“Éramos seis”

20 de Agosto de 2025

Compartilhe -

“Éramos seis”

 

               De repente, na tela de meu computador, uma foto me tirou do estado de alienação em que me encontrava. No feed de notícias do Facebook, da página de minha amiga Peta Matos, saltou uma foto da piscina grande do antigo Tênis Clube. Em poucas horas, 195 curtidas e comentários cheios de saudades.

               Um filme passou na minha cabeça. Naquela época, na cidade ainda pequena, só havia um clube e lá todos se encontravam. Quantos namoros começaram naquelas arquibancadas? Quantas amizades foram construídas naquelas quadras e piscinas?

               Meus irmãos e eu íamos religiosamente todas as tardes para o clube e chegávamos antes das 14h, quando os portões ainda estavam fechados. Ficámos esperando do lado de fora, com uma toalha enrolada debaixo do braço e a carteirinha – sem a qual, não entrávamos - até o momento em que o sr. Bizelli chegava, de chapéu, com as chaves na mão e liberava a entrada.

               Eu era a quinta de uma família de seis filhos; lembram daquele livro da Maria José Dupré  Éramos seis? Lá nos misturávamos com outras crianças e adolescentes, mas a todo instante nos esbarrávamos pelas escadas, bar, mesa de ping pong. Formávamos uma só turma; era comum um amigo namorar a irmã do outro.

               Aos finais de semana, acordávamos cedo e íamos pro clube tomar sol. Voltávamos depois do almoço e, à tardezinha, íamos embora com os olhos vermelhos e o cabelo verde do cloro da piscina.

               Sempre fui atrevida na água; em vez de ficar na piscina média, gostava de ir para a grande, onde me afoguei inúmeras vezes.  No outro dia, estava eu lá, de novo, na pontinha do pé, só com o nariz para fora. Juízo?...nenhum!

               Fiquei impressionada ao ler os comentários da foto: como uma imagem pôde tocar tão fundo a emoção de tanta gente. Na verdade, formávamos uma família só; todos se conheciam. Era uma época em que praticávamos vários esportes: basquete, ping pong, natação, tênis e, os meninos, também no futebol.

               Por um instante me vi sentada na arquibancada, do lado de fora da piscina grande, à sombra daquelas árvores. Meninos e meninas pulavam do trampolim. Minhas amigas de biquíni tomando sol; meus irmãos nadando com os colegas.

               Em casa, a mãe tranquila preparando a janta; ninguém com celular controlando o outro. Na volta, parávamos numa casa de esquina e pedíamos permissão para apanharmos cajá-manga.

               Sim, éramos seis! Às vezes, brigávamos, mas éramos unidos e meus irmãos sempre cuidavam de mim. Aquela foto me trouxe muitas lembranças e me propôs uma bela viagem a um passado cheio de ternura.

               Pode ser saudosismo, pois é claro que naquela época também havia dificuldades, problemas, conflitos. Mas éramos muito jovens e, naquele clube, ficávamos blindados de tudo o que acontecia fora daqueles muros.  Infância saudável, família unida, amigos por perto. Como não ter saudades?...