Gestos

Crônica

Gestos

               Ser humano é ser imprevisível, por isso a surpresa em nosso comportamento é sempre uma constante, claro! - tanto as surpresas boas quanto ruins. Prefiro me encantar com as boas e não me assustar muito com as ruins. É aquela velha história de saber filtrar os fatos; há milhões de coisas acontecendo neste exato instante. Boas ou ruins? Depende do que estamos procurando, tanto no casamento, quanto no trabalho, na família, nas relações sociais etc.

               Na Copa mesmo, vários gestos nos surpreenderam; podemos nos lembrar da mordida do jogador enfurecido ou da pancada que deram no Neymar,  mas prefiro olhar o lado bom e, nesse sentido,  destaco dois fatos : o primeiro foi a torcida do Japão, com sacos de lixo, no final do jogo, recolhendo toda a sujeira das arquibancadas.  Já que a Copa foi aqui, não deveríamos nós ter limpado “a casa”? Belo modelo a ser seguido.

               O segundo veio da seleção da Argélia. Vi no jornal que os jogadores, num gesto humano e solidário, doaram o prêmio às crianças de Gaza (“Copa 2014” – Folha, 04/7). Não é demais?

               Soube há pouco tempo que o jornalista do SBT Carlos Nascimento ficou doente. No momento que ele ia começar um tratamento para câncer, ele estava saindo da emissora porque seu contrato estava vencendo. Mas um funcionário foi até a casa de Carlos levar uns documentos para ele assinar; era a renovação do contrato. Disse que Sílvio Santos sabia da doença, mas mandou renová-lo mesmo assim.

               Miguel Falabella contou no Programa do Jô, há muito tempo, que quando se mudou para São Paulo estava sem dinheiro e passou por maus pedaços. Um dia, Tony Ramos apareceu no apartamento dele com um jogo de lençol de presente. Disse Falabella que sentia uma enorme gratidão pelo carinho do amigo.

               Esses gestos estão ao alcance de todos nós e, por menores que sejam, tornam-nos pessoas melhores. Às vezes, a gente até se esquece do que fez, mas é comum as pessoas que receberam a gentileza se lembrarem. Quantas vezes você já ajudou alguém na hora do aperto? Deu carona para quem estava com o carro quebrado ou ajudou a empurrá-lo? E no trabalho, quantas vezes deu uma “mãozinha” para quem estava começando? E quando aconteceu um acidente e você parou para perguntar se precisava de algo?

               Meu filho, começando num novo trabalho, precisava de um material e encomendou para um profissional muito competente. Quando foi buscá-lo, no dia marcado, quis saber o preço do serviço e o senhor perguntou: “Você está começando a trabalhar com isso agora?... então não vou te cobrar nada”. Acha que é possível uma mãe se esquecer disso?

               Se eu fosse relatar aqui tudo o que já fizeram por mim, faltaria espaço. Primeiro, porque tenho a humildade de pedir ajuda; segundo, porque preciso muito e sempre das pessoas que me cercam. 

               Não somos anjos nem demônios; somos humanos cheios de falhas e incertezas. Às vezes, um pequeno gesto – nosso ou do outro -  faz-nos crer que valemos a pena.