Foi um encontro rápido. Eu estava em frente a um banco, conversando com uma amiga, quando ele chegou. Com a alegria de sempre, saudamos nossa amizade com um abraço e ele me disse: “ Você sempre me pergunta de qual eu gostei mais e eu digo ‘de todas’, mas hoje eu vou dizer: a melhor foi desse fim de semana”.
Fiquei derretida num sorriso largo; ele falava de minhas crônicas. Naquele momento me esqueci dos conflitos em Gaza, que tem matado até crianças; do vírus ebola, na África Ocidental, aterrorizando a população; da crise da USP, que tem uma proposta de demissão voluntária; enfim, o mundo, de repente, ficou cor de rosa.
Sempre imaginei que nem todas as pessoas que me leem gostam de minhas crônicas; isso é óbvio; eu também não gosto de todos os tipos de música, de comida, de filmes etc. Temos que dar ao outro a liberdade de não apreciar o que fazemos. Aliás, em Teoria da Literatura aprendi que não existem bons autores; existem bons textos - até os grandes mestres já escreveram textos ‘menores’. Isso ocorre não por falta de tempo ou inspiração, mas pela própria condição humana - somos imperfeitos, ora!
Lembrei-me de que, há poucos dias ouvi, de um brilhante escritor, que há uma estatística envolvendo leitores e obras. Disse ele que, das pessoas que leem qualquer gênero literário, em torno de 30% gostam; 30% são indiferentes e os outros 30% não gostam.
Essa estatística não me surpreende; amo de paixão os 30% que me curtem, que me param na rua ou me abordam no facebook para dizer que gostaram da crônica daquela semana. Em qualquer profissão ou área, reconhecimento é importante; é a reafirmação do nosso valor. É isso que marca nossa passagem por este mundo, afinal mostra que nosso trabalho não está sendo em vão.
A cada abraço ou elogio me fortaleço, fico em estado de graça, como nessa tarde em que encontrei meu amigo. Inspirada, cheguei a minha casa e sentei-me ao computador: Q w e r t y u i o p a s d f g h j k l z x c v b n m. Com esse material fiz algumas combinações e... pronto!
Da minha alegria, nasceu este texto. Viva os 30%!