Da missão voluntária em reserva indígena à luta pela Santa Casa

20 de Agosto de 2025

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Da missão voluntária em reserva indígena à luta pela Santa Casa

A Professora Doutora e Enfermeira Sandra Godoy, atual  provedora da Santa Casa de Fernandópolis viveu recentemente uma experiência que qualificou como “transformadora”. Ela integrou uma missão voluntária à Reserva Indígena de Dourados (MS), que reuniu profissionais de diferentes áreas e estudantes universitários, organizada pela Associação Humanitária Univida, para atender as necessidades básicas dos indígenas, como alimentação, apoio à saúde, educação, roupas, carinho e atenção.

Fiz um acordo comigo mesma que, enquanto viver, participarei pelo menos uma vez ao ano de missões como esta, pois nos limpa a mente, melhora nosso espírito e nosso relacionamento”, relatou ao CIDADÃO nesta entrevista, que foi dividida em duas partes. A segunda parte, é com a provedora da Santa Casa e a incansável luta em busca de recursos para manter o hospital.  Neste domingo, 31, no recinto da Expo acontece o Leilão de Gado. Mesmo em tempo de crise, Sandra Godoy aposta na solidariedade da população que tem auxiliado o hospital a superar a crise financeira.

Primeiro vamos conversar com a enfermeira Sandra Godoy, integrante de uma missão humanitária. A senhora participou do Projeto Univida que passou uma semana em uma reserva indígena. Como foi essa experiência de vida?

A experiência foi maravilhosa e transformadora, conhecer uma realidade muito diferente da nossa, como crenças e costumes próprios, ambiente, moradia e condições de vida desiguais e ainda poder contribuir com o nosso trabalho foi muito significativo.

Como surgiu a oportunidade de participar de um projeto dessa natureza?

A oportunidade veio pelo convite do Padre Eduardo Lima que trabalha com a Univida que é uma Associação Humanitária de Universitários em defesa da Vida. Ele procurou a FEF (Fundação Educacional de Fernandópolis) para aumentar o número de universitários participantes para a sexta missão em Dourados/MS. Recebi o convite para acompanhar os alunos com mais dois professores, a professora Rádila coordenadora do curso de psicologia e o professor Marcelo do curso de jornalismo que juntos resolvemos desenvolver um projeto de extensão. Tivemos alguns meses para o planejamento e a escolha dos cursos e alunos que iriam participar. Tivemos a participação de nove cursos: Enfermagem, Fonoaudiologia, História, Nutrição, Psicologia, Jornalismo, Engenharia de alimentos, Engenharia Civil e Pedagogia. A Unicastelo também foi convidada e encontrei alunos de Odontologia e Medicina. Nos unimos a outras escolas, outros professores e universitários, além da pastoral universitária e outros voluntários, várias cidades participaram.

Qual a realidade do povo indígena que a senhora encontrou nesta reserva em Dourados (MS)?

É uma triste realidade, muita pobreza, muita fome, muita carência, muitos indígenas doentes, principalmente crianças. E o que mais me chamou a atenção, muitas adolescentes grávidas. Muitas dificuldades foram levantadas.

 O projeto envolveu profissionais e estudantes. Que tipo de trabalho foi realizado na aldeia?

Todos colaboravam de alguma forma, tivemos desde os atendimentos da área da saúde como na área odontológica, consultas médicas e de enfermagem, atendimentos de fonoaudiologia e psicologia, a nutrição, o trabalho de alunos da pedagogia, quanto aqueles que cuidavam das crianças e adultos indígenas como corte de cabelo, brincadeiras, banhos e outros. Além disso, todos trabalhavam também no preparo das refeições, na limpeza do local onde ficamos (era uma escola indígena) e outros afazeres.

 A senhora saiu da chamada zona de conforto, foi para uma reserva indígena e viveu a realidade desse povo durante uma semana. Como retornou para Fernandópolis?

Posso dizer que estou transformada, claro que sair da nossa rotina não foi fácil, dormir em barracas, ficar em fila para as refeições, para o banho que às vezes era frio, a falta de água que tivemos por alguns dias, me fez refletir muito, por tudo que tenho e agradecer muito a Deus, a valorizar mais minha família, meus amigos, o meu trabalho. Mas quero registrar também o lado muito positivo que vivenciei, conheci pessoas maravilhosas, comprometidas, solidárias, que se preocupam com o nosso próximo, os líderes religiosos que nos acompanharam, as doações recebidas.

O que a senhora experimentou e que vai levar para toda a vida?

Conheci a generosidade de muitas pessoas, o amor que se desenvolve tão rapidamente quando encontramos seres humanos desprovidos de bens essenciais à nossa vida, a alegria e felicidade por um momento de conversa, de escuta e a gratidão por tão pouco. A união de pessoas que não se conheciam e tornaram-se amigos, o comprometimento e a fé. A intensidade de tantos sentimentos.   

Pretende repetir a experiência?

Fiz um acordo comigo mesma que, enquanto viver, participarei pelo menos uma vez ao ano de missões como esta, pois nos limpa a mente, melhora nosso espírito e nosso relacionamento, nos mostra que sempre de alguma maneira podemos ajudar alguém que necessita mais que nós. Mesmo que seja de um sorriso.

Agora, vamos conversar com a Sandra Godoy, provedora da Santa Casa. Domingo aconteceu a feijoada e amanhã tem o grande leilão para a nossa Santa Casa.  O que se pode dizer desses eventos?

Em primeiro lugar quero agradecer a todos os participantes desses eventos, desde os doadores, os colaboradores que trabalham muito para a realização, os compradores que estarão no leilão e os que participaram da feijoada. Aos organizadores parceiros como o Dr. Luiz Flavio, o Carlos Perucchi coordenador do leilão, o Nelson do Sindicato Rural, O Humberto Zanim, e tantos outros que nos auxiliam. A toda comunidade fernandopolense e da nossa região que mostra por meio da participação que a credibilidade na gestão e assistência da Santa Casa está voltando.   Todos sabem da seriedade e transparência que praticamos junto aos Conselhos Administrativo e Fiscal e toda a Diretoria Executiva. A realização desses eventos tem por finalidade a busca do equilíbrio econômico financeiro tão almejado. 

O leilão deste domingo reúne uma equipe de trabalho coordenada pelo Carlos Peruchi. Como está sendo o trabalho?

O trabalho está intenso, muito já foi feito, mas ainda temos muito por fazer, a busca pelos animais e outras prendas, a organização no recinto da Expo, as porções e bebidas e nos prepararmos para receber toda a comunidade.

Que expectativa de resultado se pode ter do leilão deste domingo, principalmente em meio ao cenário econômico que vivemos?

A expectativa é grande, porém, sabemos que será menor do que a que tivemos em Mira Estrela no início do ano. Sabemos da crise que nos assola, mas acreditamos na solidariedade do nosso povo.

Recentemente em Fernandópolis, o secretário adjunto da Secretaria Estadual da Saúde, Wilson Pollara, disse que o problema da Santa Casa é a dívida do passado e que a receita atual é suficiente para manter o hospital e que se estuda uma possibilidade de alongar o perfil da dívida, uma carência maior, para a Santa Casa ganhar fôlego. O que está sendo feito neste sentido?

Estamos desenvolvendo projetos para a viabilidade dessa possibilidade e aguardando contatos da Secretaria Estadual de Saúde.