Lá se foi Rubem Alves, escritor, educador e psicanalista. Como João Ubaldo Ribeiro e Ariano Suassuna, Rubem fará falta. Em sua homenagem, anda circulando pela internet um belo texto de sua autoria “O tempo e as jabuticabas” – de teor filosófico: “Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora. Sinto-me como aquele
menino que ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço”.
Pois bem! Meu filho e eu acabamos de ministrar um curso extremamente marcante em nossa vida. Trabalhamos com pessoas da terceira idade e o curso foi uma grande surpresa, porque logo de início, percebemos que aprenderíamos muito mais do que poderíamos ensinar.
Quando perguntamos qual era o objetivo deles ao fazer um curso de oratória, ouvimos histórias incríveis, de gente que já viveu muito, que está com poucas jabuticabas na bacia, mas continua pensando em melhorar. Um senhor com mais de 70 anos, depois de passar por um AVC, disse que seu objetivo era voltar a fazer palestras da sua religião. Mulheres que já passaram por viuvez, problemas de saúde mantêm a alegria; uma, que já foi gari, casou-se aos14 anos, teve 11 filhos, 18 netos mantém a curiosidade pela aventura de viver.
Para mim foi uma lição estar ao lado de pessoas tão “jovens”; confesso que perdi o medo da aposentadoria, pois vejo que há ainda muita coisa boa para eu experimentar.
Mês de agosto, mês do meu aniversário e não tem jeito: nesses momentos fazemos uma avaliação de como anda nossa história, nossos sonhos, nossas conquistas. Estou pensando exatamente como Rubem Alves: “Já não tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados. (...) Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade (...)”.
Decidi que não vou permitir mais que junte poeira em minhas malas; quero viajar muito, conhecer pessoas, costumes, culturas. Parar de sofrer com pequenos desencontros, com conversas atravessadas e procurar celebrar a vida a cada manhã. Não quero estabelecer regras, ficar engessada em normas que não fazem sentido. Quero me aventurar mais, me arriscar mais, procurar saídas a cada acontecimento de acordo com a maré.
Já não tenho a pretensão de acertar sempre, estou me dando o direito de falhar. Duas certezas me acompanham: o trabalho continua sendo a mola propulsora que me joga para cima e a presença da minha família é que me sustenta e me ampara no meio de tanta correria.
Quero continuar assistindo essa turma da terceira idade; tenho muito a aprender com eles. Talvez juntar nossas jabuticabas em uma só bacia para que se esvazie mais devagar.
Mas, sinceramente, não quero ficar muito tempo me preocupando com o futuro; afinal, estou viva. Isso basta!