Na foto, elas estão lindas. São cinco senhoras sentadas num Café, com sorriso no rosto e expressão de conversa animada. Os cabelos tomados pelo tom prata, arrumados de forma elegante. Duas com colares, combinando com a roupa. Está formada “a ciranda das mulheres sábias”.
Dentre elas, estão minha mãe e sua amiga; inseparáveis! Uma vez por semana – sábado ou domingo - as duas combinam de almoçarem juntas. Variam de restaurante - de vez em quando até pegam a estrada. De lá, vêm para o shopping, andam pelas lojas, fazem compras – uma anima a outra, que toma coragem e também gasta! Depois, param em outra loja, em outra, em outra... Conhecem as proprietárias e as vendedoras; são convidadas para os “bazares”, para as comemorações de aniversário das lojas - regadas à champanhe - ou simplesmente para entrarem e verem as novidades.
Dali, vão para o café, acomodam-se e esperam as amigas chegarem. A roda vai aumentando aos poucos. A conversa varia entre os feitos bem sucedidos dos filhos, dos netos, lembranças dos velhos tempos, receitas de comida, de remédio, as novas dietas, livros que estão lendo, as próximas ou as mais recentes viagens e por aí vai. Alguma filha ou sobrinha passa por ali e tira uma foto, publica no facebook. A família de cada uma curte, comenta, compartilha aquele momento de alegria.
Quando posso, sento-me com elas e aprendo lições preciosas. Sábias, elas conhecem o que é importante carregar na bagagem e o que deve ser descartado enquanto caminhamos pela vida. Viúvas, com os filhos casados, já não precisam mais cuidar de ninguém, além delas mesmas. Acumulam uma gama enorme de experiências e não se esquecem de que são mulheres e que são belas.
Vaidosas, elas vão me ensinado a envelhecer com leveza. Cada uma em sua casa aprendeu a viver na solidão. Transita sem sofrimento pelos cômodos cheios de retratos dos entes queridos e registros dos momentos que ficaram marcados para sempre. Cuidam de suas plantas, assistem as suas novelas e rogam a Deus pela felicidade dos filhos e dos netos. Quando se dispõem a cozinhar, deflagram literalmente uma festa dentro de nós. A emoção vai desde a mesa arrumada até o aroma e o sabor dos pratos - que nos remetem à infância, quando toda família estava reunida.
Estou lendo A ciranda das mulheres sábias, de Clarissa Pinkola Estés e tenho me lembrado delas a cada página. Segundo a autora, a mulher sábia é aquela que vive intensamente, porque assim inspira outras pessoas. Compara algumas mulheres às grandes árvores, “aquelas que, apesar de tudo o que tenha dado errado, conseguem enganar a todos – e sobrevivem para contar e ensinar sobre seu admirável retorno à vida.”
Ao ver as amigas juntas, lembro-me de suas batalhas, de suas dores, dos desafios e constato que sobreviveram a tudo. Com sua vontade de viver, elas me dão a mão e me ajudam a atravessar a mata escura. Acendem sua luz na minha estrada e restabelecem a minha esperança por meio de conselhos, cumplicidade e colo.
Vida longa a todas elas para que continuem a me encantar com esse bem viver. Ainda preciso de muitos cafés à sombra dessas árvores.