Agora são 5 horas da manhã em Natal e o dia já está claro. Da sacada do quarto do hotel vejo o mar revolto por trás dos coqueiros que não param de balançar suas cabeleiras. A marca registrada desse lugar é o vento; venta muito, o tempo todo, a ponto de tirar o cigarro da boca dos fumantes. Fomos fazer um passeio de barco e os chapéus vendidos já vinham com elástico para prender embaixo do queixo. Nos restaurantes, as toalhas também ficam amarradas para não saírem voando.
No café da manhã, tem tapioca de queijo, de doce de leite, de goiabada. Há o cuscuz, feito com farelo de milho; paçoca, uma carne de sol desfiada; macaxeira, suco de cajá, além de frutas e bolos já conhecidos.
Na comida, a manteiga da terra confere um sabor especial. Nos restaurantes “Manary”, “Farofa d’água” e “Camarões” é possível comer frutos do mar em pratos bem elaborados e gostosos. No “Tábua de carne”, as opções de carne de sol fazem sucesso.
Por todo lado, encontramos feira de artesanato; a mais conhecida fica num prédio antigo, onde funcionava uma penitenciária. São redes, bolsas, toalhas de mesa, enfeites, enfim, uma variedade de presentes de Natal.
Conhecemos a praia de Pirangi, em Parnamirim, a 12 km de Natal. Lá está o maior cajueiro do mundo – a árvore cobre uma área de aproximadamente 8.500 m². Daquela praia, saímos para um passeio de barco para umas piscinas naturais em alto-mar. Lá, usamos papete para não machucarmos os pés, pois andamos sobre corais, que podem ser vistos com equipamento de mergulho. Um espetáculo imperdível!
O sotaque e as expressões usadas pelos potiguares me encantam; tudo é “legal dímais” – o “i” pronunciado com a língua atrás dos dentes: “interessantí”, “importantí” e o argumento deles faz sentido: t+a= ta, t+e= te, t+o= to, t+u=tu, então t+i=tí e não “tchi”, como falamos –gen- /tchi/. Tudo é “da moléstia”; o “cabra” tá “arretado” e, por favor, “não se avexe”.
Amanhã vamos conhecer as dunas, tão bem retratadas na novela “Tieta”, baseada na obra de Jorge Amado, lembram? Ficam na praia de Genipabu, onde buggies são alugados para passeios “com” ou “sem” emoção.
Mas da minha cidade tenho recebido notícias - quase diárias – da perda de amigos queridos. Segundo John Donne “A morte de cada ser humano me diminui, porque faço parte da raça humana”. Aqui, de frente para o mar, sob o impacto de tão triste constatação, a música do Lulu Santos nunca fez tanto sentido: “A vida vem em ondas como o mar/ num indo e vindo infinito”. A certeza de não poder mais vê-los somada ao medo do “Nada do que foi será / de novo do jeito que já foi um dia” me assustam. Difícil lembrar da instabilidade de tudo e a fragilidade de todos diante do script que já foi escrito em algum lugar para cada um de nós.
Sim, estamos menores, mais frágeis, vendo a vida “como uma onda no mar...”