Crônica
O tema do amor já foi abundantemente explorado pelos poetas, filósofos, escritores; todos têm uma definição desse sentimento. Entretanto, mesmo estando com o manual de instrução em mãos, quando ele chega, nos sentimos desnorteados, perdidos, completamente entregues à sua magia.
Com o passar do tempo, percebo que a soma de leituras que faço e experiências que vivo modificam minha concepção sobre o que seja o amor e lançam uma nova luz – talvez, nem tão nova assim sobre a relação amorosa.
Durante muitos anos, casava-se com a idéia de que o amor seria eterno e o casamento era uma união que, se Deus uniu, o homem não deveria separar. Na década de 80, segundo a sexóloga Maria Helena Matarazzo, houve a revolução sexual e muitos casamentos vieram abaixo porque as pessoas entenderam errado o que era liberdade. Dessa geração de pais divorciados, vieram os filhos que, desencantados, ficaram com medo do casamento e optaram por morar junto. Na década de 90, afirma a sexóloga, as mulheres voltaram a falar em casamento e a ter a fantasia de encontrar seu príncipe encantado.
Entretanto, o casamento hoje é visto como espetáculo; o que importa é o show apresentado no dia da festa. A preocupação com os detalhes é tanta – bandas, djs, bufês, cinegrafistas – que perde-se o foco, o compromisso que está se estabelecendo e as implicações que essa nova fase da vida requer.
Numa sociedade em que impera o consumismo, as aparências, o prazer imediato, a pergunta é: o que fazer para ter uma relação bem-sucedida?
No livro Amor companheiro, Francisco Daudt da Veiga afirma que “a amizade é a única coisa capaz de manter um casamento feliz por décadas”. Nessa união, é preciso ver o outro como um amigo, cúmplice de nossas desventuras, o aliado nas nossas lutas diárias, aquele que nos ouve e nos respeita mesmo quando vacilamos. Dessa forma, o casamento passa a ser o espaço onde impera a segurança, imprescindível na construção de nossa família e de nossos sonhos com o futuro.
Casamento, nessa perspectiva, torna-se sinônimo de retaguarda, acolhimento, tolerância; o lugar das confidências e onde não temos medo de mostrar nosso lado menos fotogênico e mais verdadeiro. Se isso ocorrer, haverá mais chance de encontrarmos a via certa para momentos de felicidade.
Quanto à estabilidade, amor eterno, felizes para sempre, é melhor não sonhar com isso. O homem é mortal e assim o são seus sentimentos; não existe certificado de garantia no casamento. Mesmo porque, o mundo é caos, movimento, confusão, quem está seguro de alguma coisa?
Entretanto, vale a pena arriscar porque talvez seja essa a maior fonte de sentido na nossa vida. Como disse Clarice Lispector: “Amar os outros é única salvação individual que conheço; ninguém estará perdido se der amor e, às vezes, receber amor em troca”.