“O amigo certo das horas incertas”

20 de Agosto de 2025

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“O amigo certo das horas incertas”

 

            Nós estávamos no aeroporto em São José do Rio Preto. Minha filha e meu neto iam  para Belém; tudo certo, passagem comprada, chegamos com antecedência e só então descobrimos que, para viajar, meu neto precisaria de um documento que nós não tínhamos. Tentamos de todo jeito e a única alternativa era adiar a viagem para providenciar o tal documento.

Naquele instante de total impotência diante dos fatos, vimos entrar no aeroporto o dr. Evandro Pelarin. Mesmo sem sermos amigos íntimos, não vacilei; me dirigi até ele, contei o que se passava e pedi sua ajuda. Na sua humildade, perguntou: “Mas será que eu posso resolver isso?” Então, orientado pelo funcionário da agência aérea, com uma folha de sufite e uma caneta bic redigiu ali o documento autorizando a viagem. Por coincidência, partiram os três no mesmo voo para Campinas.

                Minha sogra, com mais de 90 anos, tinha um sonho: conhecer o famoso juiz de Fernandópolis – autor de tantos belos projetos. Ela o admirava; então, um dia, minha cunhada o viu numa padaria e contou a ele sobre o sonho de minha sogra. No mesmo momento, ele  passou o número de seu celular e disse que poderia marcar uma visita. Em poucos dias, lá estava dr. Evandro batendo “altos papos” com a d. Maria,  que fez questão de lhe mostrar os panos de prato bordados por ela, com os quais ela o presenteou. Meses depois, ela faleceu e quando lhe dei a notícia, mostrou-se sinceramente triste por perder sua  nova amiga. 

                Na escola, alguns alunos passaram da medida; várias providências foram tomadas, sem muito sucesso. Início de ano é sempre muito difícil; os alunos às vezes não nos conhecem e até estabelecermos vínculos de amizade demora. Numa manhã um tanto difícil, na ausência do diretor – que estava em consulta médica em outra cidade – solicitei permissão para falar com o dr. Evandro – pedir-lhe um socorro mesmo! Conhecia já o trabalho que ele fazia em algumas escolas e o quanto tentava resgatar a autoridade do professor em cada uma das situações.

Dessa vez, não foi diferente: entrou em contato com o diretor, estudou cada caso dos alunos mais indisciplinados, e na semana seguinte, quando eu ministrava aula na referida sala, ele chegou. Com um discurso firme, deu o seu recado, convidou alguns alunos para uma conversa particular e sua passagem por lá serviu para que todos os outros refletissem quanto à conduta dentro da escola.

Meus filhos eram adolescentes na época em que foi implantado “o toque de recolher”, e eu agradecia a cada fim de semana pelo limite imposto para os menores, que devolvia meus filhos seguros mais cedo para casa.

Agora ele se foi; levará seu trabalho, seus projetos e suas belas ideias para outra cidade. Envolvida no meu corre-corre, perdi a oportunidade de me despedir dele, de agradecer pela sua generosidade – sempre pronto a nos atender em nossos desafios diários – quer no trabalho, quer na conversa com uma senhora idosa, quer nas avenidas mais movimentadas de nossa cidade ou nos aeroportos da vida.

 Na verdade, não tenho como agradecer pelo tanto que fez por nós. Lembro-me que de que a única frase que me veio à mente, quando ia saindo da escola, foi: “Se um dia o sr.  precisar de alguma coisa e eu puder ajudar,  pode contar comigo”. Falei aquilo, mas depois me senti ridícula - imagine!...

Tudo na vida vem em ciclos, tudo muda. É chegada a hora de semear em outras lavouras. Que Deus o acompanhe e faça por ele tudo o que ele fez por nós; que lhe dê  segurança, força e amparo.  Que lá encontre novos e bons amigos, leve a certeza da missão cumprida e continue seu bom combate.

Um grande abraço, dr. Evandro Pelarin.