Instantes

 

            Nós estávamos na praça de alimentação de um shopping em outra cidade; era hora do almoço. Enquanto esperávamos nosso prato, meu marido e eu tomávamos um chopinho. Uma mulher cantava lindamente músicas nacionais e internacionais acompanhada de um homem que tocava piano e outro, que tocava um instrumento de que não sei o nome. Os três estabeleciam o clima daquele lugar.

            Depois de um evento em que se despendeu muita energia, é natural vir um estresse. Algumas dúvidas sempre aparecem, uma insegurança bate. Eu me encontrava sem nenhuma certeza, não tinha convicção a respeito de nada.  Vinha de uma noite de insônia. Acabara de realizar o lançamento de meu livro infantil – trabalho a que me dediquei muito – e agora...bem, o que vem agora? Era essa a sensação, a do “acabou”!... o que vai ser daqui para frente?

            Sentada naquela praça, ouvindo belas canções, comecei a sentir o tempo passar devagar... não pensei em nada mais, apenas curti o momento: a boa companhia, o lugar cheio de gente passeando, uma temperatura agradável, músicas como “California dreams”, “Stand by me”, “I can’t take my eyes off you” estabeleciam o tom do lugar.

Acho que naquele instante consegui realizar o que as pessoas espiritualizadas pregam: viver o agora. Vivemos sempre entre o arrependimento, a culpa, as dores e mágoas do passado, e a tensão, o medo, a insegurança e os projetos do futuro. O tempo todo oscilamos nesses dois pêndulos; ora pra trás; ora para frente. Raramente estacionamos no “aqui” para avaliarmos o que estamos sentido.

Ali sentados, colocamos o mundo entre parênteses e nos deixamos levar pelo agora. Mal conversávamos, mal nos olhávamos, estávamos absortos, como se flutuássemos numa esfera acima dos nossos problemas ou preocupações.

Ainda não sei por quanto tempo ficamos anestesiados do passado e do presente, mas o que senti me causou uma paz enorme. Fomos surpreendidos por uma onda de bem-estar e tranquilidade.

Meu aniversário se aproxima e ainda neste ano está prevista a minha aposentadoria. Quero cada vez mais conseguir ficar no presente: observar o que estou sentindo (ou não estou sentindo!); ouvir meu coração batendo, perceber-me saudável, deixar as preocupações de lado e buscar a sabedoria em todos os sentidos. Não me deixar abater por qualquer besteira, não sofrer com conversinhas atravessadas, com alfinetadas no facebook, nem ficar tentando adivinhar o que os outros estão pensando.

Quero ser mais tolerante com os outros, porém, mais generosa comigo mesma. Não me cobrar tanto, não supor tanto, não me magoar à toa.

É preciso expulsar os fantasmas,  as limitações e os medos que  volta e meia  nos assombram. Enquanto me empenho na tarefa de crescer, quero estar atenta, aproveitar e viver intensamente os deliciosos instantes.