Por vários anos, os fernandopolenses se comoveram com a campanha “Salve Vidas – Seja um Herói” em favor do garoto João Pedro. Todos conheciam o João, ele passou a ser alguém da nossa família. A sua luta contra a leucemia foi árdua e exigiu coragem de João Pedro. O pai, Claudio José dos Santos Azevedo, 35, que trabalha como promotor de eventos, ainda continua com a campanha buscando mobilizar as pessoas para aumentar a doação de sangue e o cadastro de doadores de medula no banco do Redome (Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea). O pequeno João não está mais conosco. Ele nos deixou em 2015, vinte dias após o nascimento da irmãzinha Isadora, 100% compatível para doar a medula para o João Pedro. Mas, ele já havia cumprido a missão. “Manter essa campanha para ajudar as pessoas é um compromisso que assumi com o João. Parar seria muito egoísmo da minha parte”, diz o pai. Claudio foi escolhido para ser “Mc Amigo” da campanha Mc Dia Feliz da qual Fernandópolis vai participar pela primeira vez. Toda a arrecadação com a venda do Big Mc no dia 27 de agosto será revertida para a construção da Casa Família Ronald Mc Donald em Barretos, para dar apoio às famílias que chegam com os filhos para o tratamento contra o câncer. Para novembro, quando João Pedro completaria 10 anos, Claudio pretende desenvolver uma semana de prevenção ao câncer infantil em homenagem ao filho.
O que o seu filho João Pedro lhe ensinou na luta contra o câncer?
Primeiro tenho que agradecer a Deus e agradecer, como sempre falo, ao pequeno, grande e eterno homem que foi o João Pedro em minha vida, da minha esposa Luciana e das irmãs, Ingrid e Isadora. Ele nos ensinou na questão da luta, porque ele lutou bravamente seis anos contra a leucemia e neste tempo a gente acabou aprendendo a dar valor nas pequenas coisas e a luta com ele na realização de campanhas que mobilizou a região, procurando o melhor tratamento e por um transplante. O João foi uma pessoa que veio para ensinar e ensinou muita gente, abriu muitas portas para mim, principalmente nesta questão de poder ajudar a fazer o bem ao próximo.
A campanha Seja um Herói – Salve Vidas foi lançada exatamente quando o João estava lutando contra a doença. Após sua morte, você decidiu continuar com essa campanha. É uma forma de homenageá-lo, de manter viva sua memória?
Com certeza, é uma homenagem ao João e uma promessa que fiz a ele. O João sempre perguntava se um dia eu ia parar com a campanha voltada para a doação de sangue de medula, eu dizia que não, que a campanha não iria parar. Essa é uma dívida que tenho com o João e com quem precisa. A gente sabe a real necessidade, não apenas o João, mas milhares de pessoas estão aguardando a oportunidade do transplante ou de uma bolsa de sangue. Então, esse trabalho vem voltado também para a população.
O João tinha consciência da importância dessa campanha?
Embora a campanha tenha sido lançada para ajudá-lo, o João era uma pessoa que participava. Ele sempre foi às campanhas. Eu me lembro de que certa vez estávamos em Santa Fé do Sul em uma campanha e uma moça disse que gostaria de gravar um vídeo com para ele convidar as pessoas para participar da doação. Aquela imagem nunca me saiu da cabeça, ele gravando o vídeo, naquela época com seis anos de idade, convidando as pessoas para comparecerem até a Funec para doar sangue e se inscrever no cadastro de medula. Então, eu penso, se ele conseguiu fazer tudo aquilo naqueles cinco minutos de gravação, porque não continuar com essa campanha, salvando vidas.
Em meio à luta da família, do João Pedro, qual foi o momento inesquecível?
Eu falo que, como foi meu primeiro filho, o nascimento dele foi muito importante. Com ele foram oito anos bem vividos, intensos, apesar de tudo que a gente passou. Ele foi uma pessoa que não tinha oito anos, era um ser com uma evolução muito grande para sua idade. Ele passava muita segurança, que estava tudo bem e que ia conseguir sair vitorioso dessa luta dele. Então, eu guardo o momento da notícia de seu nascimento como inesquecível para mim. O João foi uma das melhores coisas que aconteceram na nossa vida.
Você tem duas filhas?
Sim, a Ingrid com seis anos e a Isadora com um ano e três meses. O lugar do João nunca será preenchido, mas elas são crianças especiais na minha vida. A Isadora está começando agora a descobrir a vida e a Ingrid é uma menina muito batalhadora, porque ela viveu na pele os seis anos de luta do irmão, ela nasceu exatamente quando a gente descobriu que o João estava doente. Ela vivenciou todo o quadro do irmão. Foi bem sofrido para ela também, mas a gente tem que entender que a vida segue. Ela está crescendo e já vivendo a vida dela. E nós, eu e a esposa, estamos atentos para dar a elas toda a atenção. Creio que tudo que acontece é um sinal para a gente poder evoluir, fazer melhor para quem fica.
A Isadora veio com a expectativa de ser doadora de medula para o irmão?
A Isadora nasceu no dia 4 de março de 2015 e o João partiu no dia 24 de março. Ela era 100% compatível com o João e chegou com a esperança de se poder realizar o transplante que ele precisava, mas infelizmente, devido a fragilidade da última recaída que teve e intercorrências da doença, ele não conseguiu esperar.
O que você pretende contar para Ingrid e para a Isadora sobre o João?
A gente segue a hastag JP Herói. Ele é isso, é um herói que veio para nos ensinar, para abrir portas. A gente continua as campanhas em parceria com o Hemocentro, levando mais pessoas a doarem sangue e aumentar o cadastro de doadores de medula. Devido ao João houve um aumento significativo no cadastro de medula. Ele vai ser sempre um herói porque ele continua salvando vidas. As irmãs vão levar para sempre a lição deixada pelo João Pedro, de um herói lutando pela causa que começou por ele e continua.
Essa campanha “Seja um Herói” aonde já chegou? Acha que está conseguindo melhorar a conscientização das pessoas sobre a importância de ser doador de sangue e medula?
Só o fato de a gente conseguir manter o Hemocentro de Fernandópolis aberto, que passou por momentos difíceis e até risco de fechar por falta de doadores, já é uma batalha vitoriosa. A campanha conseguiu dar um salto de 60% no cadastro de medula e conseguiu manter. A gente vem há quatro mantendo esse aumento que teve. Um dos grandes êxitos que tivemos quando o projeto completou um ano após a morte do João, que a gente lançou o projeto “Seja um Herói”, recebi a notícia que uma pessoa (de Mirassol e tem 14 anos) que aguardava na fila conseguiu fazer o transplante de medula no último dia 9 de junho e está na fase de recuperação, mas Graças a Deus correu tudo bem. Pra mim hoje se o Projeto conseguir fazer um transplante isso nos dá força para continuar e fazer mais.
Você foi escolhido “Mc Amigo” na campanha do Mc Donald. Como recebeu essa missão?
Foi uma honra. Fui conhecer o Hospital de Câncer de Barretos no último dia 16 de junho e lá foi lançada a campanha e pude conhecer a Larissa (Mello) que é coordenadora de eventos do HC de Barretos. E na conversa com ela e a gerente de marketing do Mc Donald de Fernandópolis, a Carol Alves, recebi o convite para atuar aqui em Fernandópolis, vai ser o primeiro ano aqui do Mc Dia Feliz. A campanha terá camisetas, canecas comemorativas do Mc Dia Feliz e também vai ser comercializado o ticket. Então todo o Big Mc vendido no dia 27 de agosto aqui em Fernandópolis e toda a renda da venda das camisetas e das canecas vai ser revertido para a construção da Casa Família Ronald Mc Donald em Barretos. Toda a renda auferida em Fernandópolis, Rio Preto, Catanduva e Barretos, vai para essa finalidade. No restante do Brasil, vai ser destinada uma porcentagem . É mais uma motivação nesta luta. Tudo isso devo ao João Pedro, de poder realizar um trabalho voluntário e expandir esse trabalho. Só temos a agradecer o convite, de poder realizar um trabalho, ajudar quem precisa. Essa questão do câncer infantil é muito importante pra mim.
Em novembro teremos uma campanha de prevenção do câncer infantil?
É um trabalho que será desenvolvido em parceria com Secretaria Municipal de Saúde, Hemocentro e entidades. A ideia é fazer uma semana de prevenção do câncer infantil e fazer uma homenagem para o João Pedro já que evento deve ser na semana do aniversário dele, quando ele completaria 10 anos, se estivesse aqui, incluindo também o Dia do Doador de Sangue. Seria uma semana de prevenção ao câncer infantil, mas uma semana voltada para a saúde, de prevenção e de doação, esclarecendo a população. Quero ver se consigo fechar parceria também com as faculdades, instituições e empresas, onde poderemos fazer palestras. Graças ao conhecimento que adquiri, consegui dois eventos, um sobre a prevenção do câncer infantil e a caminhada “Passos que Salvam”. Hoje estou me preparando para fazer palestras, por enquanto faço bate-papo. Mas, aonde a gente vai, estamos divulgando o projeto.
A prevenção do câncer infantil exige uma atenção constante, não?
As doenças são muito parecidas, muitas vezes confundida com a dor do crescimento, as manchinhas roxas, como eu sei o que ocorre na leucemia por conta de sintomas que o João teve, a gente associa muito a questão de criança achando que a manchinha roxa é por causa de brincadeiras, bateu em algum lugar, a dor e febre. Então hoje a gente vê várias doenças que confundem o diagnóstico do câncer infantil e demorando muito tempo para descobrir reduz as chances de tratamento.
Tem alguma meta nesta campanha? Vai até onde?
Enquanto tiver vida vou continuar com a campanha. É um trabalho legal, voltado para a sociedade, a gente não sabe o dia de amanhã. Talvez esse mesmo trabalho que faço hoje, de buscar pessoas para o cadastro no banco de medula do Redome, talvez lá na frente possa necessitar de um transplante, a vida está nas mãos de Deus. É o mínimo que posso fazer é manter esse trabalho. Foi o meu compromisso com o João Pedro e a maior homenagem que posso fazer a ele. O João passou muito rápido pelas nossas vidas, mas foi uma passagem muito intensa. Depois de tudo que passamos se decidisse parar o projeto e ficar em casa seria muito egoísmo da minha parte. O próprio João me perguntava seu eu iria continuar com o projeto. Eu fiz um compromisso com ele de continuar esse trabalho e não vou parar.
Prá quem você daria o título de Herói?
A todos aqueles que se propuseram a cadastrar como doador de sangue e de medula e a todos que trabalham na área da saúde atuando na prevenção e buscando a cura da doença.