Flávio Benez: “Procuro viver cada dia intensamente”

20 de Agosto de 2025

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Flávio Benez: “Procuro viver cada dia intensamente”

O médico ortopedista, fisiatra e professor Flávio Benez, 37 anos, enfrentou em janeiro de 2014 um acidente doméstico que representou uma ruptura em sua vida. Ele se tornou tetraplégico após escorregar na borda de uma piscina com pouca água e bater o pescoço no fundo. Após o acidente, diz que que procura viver cada dia intensamente na busca constante do conhecimento. De profissional dedicado ao incentivo da melhoria da qualidade de vida de pessoas com deficiências físicas na rede de reabilitação Lucy Montoro de Fernandópolis, Benez também passou a ser um dos pacientes da Unidade. “O fato de também ser paciente me fez compreender ainda mais as necessidades de um deficiente físico e lutar por melhorias na qualidade de vida dos mesmos”, diz nesta entrevista ao CIDADÃO. É essa busca que o levou a participar de projeto de cooperação entre a Organização Social de Saúde Santa Casa de Fernandópolis, responsável pela gestão da unidade Lucy Montoro de Fernandópolis, e o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo para desenvolver uma cadeira de rodas motorizada leve, de baixo custo, mas que seja confortável e segura para o deficiente. Na Unidade de Reabilitação Lucy Montoro, onde é médico e paciente, Flávio Benez, diz que se mantém obstinado na busca do conhecimento. “Após meu acidente procurei me aperfeiçoar e me especializar ainda mais, para proporcionar um melhor atendimento aos nossos clientes”.  Nessa luta, tem um desejo: “que o deficiente físico possa desfrutar dos mesmos direitos de qualquer outro cidadão, principalmente no que diz respeito à inclusão e acessibilidade”. Aliás, neste mês de setembro, o Brasil é sede dos Jogos Paralímpicos e  no dia 21, o calendário anota o “Dia Nacional de Luta das Pessoas Deficientes”.  Veja a entrevista: 

Qual o objetivo do acordo de cooperação técnica entre Organização Social de Saúde Santa Casa de Fernandópolis e o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo para desenvolvimento do projeto de cadeira de rodas motorizada? 

O objetivo desse acordo é o de beneficiar as pessoas com deficiência por meio do desenvolvimento de protótipos de equipamentos para melhorar a mobilidade das pessoas com deficiência. Aliando-se os conhecimentos da Engenharia, da Medicina Física e da Reabilitação, espera-se desenvolver uma cadeira de rodas motorizada, leve, de baixo custo, mas que seja confortável e segura.

Qual será sua participação neste projeto, o senhor que é médico ortopedista e hoje, por conta de um acidente doméstico, também necessita utilizar uma cadeira de rodas?

A nossa participação será com intuito de orientação e consultoria na área técnica do projeto, principalmente quanto a ergonomia das cadeiras e sua viabilidade quanto ao seu uso.

O que instiga o médico ortopedista a partir do acidente de 2014?  O que seu corpo tem-lhe gerado de perguntas e respostas?

A busca de conhecimento, sempre foi rotineira na minha vida como médico, no entanto, após meu acidente procurei me aperfeiçoar e me especializar ainda mais, para proporcionar um melhor atendimento  aos nossos clientes. O fato de também ser paciente me fez compreender ainda mais as necessidades de um deficiente físico e lutar por melhorias na qualidade de vida dos mesmos.

Qual é sua maior obsessão?

Na verdade não é uma obsessão, mas sim um desejo, tenho esperança que o deficiente físico possa desfrutar dos mesmos direitos como de qualquer outro cidadão, principalmente no que diz respeito à inclusão social e a melhorias referentes a acessibilidade.

De médico que atendia pacientes que chegavam à Unidade de Reabilitação Lucy Montoro em Fernandópolis, o senhor também virou um dos atendidos. E isso tudo aconteceu de forma inesperada. Hoje, como é essa relação médico-paciente?

Minha relação com nossos clientes é de muita confiança, seriedade, cumplicidade e dedicação, pois eles sabem que no Lucy Montoro de Fernandópolis serão atendidos por uma equipe extremamente treinada e qualificada.

O dia 12 de janeiro de 2014 mudou o roteiro de sua vida. Em palestras, entrevistas, o senhor relata que era um ortopedista com cerca de 3 mil cirurgias, e sempre teve a fatalidade à espreita em seus pensamentos e que, lidando com pessoas com deficiência, tinha noção do que passava um cadeirante e que por isso tinha pânico de algo lhe acontecer. Hoje, como lida com essa ruptura?

Dediquei-me ao trabalho, procuro viver cada dia intensamente, fazendo planos, traçando metas e olhando para frente, buscando conhecimento e principalmente fazendo o bem.

Nesse processo, de onde veio o maior apoio e estímulo para superar o trauma?

De minha esposa, Nayara e de meu filho João Pedro, são minha referência e estímulo para continuar esta caminhada. Agradeço também aos colegas do Ame e do Lucy Montoro de Fernandópolis pela confiança e amizade.

No final do ano passado, em entrevista à Folha de São Paulo, o senhor projetava voltar a clinicar em seus consultórios e dar aulas. Disse também que a meta era conseguir ficar em pé, em um andador e que queria ao menos recuperar o movimento de uma das mãos, assim poderia operar pacientes. Como está essa meta?

Venho me esforçando diariamente, tenho melhorado fisicamente e mantenho minhas metas para o futuro, a medicina física e de reabilitação tem evoluído muito nos últimos anos, as perspectivas de melhora na qualidade de vida dos deficientes é evidente e nos mantém esperançosos.

O que representa o Centro Lucy Montoro na vida dos pacientes e na sua vida, como paciente e médico?

Representa esperança, melhora na qualidade de vida e principalmente  inclusão social.

Na semana que vem, começa no Brasil a Paralimpíada, com atletas que são exemplos de superação. O que o evento lhe traz de inspiração?

Vejo o esporte como uma ferramenta de inclusão social e melhora na condição física e psíquica do deficiente. Enfrentamento, superação, igualdade e principalmente dignidade é algo que estaremos sempre buscando.