Só rindo...

20 de Agosto de 2025

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Só rindo...

 

            É engraçada a relação que as pessoas têm com os limites da realidade mostrados pelos meios de comunicação. Quando criança, todo domingo íamos ao cinema, onde o filme era, invariavelmente, de cowboy, e eu  ficava lá até o momento daquelas famosas cenas em que o mocinho era queimado, pelo bandido,  com o marcador de gado, ou daquela outra em que o bandido enterrava a família inteira do mocinho, deixava só a cabeça de fora e então passava com o cavalo entre eles, levantando poeira. Naquela hora, um dos meus irmãos mais velhos tinha que sair do cinema para me levar embora — eu, chorando pois  acreditava que tudo aquilo realmente era verdade. Em um desses filmes, o tio de um amigo que estava no cinema pela primeira vez, quando viu um índio  de uns dois metros de altura apontando a   flecha  para ele, não vacilou, saiu correndo... sumiu!

            Hoje conheço várias pessoas que todos os dias respondem “boa noite” pro William Bonner e para Fátima Bernardes  e no tempo da faculdade, morei com uma senhora muito querida que afirmava que as novelas antigas é que eram boas, pois para ela, as novelas de época  eram feitas realmente naquelas datas focalizadas.

             Lima Duarte contou em uma entrevista que, quando criança, morava numa cidadezinha em que o pai dele era a única pessoa a ter um rádio. Isso o tornava tão importante que quando resolvia se sentar para ouvi-lo, primeiro ele lavava a mão e vestia um terno.

            A mãe de um amigo meu foi a um desses grandes parques, e entrou em um cinema em que a cadeira chacoalha conforme a cena para os lados, para frente e para trás. No momento em que a cena mostrava a simulação da descida de uma montanha russa, a cadeira começou a pender e a mulher, com medo, agarrou a bolsa que estava no chão para que ela não caísse, não é ótimo?

            Meu cunhado conta que no seu tempo de estudante, foi ver um filme chamado Tenda vermelha. Era a história de um avião que caiu numa floresta e os sobreviventes passaram semanas tentando  ser encontrados. No final,  um avião sobrevoa a região e todos saem e começam abanar os braços para serem vistos. Naquele momento, meu cunhado  percebeu um movimento e se virou;  quando ele viu, a garota, que estava ao lado,  também estava abanando os braços.

            Não sei se isso é ingenuidade ou puro reflexo – confesso que às vezes também falo “boa noite” pro William Bonner e e não acho difícil eu também agachar para pegar minha bolsa em uma situação como aquela – pois quando estou dirigindo, e vou estacionar ao lado de uma árvore e o galho está baixo,  me pego baixando a cabeça, pode?

            Agora, há pessoas que fazem coisas para sacanear mesmo. Um amigo do meu irmão viu um filme bíblico em que, em determinada cena, Moisés ia andando por uma estrada, e depois de algum tempo, ele parava e olhava para trás. Este rapaz  contou os passos de Moisés, e em todas as sessões, ele esperava e, no penúltimo passo, ele gritava: “Ô Moisés!” e então, o personagem se virava. Quem aguenta isso?

            Um amigo nosso pegava o jornal e lia o resumo de todas as novelas. Então, quando ele ia para a fazenda,  o pessoal, sem acesso à revista ou jornal, ficava impressionado com a inteligência dele, pois na hora das novelas, ele e ficava “adivinhando” tudo o que ia acontecer.

            Coisa parecida faz um colega da faculdade que estuda em Araraquara. Lá ele assiste ao lançamento de tudo o que é filme. Aí, ele manda um e-mail pros amigos contando o final de todos eles. Nessas horas, por mais que  a gente não queira, a curiosidade fala mais alto, e aí ... não adianta xingar!

            Que bom quando essas situações  trazem um pouco de humor e  descontração para o nosso dia-a-dia. Enfrentamos tantos problemas e dificuldades; a vida real, às vezes, parece tão difícil de ser encarada, que  é sempre bem-vindo aquilo que  nos salva do peso de  tanta pressão, compromisso, responsabilidades, enfim, do mundo sério e indigesto em que vivemos.