Podia ser pior

20 de Agosto de 2025

Compartilhe -

Podia ser pior

                                                      

 

            A maioria das pessoas vivem uma rotina exaustiva, ora correndo atrás de algumas coisas ora fugindo de outras, sem saber muito bem para onde estão indo. E como todo mundo reclama da crise, nos deixamos contaminar com o pessimismo e repetimos que está tudo muito ruim mesmo, não tem jeito, não tem solução.

            É pensando exatamente assim que numa bela manhã a gente chega em casa e descobre que o encanamento do banheiro está com problema e a água do esgoto está voltando, inundando tudo. Não dá para resolver depois; é preciso parar e resolver aquela encrenca.

            Pode ser também que, nessa bela manhã, em vez de problemas no banheiro, a gente acorde com uma leve dor de dente, que vai aumentando à tarde, e fica insuportável à noite. Pronto! Para tudo que é preciso achar um dentista, um horário vago, um remédio urgente.

            Às vezes, o problema é no trânsito. Saímos para fazer uma compra básica no supermercado e, no semáforo, vem um desavisado e atravessa na nossa frente. Ninguém se machuca, não há prejuízo – o seguro vai cobrir todas as despesas – mas o carro vai ficar 15 dias no conserto. Nossa rotina vira um caos.

            Na verdade, não valorizamos o sossego do nosso dia-a-dia; parece que nossa felicidade só acontece se há novidades, festas, viagens, muitas compras. Poucas pessoas se sentem felizes na tranquilidade da ausência de problemas.

            Durante todo o tempo, estamos expostos a assaltos, doenças, acidentes domésticos, perda do cartão de crédito ou falha da internet. O celular cai na privada, a panela de pressão estoura, os óculos de grau ficam perdidos em algum lugar, queima o chuveiro e só sai água fria.

Imagine que você está em casa, vendo um programa qualquer na tv e toca o telefone. É alguém avisando que seu pai está hospitalizado ou que seu melhor amigo sofreu um infarto.

Nessas horas, percebemos que nossa vida sem novidade – aquela que achávamos não ser tão boa assim, que passávamos por uma crise – não estava tão mal. Não é simplesmente fazer “o jogo do contente” da famosa personagem Polyanna.  É uma questão de maturidade, de parar de criar expectativas, de viver esperando um milagre acontecer, enfim, de abandonar o mundo ideal e pôr os dois pés o mundo real.

            Como disse Érico Verissimo, “A vida começa todos os dias.” Vamos fazer o que é possível e deixar de lado o que não está ao nosso alcance. Amanhã a vida começa de novo e muito do que vai acontecer não depende de nós. É bom parar de reclamar e aproveitar os momentos de tranquilidade. Podia ser pior...