Há poucos dias escrevi sobre amigos que não têm tempo de nos ouvir, que só falam, falam e quando chega a nossa vez, não prestam a atenção. Amigos que não se importam em saber como a gente está; o que querem mesmo é um orelhão para escutar seus problemas, vitórias ou fracassos.
Pois bem! Hoje faço a “mea culpa”. Sinto que cada dia que passa estou com mais pressa. Não ando mais, corro; às vezes sinto que voo. E nessa alta velocidade, tenho tido momentos muito superficiais com as pessoas que admiro, que respeito, que amo.
A verdade é o mundo está mudando muito rápido e a gente enfrenta uma luta frenética para não “perder o bonde”. No meu caso, desde sempre tivemos empregada doméstica, então eu chegava em casa, o almoço estava na mesa, com suco pronto e os remédios já separados. A casa limpa e cheirosa, tudo no lugar. Agora, com os altos salários e a escassez de mão de obra, esse serviço está fora de cogitação. Somos obrigadas a trabalhar fora e encarar as tarefas domésticas. Assim, lá se vai uma boa parte de nosso tempo.
A tecnologia, que veio para melhorar nossa vida, também significa uma grande cobrança, pois queremos continuar falando a mesma língua de nossos filhos e netos e, então, vamos para o what’sApp e para o Facebook. Mergulhamos nas novidades, nas notícias, nos posts humorísticos, filosóficos, em fotos de flores, cachorros, e quando acordamos, já se passaram duas horas.
Aumentamos nossos compromissos, queremos cuidar da saúde, então “bora” zumbar, fazer caminhada, e pronto! Lá se vai mais uma hora por dia! Adoro assistir aos telejornais – para entender a realidade e, pelo menos, uma novela – para poder fugir da realidade. Nisso, fico em torno de 2 horas por noite.
De manhã, aula na escola estadual; à tarde e, às vezes à noite, aula de redação na minha escola. Mas não posso deixar de fazer a unha uma vez por semana e de esconder meus cabelos brancos cada 15 dias.
E tem o trabalho filantrópico – uma vez por semana – as compras na quitanda, no mercado, no açougue. Corrijo trabalhos científicos e faço peças de mosaico. Costuro e bordo; cozinho muito pouco. E com toda essa rotina, cada vez assumindo mais atividades, não quero perder meus momentos de prazer – aquela hora sagrada do cafezinho.
Então, tentando abarcar o mundo, ando me tornando uma péssima companhia. Sempre correndo, não paro mais para conversar com as pessoas – estou sempre indo para algum lugar, com tempo contado para ir para outro lugar. Sempre critiquei amigas que vão às festas com duas horas de atraso, porque estavam em outra festa, e vão embora logo, porque têm uma terceira. Não gosto disso....mas percebo que estou ficando igual.
Nessa semana, fui à inauguração da loja de uma amiga, experimentei as roupas correndo e saí; não fui a um aniversário e quando encontrei uma amiga querida que não via há tempos, estava na hora do meu almoço e eu tinha aula logo em seguida. Cortei a conversa e me despedi.
“Me perdoe a pressa”, diz a música “Sinal fechado”, (de quem mesmo Carlinhos Phelippe?... ) Já citei essa música aqui e errei a autoria . Dois amigos se encontram no semáforo e trocam palavras rápidas, nessa vida esquizofrênica que vivemos. Um bom retrato de nosso tempo.
Estou me policiando e, desde já, me retratando com meus amigos. Ando muito apressada, indelicada e, infelizmente, atropelando tudo. Preciso parar de ouvir os apelos que nos atordoam – faça isso, compre, assista, dance, trabalhe, trabalhe de novo, participe, comunique-se, atualize-se... Estou tentando desacelerar, mas por enquanto, “me perdoem a pressa!...”