Honrai pai e mãe

20 de Agosto de 2025

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Honrai pai e mãe

 

 

         Eles são muitos e começam cedo. O mais velho chega de carro e em pouco tempo está lá fora, varrendo a frente da casa. Sai e vai para o trabalho. Logo chega uma filha, conversa um pouco e, ao  fechar o portão, grita: “Bença, pai!... Bença, mãe!” Aos poucos, chegam os outros irmãos, cunhados e cunhadas, numa sequência sincronizada; todos casados.  Mais tarde, vêm os netos também; fazem um carinho nos avós, dão recados, avisam onde vão e partem.

                Esses são os nossos vizinhos de frente: uma família grande, unida e solidária. Ficamos observando o vai-e-vem dos mais novos, dando assistência para os pais e avós, numa demonstração inequívoca  de afeto.

Uns chegam de carro; outros, de moto; outros ainda, de bicicleta. Nada é desculpa para não visitarem o casal idoso e debilitado. Um dia, um filho leva a mãe para uma consulta médica. No outro, encosta a ambulância; duas filhas amparam o pai até o hospital para fazer exames.

                Essa família me encanta porque vejo ali o preceito bíblico “Honrai pai e mãe” sendo praticado de modo exemplar. Numa sociedade que valoriza o consumismo, a aparência  e o imediatismo, com indivíduos se arrebentando para ter sucesso a qualquer preço e manter a juventude - nem que seja a porrete! - onde raramente os idosos têm lugar e são respeitados, descobrir que existem pessoas honestas, trabalhadoras e justas, que amam e cuidam dos progenitores nos acena uma esperança. Às vezes me pergunto: o que  fizeram para serem tão amados? como  conseguiram ensinar o que é respeito? qual a receita para tanta consideração?

Provavelmente há quem se envolva mais, quem cuide mais, quem tenha mais paciência. Com certeza, há um neto  mais querido,  que gera ciúmes nos outros. Deve ter aquele que trabalha mais e os visita menos. Quanto ao casal, com certeza também são como os outros da sua idade. Mas esse é o verdadeiro conceito de família; é o conjunto de pessoas que pensam e agem diferente umas das outras, mas continuam se gostando,  porque juntos construíram uma história baseada em valores capazes de orientá-los no presente e no futuro.

                No domingo, eles se juntam. Sentam-se todos no alpendre, em volta dos velhinhos. Colocam uma música alegre, conversam alto.  Uns tomam uma cervejinha; todos dão muita risada. Do lado de cá da calçada, com o jornal nas mãos, finjo que leio. Como uma espectadora de um Big Brother, intrometidamente não resisto e dou uma espiadinha. O que acontece a minha frente  me encanta mais do que qualquer notícia. E me faz sonhar,  pois a velhice  é  um prêmio para quem conseguiu driblar bactérias, vírus, acidentes e balas perdidas. Mas só tem sentido viver muito, se terminarmos como eles - os meus vizinhos -  rodeados  pelas pessoas que amam,  cobertos  de atenção e de carinho.