No último dia 15, o calendário nos fez lembrar do dia do professor. Não quero falar da profissão em si – fica suspeito eu falar da minha própria atividade - mas quero descrever a importância de um lugar que há em todas as escolas: a sala dos professores.
Logo que me formei, entrava nessa sala e me sentia pouco à vontade. Muito jovem, quase não conhecia ninguém, nem como funcionava direito o andamento dos trabalhos; ficava meio perdida diante das pessoas que pareciam amigas de longa data. Aos poucos, fui me integrando e me adaptando aos entra e sai de colegas que ingressavam no cargo; outros que vinham para substituir alguém e, outros ainda, que saíam pela aposentadoria.
Ali fui construindo amizades. A convivência diária transforma simples colegas em melhores companheiros e, ano após ano, fomos crescendo, aprendendo, amadurecendo, um apoiando o outro.
Nossas famílias mal conhecem aqueles de quem falamos na hora da refeição; não sabem quem são os protagonistas das histórias que contamos. Nas festas de fim de ano, sempre apresentamos nossos filhos, marido, esposa...mas pouco nos encontramos até a festa seguinte, fica difícil lembrar quem é quem.
No início da carreira, na sala dos professores, comprei de um representante de uma editora uma Bíblia e uma coleção de contos de fadas. Eu era solteira, estava comprando as coisas para o meu casamento e já pensava na bênção do meu lar e nos filhos que eu queria ter -que também são bênçãos.
Na sala dos professores, contamos as travessuras de nossas crianças, falamos sobre as empregadas que tínhamos, sobre as viagens que fizemos, contamos nossos sonhos e fracassos. Na sala dos professores, transformamos nossos colegas em cúmplices e contamos nossos dramas mais íntimos.
Nas sala dos professores, nossos maridos trabalharam, nossos filhos cresceram, se formaram, se casaram. Passamos por cirurgias, licenças de saúde, campeonatos, maratonas, concursos e provas. Muitos entes queridos se foram e mais uma vez, nos unimos para nos fortalecermos uns com os outros.
Agora, que estou quase me aposentando, cansada, todos os dias me animo em acordar cedo e enfrentar a luta diária quando penso na sala dos professores. Lá estão meus amigos queridos. A ideia da aposentadoria, por mais sedutora que seja, me assusta. Penso nos presidiários que, ficando muitos anos na prisão, não sabem mais viver aqui fora. Saberei eu viver sem meus amigos? Não adianta dizer que a amizade continua; muda a rotina, mudam-se os interesses, cada um vai para um lado.
Na sala dos professores, os alunos passam, suas histórias passam. Ensinando um caminho para eles, vamos também trilhando o nosso. Na sala dos professores, as notícias do mundo passam, a vida dos outros passa, e lá, sem percebermos, nossa vida também passa.
