Cândida de Jesus Silva Nogueira, a Candinha da AVCC, ficou chocada esta semana quando soube da notícia que Henrique Prata, presidente da Fundação Pio XII, que mantém todas as unidades do Hospital do Câncer de Barretos, viria anunciar o fechamento da Unidade de Prevenção de Fernandópolis. Ela foi pessoalmente acompanhar a entrevista coletiva. “É uma tristeza profunda”, disse nesta entrevista ao CIDADÃO. Mais chocada ficou com o motivo do fechamento: “Isso deixa todos indignados”. Candinha fala com propriedade. Ela viveu o drama de um diagnóstico de câncer (mieloma) em 1994, fez um transplante e tem que conviver com a doença. Na época, já em tratamento, pensou como viviam os outros pacientes com câncer. Foi quando foi plantada a semente da AVCC que acabou dando origem ao hospital que, agora transformado em Centro de Diagnóstico pode fechar as portas por falta de recursos. De toda a trajetória desde o dia que descobriu o câncer, passando pela fundação da AVCC, a construção do hospital, a transferência para HC de Barretos, o pior dia, segundo ela, foi o do anuncio do fechamento. Diz isso com lágrimas nos olhos, mas crê que isso não vai acontecer. Ela quer completar 61 anos no dia 20 de julho (Dia do Amigo) vendo o hospital aberto e atendendo a população.
Qual foi o impacto da notícia do fechamento da Unidade de Prevenção do Hospital do Câncer de Barretos?
O impacto foi grande, porque não é aceitável se fechar um hospital. É uma tristeza profunda, lamentável. Não tem outra palavra para explicar o sentimento a não ser o de tristeza. Porque a gente sabe das pessoas que necessitam desse atendimento.
O que mais te indignou, a notícia ou o motivo do fechamento do hospital?
O motivo do fechamento que o Henrique Prata colocou, acho que deixa todos indignados. Os políticos, de certa forma, estão perdendo a nossa confiança. Eu quando fui vereadora fui vítima desses compromissos, dessas promessas políticas. Então senti na fala do Prata que houve muitas promessas que não foram cumpridas. É triste saber, principalmente quem precisa. Não por mim, graças a Deus temos até um bom convênio, faço tratamento em Rio Preto há 22 anos, mas e as pessoas que precisam? Por que a prevenção é o melhor remédio. Quando passou o Hospital para o Pio XII, ali ia se tornar o maior centro de diagnóstico. É fantástico o local. Quando se tem o diagnóstico de uma doença, o quanto antes você cuida aumenta a chance de cura. O impacto é grande em saber que o motivo é promessa não cumprida pelo governador, uma pessoa admirável. Talvez esteja faltando ter mais diálogo.
Você que viveu o drama do câncer, como acha que essa notícia repercute naquele que depende da Unidade de Fernandópolis?
Quem está lutando contra o câncer e precisa do atendimento não usa a Unidade de Fernandópolis. Aqui é um Centro de Diagnóstico. O questionamento de minhas amigas no WatSapp era, e o povo? O que vai acontecer? Quem tem exames agendados para diagnóstico e acompanhamento? Isso para o paciente, além de estar sofrendo com a doença, agora vivendo esse drama. É complicado para o paciente tomar conhecimento que está fechando uma Unidade que para o povo de Fernandópolis é importantíssima. Foi o povo que fez aquele hospital. A AVCC nasceu lá em 1998 (4 de fevereiro), e cada um dos dirigentes, com seus pensamentos, tiveram a ideia de fazer um hospital. É difícil manter um hospital, mas a partir do momento que passou para Barretos a gente dizia graças a Deus está funcionando. Essa é diferença em ter alguma coisa parada ou funcionando.
Foi uma semente plantada que germinou?
Eu sou muito grata a Deus porque ele usou a Candinha para plantar uma semente. Por que um dia em pensei, como vivem as pessoas com câncer? A partir daquele momento comecei a conversar com Jesus (Nogueira, o marido) e com Jesus Cristo que nós precisávamos fazer alguma coisa. Fazia quatro anos que eu vinha em tratamento contra o câncer que descobri em 1994. Partindo dessa ideia de como estão vivendo os outros doentes começamos a se reunir em casa e de repente nasceu, na época estava prefeito o Armando Farinazzo. Sou muito grata a ele, por tudo que fez naquele momento. Depois quando quiseram fazer o hospital, quem doou aquele terreno foi o prefeito Newton Camargo. Isso é pouco lembrado. As lembranças boas às vezes são esquecidas pelo povo. Acho que cada um teve uma parcela e o povo se uniu para construir aquele hospital. O que fico mais chocada é saber que vai fechar, que teve gente ali que doou o sangue, colocou tijolinho por tijolinho. Temos exemplo do vô Darci (Darci Bertoco) que Deus já levou. Olha o tanto que esse homem trabalhou. Tem o seu Zequinha, Biasi, Marcelinho, um monte de gente, o Boitika e a comunidade, a população todinha de Fernandópolis e região construiu aquele hospital. Acho que na época foi certo passar para Barretos porque deu continuidade porque não estava mais conseguindo suportar.
Quando você recebeu o diagnóstico do câncer em 94, imaginava que viveria para ver a abertura de uma entidade, a AVCC com seu nome, depois a construção de um hospital, a transferência para Barretos e agora o anúncio de fechamento?
De toda a trajetória, o pior dia é hoje, né. Infelizmente (emocionada). É triste, porque quem passa por um câncer sabe o que é isso. Mas quem passa, o familiar que passa um tipo de doença, qualquer que seja, Aids, câncer, gripe, tudo mata, um dia nós vamos morrer independente de doença, mas a pior notícia é saber que está fechando alguma coisa que beneficia muita gente, ainda mais em se tratando de doença nesse nível, que detona a gente, que joga lá pra baixo. Muitas vezes se está de pé porque Deus te sustenta. Eu sou sustentada por Deus, não tenho vergonha em dizer que Deus me carrega. Deus e meus amigos. Foi uma manhã muito triste. Ainda mais depois de algumas conversas que não contribuem para nada, misturando política com amizade. Pelo amor Deus, minha amizade vai ser eterna com todos, amo as pessoas, todas. Deus me ensinou a amar as pessoas. Política é uma coisa, é democracia, você vota em quem quiser, que você, naquele momento acha que vai ser o melhor. Tá difícil hoje escolher o político. Estou muito feliz hoje de a gente ter o deputado Fausto Pinato que é fernandopolense. Ele é nosso parceiro da AVCC. Mas, a política tomou um rumo estranho, o sinônimo dela hoje é corrupção. Tem muita politicagem, muita promessa e isso deixa a gente arrebentada.
Como Fernandópolis deve reagir a essa notícia?
Eu senti a necessidade de formar um grupo de pessoas e procurar os políticos, procurar o deputado Carlão (Pignatari), embora seja rejeitado em Fernandópolis. Não tem problema, vamos correr atrás do benefício. Que seja o Carlão, que seja o Semeghini, Fausto Pinato. Não vai ter um salvador da pátria. Vai ter um conjunto de pessoas para ajudar. Eu vejo que de repente, o Henrique Prata veio dizer, vocês não estão enxergando, eu tô aqui mostrando a realidade e tomem uma providência. Temos que fazer a nossa parte, ir atrás e cobrar as promessas.
Você acredita que em 30 dias dá para resolver a situação e evitar o fechamento?
Tem que dar pelo menos um pontapé, não pode ficar só na promessa, fazer tudo para não fechar, que o hospital seja mantido aberto. Temos a AVCC, entidade, e muita gente confunde e acha que a AVCC fechou. Não, a AVCC sempre esteve com as portas abertas, sempre. Quando passou o hospital para Barretos, a AVCC voltou a ser a entidade de quando nasceu em 98. A AVCC continua seu trabalho assistindo mais de 50 pessoas com cesta básica, leite, etc. Com esse dinheiro da Expo, que foi arrecadado, uma das coisas que a gente quer é comprar cadeiras de rodas, oxigênio.
Você está escrevendo um livro. O fechamento do hospital, se ocorrer, é o capitulo mais triste?
Esse livro já virou lenda. Eu comecei a escrever em um caderninho, porque eu falo que o canceroso fala demais. Comecei a falar muito, eu chegava e queria contar tudo e eu percebi que estava cansando a família. Comecei a escrever no caderno ‘bom dia’, ‘querido Deus’, mas um dia alguém me chamou para fazer um testemunho na Igreja e falei que só tinha um caderninho em que escrevia. O Jesus (marido) nem conhecia o caderninho. Eu tinha acabado de fazer o transplante, estava careca, usando máscara, com aquele aspecto do canceroso, muito difícil. Mostrei o caderno para a Maria José Pessuto e ela falou, olha dá para virar um livro. Mas isso está enrolando faz 20 anos. Estamos agora trabalhando em cima daquelas memórias que registrei nesse caderno. Não tem nome ainda. A Ana Claudia Scandiuzi está fazendo a correção. Já marcamos um encontro, a Ana, a Maria José, a Glenda Scandiuzi e eu. Precisamos decidir o nome e a capa. Espero que saia. Nesse livro tá citado só quando a AVCC nasceu. Aconteceu tanta coisa na AVCC e ficou guardada só a parte boa. Eu tenho certeza que, se Deus quiser na hora que sair o livro o Hospital vai estar aberto e funcionando. Não vai ter um capítulo do fechamento, se Deus quiser.
O que te orgulha nesta história da AVCC, do hospital...?
Eu acredito que tudo acontece porque Deus quer que aconteça. Meu maior orgulho é saber que Deus tem atendido as minhas preces, que tinha um plano para acontecer uma AVCC em Fernandópolis e só me usou para lançar a sementinha. Ajudo na AVCC, fui presidente dois anos, agora é Robertão, é necessária essa troca e estamos organizando toda a documentação da entidade. O que mais me orgulha é saber que fui escolhida por Deus para plantar uma semente. A semente você planta, outros regam, cuidam e outros colhem. Eu colhi dessa semente, porque na época que precisei a AVCC cuidou de mim. Quando fiz uma cirurgia de próteses nos quadris, precisei e a AVCC estava presente. Não imagino nossa cidade sem AVCC e nem tampouco sem o hospital. Tem que continuar esse centro de Diagnóstico. Na pior da hipótese, se não conseguir manter aberta, acho que a sociedade, nós fernandopolenses, temos que tomar conta e manter a porta aberta para atender o paciente com câncer. Eu acredito que não vai fechar. Temos que acreditar em Deus. Às vezes precisa acontecer uma coisa ruim para depois melhorar. Foi um alerta para nossos governantes. Se formos olhar, a situação fica cômoda para o governo. Uma entidade toma conta dos deficientes físicos, outra cuida dos idosos, outra cuida dos pacientes com câncer e quem banca tudo isso é o povo. Nós temos muitas entidades aqui, todas sustentadas pelo povo. A AVCC é uma delas e não tem nenhuma verba que vem do governo.
Você falou também da dificuldade em conseguir o remédio de alto custo...
Tomo um remédio prescrito pelo meu médico para controlar a ferritina e é de alto custo. Vinha tomando um que custa mais de R$ 3 mil e desde novembro está em falta. Recentemente fui lá e pedi a lista do que o governo tem e que eu poderia tomar. Me deram dois nomes, passei para o meu médico, que não foi muito de acordo com a troca, mas entre ficar sem e tomar esse, vamos tomar o que tem. O remédio chegou, custa metade do outro. Um vidro com 100 cápsulas, fui conferir na internet, custa 1,4 mil. Espero que esse faça efeito. Mas, por aí você vê que o governo brinca com as pessoas. Agora imagina o pessoal que está lá com um câncer que está consumindo seu fígado, seu pulmão e precisa de um medicamente de alto custo e não tem. Nós da AVCC ajudamos como organizar a documentação para receber essa medicação de alto custo. Não é fácil. Deus pode mudar todas as coisas. É nisso que acredito, porque se não acreditar que vai melhorar, vamos cair numa depressão.
Daqui 30 dias o que você esperar estar falando?
Espero poder ir lá ao Hospital e ver todo mundo sendo atendido.