Ela foi a tia de várias gerações. Até hoje, profissionais liberais, pais e mães, quando a encontram a chamam por “Tia Val”. Essa é a Professora Valquíria Castro Tonissi, que tem como maior hobby viver bem. Por isso, escolheu continuar praticando esporte. Aos 66 anos anda frequentando um local que ela conhece e muito bem: o pódium. Ela participou dos Jogos Regionais do Idoso (Jori) em Novo Horizonte e trouxe no peito, toda orgulhosa, duas medalhas de ouro conquistadas na natação. Sem falsa modéstia, contou que deixou as concorrentes meia piscina atrás. Agora vai para os Jogos Abertos em junho na cidade de Barretos competir com os melhores de todo o Estado. “Estou preparada”, já manda o recado. Afinal, no dia da entrevista, quarta-feira, 11, ela treinou pela manhã e nadou dois mil metros. Essa é a rotina dessa ex-professora de educação física, que continua uma atleta exemplar. Ela vale ouro... duas vezes...
Mais uma vez a senhora foi destaque nos Jogos Regionais do Idoso. Como foi a participação este ano?
Foi maravilhosa. Eu fico encantada de ver esses Jogos Regionais do Idoso (Jori). Aliás eu não via a hora de fazer 60 anos para participar do Jori. Agora com 66 anos, acho que já posso ir parando. Olha, foi tudo muito bem organizado, por sinal, este ano foi em Novo Horizonte e por ser cidade menor estava muito bem organizado, tudo maravilhoso, alimentação, alojamento, então, tivemos uma sorte, ficamos em um colégio só a gente. Tava muito bom. E a natação deu pra trazer duas medalhas para Fernandópolis. Agora vamos para os Jogos Abertos em Barretos em junho, que vai reunir todo o Estado. Mas, estou preparada...
A senhora já tem história nestes Jogos. Conta um pouco dessa experiência?
Nós estamos indo todo o ano. Eu ia só com a Malha e a Bocha. Ano passado eu tive o prazer de ir com o Vôlei Feminino e com o Tênis de Mesa, que a Vilma, minha amiga conseguiu classificação. Agora este ano nós vamos a malha, a Vilma e eu. Eu fui privilegiada que peguei duas medalhas de ouro. É muito bacana, eu já fui campeã estadual, não é fácil, porque nado com mulheres que treinam muito. Tem uma concorrente de Santos que ela nada em mar aberto, você imagina. Nós aqui só temos rios, mas eu estou bem preparada.
Você tem uma coleção de medalhas. Qual lhe traz as melhores lembranças?
São muitas, mas principalmente a de 2014 quando fiquei viúva, perdi o meu querido Mará (Mário Aldo Tonissi) em março e depois de um mês eu treinei muito, que era meu objetivo e fui nadar e fui campeã estadual. Quando eu terminei e sai da piscina, um amigo dele veio me abraçar e falou Val você ganhou para o Mará. Eu disse: não, eu nadei com ele, porque foi ele que me empurrou. Nós tínhamos 295 cidades e eu fui campeã. Isso prá mim ficou pro resto da vida. Marcou-me muito essa vitória. Essa medalha tem um valor muito especial.
Sempre foi esportista e por isso foi ser professora de educação física, ou foi o contrário?
Eu fui atleta, nadei a vida toda para o Automóvel Clube de Rio Preto. Eu era rio-pretense e depois como estava nesse meio desde pequena, resolvi fazer Educação Física. Fiz em São Carlos e lá também fui nadadora, nadava pelo São Carlos Clube, aí voltei para Fernandópolis aonde cheguei em 1971 junto com o Mará. Nós formamos juntos, fomos da mesma turma e foi aqui que sempre trabalhei junto com o Mará. Minha experiência foi muito válida. Eu já tenho duas aposentadorias e ano passado eu parei de trabalhar no Colégio Objetivo. Só que não cortei o vínculo, não. Qualquer oportunidade eu estou lá na escola.
A Educação Física juntou você e o Mará?
Sim, nós somos da mesma época, da mesma sala. Eu fui fazer o curso lá em São Carlos e roubei um são-carlense e trouxe ele para Fernandópolis. Ninguém falava que ele era de São Carlos, porque ele amava Fernandópolis e a gente se realizou aqui. Chegamos em 71 e no dia 4 de fevereiro nós começamos a trabalhar no Coronel (Escola Coronel Francisco Arnaldo da Silva) e JAP (Escola Joaquim Antônio Pereira), nós tivemos o privilégio de trabalhar nessas escolas. A meninada aí da cidade que hoje são médicos, dentistas, agrônomos e tantos outros profissionais. Eu tenho até alunos padre, como o Padre Telmo, o Igor. A dona Wandalice nos acolheu como dois filhos. Nós tivemos muita sorte de ter escolhido Fernandópolis para trabalhar. Amo essa cidade.
Você consegue imaginar sua vida sem o esporte?
Jamais. Eu falo pra todo mundo que graças a Deus eu escolhi esse ramo. Primeiro que eu amo criança, me realizo. Eu dei aulas para minhas duas netas. Agora meu filho e minha nora estão grávidos, mas esse bebê não vai ter o privilégio de ser aluno da vovó Val. Quem foi meu aluno foi, quem não foi, não será mais, porque agora estou só com minha equipe de vôlei que eu tenho minhas ex-alunas que trabalham com o vôlei, chama-se Esava – Encontro Semanal de Amigas do Vôlei Amador. A gente se encontra duas vezes por semana. Eu dou minhas aulas de natação lá na Reabilitare, onde quero elogiar o Fábio e a Renata que sempre me deixaram as portas abertas. É lá que eu faço meu treinamento. Hoje (quarta-feira, 11) já nadei 2 mil metros de manhã. Eu também fui técnica de basquete, agora estou sendo de vôlei, joguei tênis, jogava tudo, sempre gostei de esporte. Então a gente não consegue parar. Eu falo que tenho um bichinho aqui nas minhas veias que faz com que pratique sempre. Amo assistir jogos. Agora estou me preparando para ver os Jogos Olímpicos, vou assistir tudo. Se der vou até para o Rio de Janeiro. Uma sobrinha que trabalha nos Correios perguntou se conseguir algum ingresso se eu vou? Falei, nossa já estou lá.
Val quem foi o seu grande incentivador?
Tive um técnico maravilhoso de natação. Famoso Décio Lang. Eu comecei com ele. Nós só temos 12 professores de Educação Física na família. Então desde pequena eu fui vidrada em esporte. Meus pais não foram esportistas, olha que interessante. E eu tenho essa vibração, esse fanatismo por isso.
Você e o Mará construíram uma família baseada no esporte?
Também. O Mará foi esportista, sempre jogou basquete, jogava por São Carlos, depois teve uma época que jogou por Tanabi. Foi também técnico do nosso querido Fefecê, onde eles conseguiram subir em 79, sendo campeões. Eu acompanhei tudo e meus filhos por terem, bem dizer, nascidos na quadra, porque eu ia com essa meninada para todos os jogos, eu e o Mará, nossa vida foi sempre essa, então meu meninos até dormiam nas arquibancadas. Antigamente o esporte era diferente, era união, tanto é que tenho ligação até hoje com atletas. Há 15 dias, pra você ter noção do que é esporte, eu recebi a visita de uma ex-atleta minha, muita famosa, muito querida,
Felícia Godoi, que hoje mora na Nova Zelândia. Ela veio me visitar. No domingo, Dia das Mães, uma ex-aluna minha, a Selminha, veio ver a mãe dela, mas também quis ver a Tia Val. Então é assim, aonde vou tem sempre um ex-aluno. O pessoal até brinca, porque você não se candidata a vereadora. Eu falo: não, meu negócio é outro. É um amor indescritível pelo esporte. E meus filhos foram jogadores também de basquete. Os dois jogaram por Fernandópolis e o meu mais velho (o Mileno) foi até campeão estadual com o Mão. O meu caçula (o Micael) jogou aqui e em Jales, quando tinha aquelas equipes maravilhosas de basquete. As netinhas estão iguais a mim, são todas esportistas. Tá no sangue.
Quando você olha as crianças e jovens de hoje, acha que eles se interessam pelo esporte como antes, ou estão mais ligados nas redes sociais?
Infelizmente eles não se interessam mais por esporte. Eu moro em frente a duas quadras de esportes (EELAS e Coronel). Você não vê mais o fanatismo. Meninada não tá nem aí, nem com a aula de Educação Física. Imagine você que meus ex-alunos do Coronel, nos não tinham essa quadra coberta que a gente vê aqui da minha casa. Nós tínhamos aulas no Tênis Clube e era quadra descoberta. E nós começávamos às 2h30 e não tinha hora para acabar. Nós vivíamos em quadra. Isso é uma glória pra mim. Nós fizemos história. Infelizmente hoje as escolas tem quadra coberta, mas não tem as equipes que nos construímos.
E quando você olha para Fernandópolis. Percebe incentivo para a prática de esporte?
É difícil falar. Mas tem que fazer alguma coisa para que essas crianças voltem a praticar esporte. Imagine que meu time de basquete antigamente perdíamos só para Catanduva porque lá o Ferreto tinha a Hortência. Apanhei muito da Hortência, porque não tinha condições de ganhar dela. Hoje você não vê uma equipe de basquete feminino de Fernandópolis. Agora o Mão (Edvaldo Assunpção) está começando, tem também o Diguinho (Rodrigo Garcia) com basquete masculino. Nós teríamos que ter outras modalidades como atletismo e muitas outras. Olha o Mazinho (Osmar Feltrin) do Judô, faz um trabalho muito bonito. Sabe por que cobro isso: é Fernandópolis. Eu subi no pódio, e estava com a camiseta escrito Fernandópolis. Então fui convidada para nadar por outra cidade, de tão bem que fui nestas duas provas, sem falsa modéstia, deixei minhas concorrentes quase meia piscina atrás. E isso em natação é uma glória. Então eu gostaria de dizer, incentivem, levem a meninada para quadra.
Qual sua rotina de treinamentos?
Todos os dias você pode ir na Reabilitare que estou treinando. Sábado e domingo, como vamos para o rancho, aí eu nado no rio. O meu filho me acompanha, então nós vamos de um lado para outro nadando.
O esporte é o segredo para sua vitalidade aos 66 anos?
Eu creio que sim. Não tenho uma dor. Quando minhas amigas, falam que tá doendo aqui, tá doendo ali, reclamam por causa da nossa idade, eu fico quietinha porque se falar de uma dor você pode saber que eu tô mal. Minha atividade física me ajuda muito.
O recado que você deixa para quem fica em casa, no sofá?
Têm amigas que vão dar risada hora que verem o jornal. Eu vivo falando pra elas. Parem de ficar só sentadas, tem que fazer alguma atividade física. Eu não sinto dor, tenho disposição, não tenho preguiça. Isso é atividade física. Tem gente que diz que não tem tempo. Faz uma forcinha que você arruma a hora. Eu incentivei muitos professores para entrar na natação. Tem que fazer, porque atividade física em primeiro lugar, depois o tricô.
Aqui na sua casa não tem caixinha de remédio?
Ah não. Não posso falar o que é meu remédio, mas minha turma sabe. Eu só tomo uma cervejinha... (risos)
A mensagem para as crianças e jovens?
Deixem os celulares de lado. Os celulares são um mal necessário, mas não 24 horas. Só a hora que precisa. Vão para as quadras, correr, nadar, praticar um esporte. Qualquer que seja para se viver mais e melhor. Tem amigos que falam: quero ser a Tia Val com 60 anos. Então pratiquem esporte.