Uma série de reportagens foram exibidas no Jornal Nacional nesta semana mostrando o retrato da Educação no Brasil. Nenhuma novidade. As mazelas da sala de aula, o nível de qualidade do ensino, a falta de estrutura e os baixos salários que não atraem bons profissionais para área são nossos velhos conhecidos. O buraco é mais embaixo; falta-nos todo tipo de educação, a começar pela de base - religiosa e filosófica –a que mostra o outro como alguém digno de respeito, seja ele quem for.
O que seria a crise da água e da energia se não falta de educação? E a corrupção, as penitenciárias lotadas, os acidentes resultados da combinação álcool e direção? Sim, falta educação no sentido de responsabilidade, de conscientização, de previsão e investimento no futuro.
Chamam a minha atenção os slogans criados pelas agências publicitárias que subestimam nossa inteligência. O mais recente do Governo Federal é “Brasil, pátria educadora”. Antes era: “Brasil, um país de todos”, “todos” quem? Só se for de idiotas, porque somos enganados a todo instante e não aprendemos. E que tal: “País rico é país sem pobreza?” Depois de ver tanto dinheiro desviado pela corrupção, que poderia sanar todo tipo de problema social, vem esse cinismo.
A crise da água está aí e não adianta dizer que esse é um problema ambiental, mundial. Estava previsto; em outros países, providências foram tomadas e estão conseguindo contornar a situação. Na verdade, “todos” estamos ficando para trás, quem é que se importa?
Aí vêm outro slogan: “Todos pela educação”; de novo, “todos” quem? Quem no Brasil está preocupado com a educação? O novo ministro dessa área, Cid Gomes, já declarou que professor ganha mal mesmo, quem quiser ganhar bem, que arrume outra profissão. Além de ser desanimador, falou besteira, a receita pode ser outra: quem quer ganhar bem, rouba, como tantos estão fazendo em nosso país. Ontem, o jornal mostrou em Curitiba, dinheiro sujo guardado em cofre de empresas ligadas ao escândalo da Petrobras; a Polícia Federal prendeu os suspeitos de envolvimento. E isso está acontecendo todo dia: é delação premiada, são detalhes e dados concretos, demissões, um índice de corrupção, pelo visto, “maior do mundo”. Aí, em entrevista, Rui Falcão, presidente do partido do governo, tem coragem de dizer que estamos vivendo um processo de criminalização, que nada daquilo é verdade. Difícil, hein?
Na minha adolescência, li “Olhai os lírios do campo”, de Érico Veríssimo. Lembro-me de uma reflexão proposta pelo autor: “Tenho pensado muito na fúria cega com que os homens se atiram à caça de dinheiro”... Roubar é roubar e pronto, mas os números assustam, porque demonstram duas coisas: a cegueira, que emburrece as pessoas, pois não se contentam com pouco! - e a certeza da impunidade. Érico Veríssimo não tinha a menor ideia de a que ponto chegariam alguns brasileiros que vivem “à caça de dinheiro”.
Fica claro que realmente é preciso investir em educação, em todos os níveis. Além da sala de aula, dos índices de aprendizagem previstos em relatórios, precisamos ser uma pátria educadora, sim, em que todos deem bons exemplos, ajudem a formar cidadãos conscientes e que isso não seja apenas um slogan cínico de governo.