Os 20% da terapia

20 de Agosto de 2025

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Os 20% da terapia

 

A psicoterapia está na mesa do debate. As últimas pesquisas mostram que pacientes submetidos ao tratamento psicoterápico têm uma melhora de apenas 20%. Essa é a chamada para pescar nossa atenção; mas, no final do artigo, apresentam desconfianças de um grupo de pesquisadores quanto ao resultado da pesquisa (Folha de S. Paulo - Caderno Saúde +ciência, 05/10/2015).

Faço coro com o segundo grupo. As pesquisas científicas estão em constante revisão; o que hoje é recomendável – seja alimento, hábito, comportamento ou remédio - amanhã está na lista dos abomináveis. Por isso, procuro não comprar a ideia de pronto.

Adoto esse critério por mais um motivo: uma dieta, um curso ou um tratamento só será realmente eficaz se eu me comprometer também, se eu puser ali todo meu empenho e minha vontade de crescer.

De que adianta iniciar uma dieta com a nutricionista mais especializada da cidade, se eu não sigo o cardápio que ela estabelece, não faço nenhum exercício físico e continuo tomando muito refrigerante?

Eu posso fazer uma pós-graduação na universidade mais conceituada do país, com renomados professores, uma didática atualizada, mas nada valerá se eu faltar às aulas, não estudar, não fizer as leituras e os trabalhos propostos.

Que médico será competente o bastante para cuidar de um paciente diabético obeso que insiste em fumar, que come muita carne gordurosa e “se joga” no doce? Se a pessoa não se ajuda, nenhum tratamento no mundo vai dar bons resultados.

Embora não seja especialista nos assunto, boto muita fé na psicoterapia.  Há uns dez anos, já estive do lado de cá do tratamento e garanto que minha melhora foi de muito mais do que 20%. Isso ocorreu, principalmente, porque me trouxe autoconhecimento. Toda vez que a gente volta o olhar para o nosso mundo interior e consegue entender nossos pensamentos e comportamentos; reconhecer nossas emoções e dar um jeito de domá-las, não há como não melhorar. Naquele período, eu assistia aos programas Café Filosófico todo domingo – para ouvir especialistas sobre o assunto; li quase todos os livros do Irvin Yalon (romances filosóficos); comecei a fazer um tipo de artesanato e adotei outra religião, que passei a frequentar com regularidade. Enfim, realmente me propus a melhorar.

Ainda existe preconceito quanto a esse tratamento – vi outro dia, o articulista da Folha, o filósofo Luiz Felipe Pondé, falando com desdém que “tem pessoas que pagam para conversar com outras” e me decepcionei.  Uns pecam pela ignorância; outros, pela prepotência. 

            Como acontece na política, na religião e no futebol, neste caso acredito também que cada um deva fazer o que quiser, defender o seu ponto de vista, suas crenças, mas sem desmerecer a opinião do outro. Está cada mais entediante esse debate sobre  tolerância com um tom intolerante.

            Há um mês, voltei para a terapia; preciso colocar umas ideias nos devidos lugares. Estou apostando que minha melhora será de mais de 20%.