É difícil pensar na volta ao trabalho quando ainda estamos gozando as férias. Não
há nada pior do que entrar nas grandes lojas e livrarias e se deparar com a faixa “Volta às
aulas”, com todas as ofertas gritando em nossa direção. Isso porque as férias significam,
antes de qualquer coisa, tempo livre – livre do relógio, das obrigações, dos compromissos.
É quando podemos visitar os familiares, viajar, ler um bom livro, ver um filme,
desfrutar da companhia das pessoas queridas, sem nos preocupar com a ditadura das horas.
Além disso, é o momento em que aproveitamos para arrumar a casa – fazer faxina,
arrumação nos armários, cuidar do jardim, mudar a decoração.
Existe uma visão desencantada, em nossa cultura, com relação ao trabalho. Desde
Platão, com a máxima “o homem é um ser racional”, ficou estabelecido que alguns homens
nasceram para realizar uma atividade intelectual; outros, para o trabalho braçal. Aristóteles
chegou a afirmar que os escravos já vinham ao mundo com uma conformação física
apropriada para o trabalho mais pesado.
Numa sociedade de origem escravagista como a nossa, trabalho é considerado um
fardo, e na religião cristã, temos a passagem bíblica da expulsão de Adão e Eva do paraíso,
que ilustra bem essa questão. Enquanto para Eva foi designada a dor do parto, para Adão
foi dito “ganharás o teu pão com o suor do teu rosto”. Aqui, o trabalho é visto como
Entretanto, a volta ao trabalho nos exige um otimismo saudável, um estufar o peito
com a expectativa de que, neste ano, as coisas vão melhorar. Não fomos treinados para ver
que o trabalho serve para mostrar ao mundo e a nós mesmos quem somos, do que somos
capazes, quais as nossas habilidades e talentos.
Dessa perspectiva, devemos olhar o trabalho como algo que rege nossa rotina; é por
meio dele que descobrimos nosso potencial; é ele que orienta nossos horários, determina
nossa qualidade de vida – onde moramos, o que comemos, como nos vestimos. Através do
trabalho, conhecemos pessoas, ampliamos nosso círculo de amigos, crescemos como seres
humanos porque somos desafiados a fazer mudanças, rever posições e conceitos.
Além disso, existe a laborterapia. Se nos encontramos em crise, com problemas a
resolver, tristezas, frustrações, ao realizarmos um trabalho, nos desligamos das
preocupações e, aos poucos, vamos nos fortalecendo para enfretamento dos obstáculos.
Todos nós vimos ao mundo não só para descansar, comer, beber e dormir. Temos
algo maior a realizar, um propósito, uma missão. Feliz daquele que parte com a certeza de
que realizou a sua obra. Portanto, se conseguimos perceber que o trabalho representa a
nossa participação na construção do mundo, certamente voltamos com ânimo redobrado,
lembrando que férias são uma maravilha, mas poder voltar ao trabalho é uma bênção.