíamos fazer um trato: pais, filhos, netos e amigos – vamos fazer de conta que de novo o WhatsApp parou de funcionar. Vamos olhar mais para o outro, perceber se ele está feliz ou triste, reparar nos enfeites, nas roupas, elogiar mais as pessoas que estão ao nosso lado e, principalmente, não ficar o tempo todo mostrando fotos ou piadas postadas nas redes. Vamos falar da vida, vamos lembrar de nossas histórias antigas, rir das gafes cometidas, contar nossas próprias experiências.
Que neste Natal, a gente se abrace mais, converse mais, se junte para simplesmente jogar conversa fora. Está proibido falar de doença, vamos parar pelo menos um dia de ver a desgraceira que passa nos telejornais e vamos olhar para nossa casa, nossos filhos e receber nossos amigos. Que presente maravilhoso ter atenção das pessoas queridas e oferecer a nossa atenção também.
Vou passar o Natal em Cuiabá, com meu irmão e sua família linda. Quero ficar off-line por uns dias para poder curtir de verdade todo afeto que costumo encontrar por lá.
Um Natal abençoado a todos! E não se esqueçam... Desliguem seus celulares.
