Acabo de assistir a um vídeo que encontrei, por acaso, na internet na lista de palestras do programa Café Filosófico. Chama-se “E você, está se preparando para a velhice ou vai se deixar surpreender?”, do médico Alexandre Kalache. Em uma hora e meia de exposição, defende a tese de que “envelhecer é bom; morrer é que não presta”.
Gostei muito da abordagem porque ele inicia afirmando que a população está envelhecendo, e as estatísticas mostram que viveremos mais 30 anos depois de aposentados. O que fazer com esse tempo?
Pergunta para a plateia onde eles se imaginavam dali a 30 anos e o que estariam fazendo. A maioria disse que estaria viajando, festando, desfrutando bons momentos ao lado da família. Ninguém se viu em um asilo ou em uma cama de hospital. Então, ele vem com os alertas.
Segundo o médico, nós precisamos nos preparar para realizarmos esses sonhos na velhice; não adianta resolver de última hora. Essa fase pode ser uma etapa da vida com solidão, insegurança e sofrimento; por isso é importante nos sentirmos amparados. Para ele, é preciso investir em quatro capitais, que são: o capital vital – manter uma alimentação saudável, bom condicionamento físico por meio de atividades esportivas, ficar longe dos vícios; o capital financeiro – programar algo que garanta uma boa renda na velhice, o capital do conhecimento – sabendo como as coisas funcionam, conseguimos lidar melhor com os fatos e, finalmente, o capital social – manter amigos, participar de grupos e ter bom relacionamento com a família. Para Kalache, esse último capital merece bastante atenção: “é necessário o desenvolvimento de uma cultura do cuidado, pois estamos sofrendo uma ‘síndrome da insuficiência familiar’ e precisamos melhorar nossas relações intergeracionais”.
Um espectador perguntou sobre religiosidade. Ele entende a pergunta, mas estabelece a diferença entre religiosidade e espiritualidade; há pessoas que frequentam as atividades de uma religião semanalmente, mas não têm espiritualidade – solidariedade, caridade e compaixão. É preciso ser espiritualizado. E outro espectador questiona quanto ao capital de realizações; ele também concordou sobre sua importância. Na velhice, olhar para trás e perceber que se produziu muito é confortador.
Para ilustrar sua tese, Kalache conta que sua sobrinha, em uma viagem de avião pela Europa, na hora de servir a refeição, a comissária ofereceu peixe no cardápio do dia. A moça, decepcionada, perguntou: “só tem peixe? ...eu não gosto muito de peixe. Há outra opção?” E a comissária: “Sim, a outra opção é não comer.”
Pois bem, fazendo uma analogia, conclui brilhantemente o médico: “envelhecer não é bom, mas se a outra opção é morrer, então, vamos envelhecer!” Não há nenhuma novidade nisso, sempre achei que as pessoas idosas são vitoriosas: conseguiram driblar inúmeras situações de risco, enquanto outras não tiveram tanta sorte. Por isso, para mim agora está decidido: quero comer peixe!