Nós nos encontramos no corredor do supermercado; as duas visivelmente apressadas. Foi uma grande alegria, pois há muito tempo não nos falávamos. Como é uma pessoa muito querida, eu quis logo contar uma novidade importante para mim, mas para minha surpresa, quando dei início à história, ela já emendou: “Quem passou por isso também foi meu filho, você não imagina...” Contou com detalhe cada façanha do filho, falou sobre seu talento, do quanto o seu trabalho lhe rendera elogios e eu, só escutando.
Depois de alguns minutos, ela consultou o relógio, disse que tinha uma consulta marcada e já estava em cima da hora. Nós nos despedimos e eu acabei não dividindo minha “novidade” com ela.
Tenho notado esse comportamento cada vez mais frequente. Muitas pessoas querem apenas falar de si; não se preocupam em ouvir o outro. Amizade pressupõe troca; é bom você contar algo e ouvir a opinião do outro a respeito do que você disse, perceber interesse na conversa, um simples gesto afirmativo ou negativo. Uma observação sincera – mesmo que desagrade – nos faz sentir vivos.
Lembro-me de uma vez que estava em viagem e encontrei uma ex-colega do tempo de faculdade que, feliz em me ver, me convidou para ir até sua casa pra tomar um café e conversarmos um pouco. Durante todo o tempo que estive lá, ela contou minuciosamente um problema de saúde recém-descoberto de sua filha, toda a trajetória – dos primeiros sintomas ao tratamento, passando por todo estresse da família. Se o nosso encontro foi de duas horas, nessas duas horas, só ela falou e sobre o mesmo assunto. Não quis saber de mim, do meu trabalho, de meus filhos, da minha vida, nada! Ali me senti invisível.
Nessas horas, fico pensando para serve um amigo, se não para dividir alegrias e tristezas, problemas e conquistas. Alguém com quem a gente possa gargalhar ou “chorar as pitangas”, confessar nossas fraquezas, expor nossos medos e falar de nossos sonhos. Mas tudo isso di-vi-di-do.
Nesses tempos de tecnologia cada vez mais presente em nossa vida, é difícil ganhar a
atenção de quem está ao nosso lado. Com um aparelho nas mãos, quem está longe sempre ganha, até a hora em que essa pessoa distante se aproxima; aí ela é trocada por outro que está distante. A impressão que se tem é de que ninguém mais precisa da companhia do outro. A tecnologia nos conecta com o mundo e isso basta!
Porém, cada vez mais a gente vai ficando só. Vamos nos comunicando mediados por celulares ou computadores e, quando nos encontramos de verdade, há tanta vida sufocada dentro de nós que mal percebemos quem está a nossa frente.
Ainda bem que tenho este espaço no jornal. Aqui escrevo e quem “me lê”, frequentemente se manifesta. Isso me dá a certeza de que eu existo.