Minha amiga reclama, há dias, que está com uma forte dor não muito bem localizada. Passou por consultas, fez endoscopia, colonoscopia, já tomou diversos chás, fez promessa, foi à benzedeira e nada. Nesta época do ano, a maioria das pessoas está bem cansada, e isso está evidente no rosto de minha amiga.
Como ela já tentou de tudo, sem sucesso, dei um conselho: que ela passasse uma tarde num motel; e mais, que ela fosse sozinha. A maioria das pessoas associa motel a sexo – geralmente com uma pitada de coisa proibida - mas na verdade, o motel - que significa hotel de motorista – surgiu com o propósito de garantir segurança e repouso para viajantes cansados. Uma vez, em Rio Preto, depois de uma consulta, pegaria um ônibus para Belo Horizonte só à noite, então fui para um motel com minha mãe. Sinceramente? Acho que esse foi o presente mais original que dei a ela.
Por que ir sozinha? De modo geral, a sociedade acha que se estamos sozinhas, estamos mal. Entretanto, muitas vezes, a gente sai para um restaurante ou para um café desejando mesmo ficar à toa, olhando para o nada, vendo a vida passar, ou então, a gente quer olhar as novidades do Facebook, mandar os “parabéns” para amiga aniversariante do dia, ou ligar para mãe para bater um papo, enfim... decidir o que fazer dentro das opções que nos dão prazer. Mas nem sempre isso é possível.
As pessoas já acham que você não pode ficar sozinha, “coitada!” E aí se sentam e desfiam toda a desgraceira do mundo na sua cabeça. Ou então, aquele senhor que adora contar vantagem, senta-se ao seu lado, a pretexto de lhe fazer companhia e fica contando quais foram as transações imobiliárias que ele fez nos últimos cinco anos. E você, com aquela cara interessadíssima no assunto, fica torcendo para que o terremoto do Chile chegue logo aqui e acabe de vez com aquele tormento. Depois disso, a gente volta correndo para casa, querendo se trancar no quarto para ter um pouco de sossego e aparece um cara com um caminhão vendendo melancia, com um megafone dizendo o quanto a melancia está docinha. Ou a nova empregada bate à porta do quarto para saber se o pepino para a salada deve ser cortado em rodelinhas ou em tirinhas, que tal? O telefone toca duas vezes: uma é de um banco, oferendo um cartão – mas isso eu resolvo fácil: digo logo que sou professora e pronto! Na segunda vez, uma voz me avisa, numa longa mensagem, que devo pagar urgentemente a conta do telefone para evitar problemas.
Percebem como numa hora dessas a gente merece uma tarde no motel, com a gente mesma? É claro que é muito bom ir a um lugar desses acompanhado da pessoa que a gente ama, mas se estamos estressadas, é melhor nem tentar. A sintonia entre os parceiros precisa ser perfeita, senão... um gosta de ligar o ar condicionado, o outro detesta. Humm...Um gosta de ficar no escuro para relaxar, o outro quer luz acesa. Ai ai ai...Um quer ver um filminho “daqueles”, o outro quer tv desligada. Tudo bem, então vamos para a banheira: um adora banho quente, o outro pensa que aquilo é uma piscina, quer água fria. E na hora de ir embora, a mesma coisa: um quer ficar lá para o resto da vida, o outro quer ir logo, porque “já tá bom”, não é assim?
Não sei se é idade, que deixa a gente chata e seletiva, ou se a minha depressão que ameaça entrar em recidiva, mas ando muito irritada. Talvez, para um jovem possa parecer absurdo, mas depois dos cinquenta, eleger um motel como se fosse um spa e curtir umas horas a nossa própria companhia pode ser um programa muito gratificante. Espero que minha amiga aceite minha sugestão e, para não ter problemas, que avise o marido, claro!