Férias: descanso, descompromisso, desordem na rotina. O que mais me agrada é ficar livre dos relógios; começo trocando o dia pela noite. Parece que tudo fica melhor à noite, mais interessante: os programas da TV, os passeios pelo facebook, as leituras de jornais, revistas, livros, as palestras no Youtube, os bate-papos no whatsApp... tudo ganha ares de conversa íntima com os “últimos da festa”. Minha insônia deixa de ser problema e começo a acreditar que o meu organismo é que trabalha em outra frequência.
Depois das festas em família, encontros, desencontros e até os “não-encontros”, a vida volta ao normal e, nesse momento, olho mais para minha casa. É hora de mexer nos canteiros, nos vasos; desmontar a árvore de Natal e encontrar um lugar para guardá-la; arrumar armários, separar o que uso daquilo que posso passar adiante, jogar fora o que não serve mais e, principalmente, é hora de enfrentar o passado – aquele que está guardado nas gavetas.
Tenho muita dificuldade de me desfazer das coisas; os objetos contam histórias e parece que descartando-os, meu passado vai virando cinzas. Mas é preciso realizar essa tarefa: desocupar espaços para dar lugar a novas experiências.
Em uma das gavetas, além de clipes, borrachas, moedas, canetas, chaveiros, cds antigos, encontrei cartões postais de amigos e familiares que se lembraram de mim em suas viagens. Havia também cartões de Natal, de aniversário e aqueles que acompanham flores em datas especiais. Uma galeria de pessoas queridas foram desfilando pelas minhas mãos. Fotos antigas da nossa família, todos com cortes de cabelo desatualizado, roupas estranhas, acreditando que estavam no melhor estilo.
Em outra, havia um saquinho com os cartões de presente do meu casamento – tenho todos. Foi uma viagem ler aqueles votos de felicidades de tanta gente querida - muitos já partiram. Em outro envelope, os 26 telegramas que recebi naquele 31 de outubro - era elegante mandar telegrama, mesmo morando na mesma cidade que os noivos.
Meu convite de formatura, uma foto da nossa casa antiga, carteirinha de estudante, carteirinha do clube, cartinhas e desenhos feitos pelos filhos... flashes do passado, ah, o passado!
Coloquei tudo na mesa da sala e compartilhei aquelas lembranças com a família; de cada item vinha uma história. Há muito tempo não abria aquelas gavetas e ali revivi momentos inesquecíveis da minha vida.
Ao final, poucas coisas foram para o lixo. A maioria eu reorganizei, troquei de envelopes - agora de plástico – algumas fotos e cartões em caixas e tudo voltou para as gavetas. Essa viagem de férias já está garantida. Não dá para descartar o passado!