O conto se chama “Luz de lanterna, sopro de vento”, de Marina Colasanti. Um homem vai para guerra e deixa sua esposa à espera. À noite, para indicar o caminho, ela acende uma lanterna e coloca do lado de fora da casa. Mas para sua surpresa, quando amanheceu, a luz da lanterna estava apagada. Consolou-se pensando no vento da madrugada e, assim, aquietou seu coração.
Na segunda noite, repetiu o feito, iluminando o caminho para o seu amado, mas novamente, na manhã seguinte, a luz estava apagada. Isso aconteceu durante meses. Numa noite, antes de entrar, viu um vulto de homem a cavalo se desenhar no horizonte. Era seu marido – que mal desceu do cavalo, apagou a lanterna e disse para ela não acendê-la mais, pois vendo a lanterna de longe, ele não conseguia fazer o que era preciso. Despediu-se, montou no cavalo e partiu. Meses depois, ao entardecer, ela de novo viu o vulto; era o marido de volta. Felizes entraram, mas logo ele voltou e, então, acendeu a lanterna.
Como o guerreiro da história, já parti duas vezes – a primeira, quando fui estudar em São José do Rio Preto; a segunda, quando me casei e morei dois anos na cidade vizinha de Estrela d’Oeste. Porém, nas duas vezes, também deixei a lanterna apagada, tinha projetos e sonhos a realizar, mas novamente como o guerreiro, sabia que a volta era certa.
Mesmo gostando muito de viajar, conhecer lugares e pessoas, o meu lugar é aqui. Meus pais vieram para cá quando se casaram, tiveram seus seis filhos, construíram sua família e sua vida nesse chão. Eu poderia ter traçado outro destino, talvez tivesse me dado melhor em outro canto, mas acabei trilhando o mesmo caminho: aqui me casei, tive meus dois filhos – agora um neto! – realizei o meu trabalho e meus sonhos.
A qualquer lugar onde vou, encontro pessoas amigas; me sinto em casa. Os filhos vão de uma festa a outra, depois para uma conveniência, acabam a balada comendo um pastel na feira; todo mundo se conhece.
Orgulho-me de minha cidade e de sua gente. Sempre tive aqui boas oportunidades, fiz muitos amigos e tenho dado minha contribuição.
Há um provérbio chinês que diz “Antes de começar a mudar o mundo, dê três voltas na sua casa”. É o que eu tenho feito modestamente na minha cidade e - de lanterna acesa - para iluminar caminhos e aquecer corações.