A tal da "elite"

20 de Agosto de 2025

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A tal da "elite"

 

 No dia 23 de setembro de 2005, Nelson Motta escreveu na Folha “Que elite é essa?” -  um memorável artigo que guardo até hoje. Transcrevo trechos.

“Os doutores Ivo Pitanguy, Paulo Niemeyer, Drauzio Varella, Adib Jatene e outros ilustres colegas, por talento, inteligência, estudo e dedicação, tornaram-se melhores em sua profissão – são a elite de nossa medicina.

“Assim com entre os advogados, engenheiros, dentistas, músicos, industriais, comerciantes, esportistas, e em todos os campos de atividade que contribuem para o progresso do país e melhoram a vida dos cidadãos, existem sempre os mais aptos e talentosos, os mais estudiosos e dedicados. Eles são a elite de suas profissões. Até as Forças Armadas têm suas tropas de elite (...)

“Todos devem ficar perplexos toda vez que Lula (ou Severino) ou um aliado dos movimentos sociais diz que a “elite” é responsável por tudo de ruim que acontece ao povo, ao governo e ao PT. (...) Que elite é essa?” - pergunta então o articulista.

  Pois bem! Estamos em 2014, ano de Copa do mundo no Brasil. Na abertura dos jogos, no Itaquera, milhares de brasileiros resolveram xingar Dilma Rousseff. Inaceitável! Mesmo numa democracia, trata-se de atitude grosseira e, diga-se de passagem, péssimo exemplo para os mais jovens. Legitimar esse ato, sob qualquer pretexto, é termos pais autorizando os filhos a xingarem seus professores, subordinados xingando os chefes, e o pior, filhos xingando os próprios pais quando julgarem que estão com a razão.

 Entretanto, o governo fez sua interpretação dos fatos afirmando que quem xingou a presidente são “cretinos”, “facínoras”, integrantes da “elite branca e conservadora”. Pergunto eu agora: “Que elite é essa?...

  Não quero criar polêmica, não é essa minha intenção. Primeiro, porque   entendo muito pouco de política.  Segundo, por ver nessas discussões uma ótima oportunidade para perder amigos. Para mim, os amigos são mais importantes do que qualquer eleição, partido ou candidato; não vale a pena arriscar.

 O que me chama a atenção é simplesmente o fenômeno linguístico – argumentos que se repetem com o objetivo de tornar “vítima” quem de fato não é. Lembro-me de que à época da instauração da CPI do mensalão, cheguei do trabalho e vi no jornal da tv Lula fazendo um discurso.  Dizia que estava sendo perseguido pela elite, que desejava derrubá-lo. Na mesma hora, sentei ao computador e escrevi para o painel do leitor da Folha: “Será que ele não percebe que quem está ameaçando seu governo são seus próprios companheiros?”  Para minha surpresa, a Folha publicou meu questionamento.

Hoje seus companheiros estão presos – Genuíno, Delúbio, José Dirceu – e ele continua acreditando que quem faz mal ao governo é “tal da elite”.

 Meu Deus... o discurso não muda! Falta inteligência ou boa-fé?