O Dia Nacional contra o Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes foi marcado em Fernandópolis por atos públicos e divulgação de números que geraram preocupação. Nos últimos três anos, 282 crianças foram acompanhadas pelo Creas - Centro de Referência Especializado de Assistência Social, vítimas dessa violência.
Mas esses números não representam a realidade, muitas vezes, camuflada. A subnotificação de casos existe, alerta a médica Amanda Careno, do CMDCA - Conselho Municipal do Direito da Criança e Adolescente, durante entrevista na Rádio Difusora na quarta-feira, 18. “Se a gente olhar o número absoluto, uma criança que seja molestada já seria um número alto. Então quando se fala em 282, é muito alto, mas é subnotificado pela dificuldade da criança ou adolescente em relatar a violência. Esses casos acompanhados pelo Creas foram os que chegaram ao atendimento e conseguiram ser ajudados”, apontou a médica.
Suzy Ferrarezi, que também é do CMDCA relata que muitas vezes a família não toma conhecimento do abuso. “A criança esconde o caso por vergonha, medo e até por ameaça do agressor”.
Quando se fala neste tipo de violência, muitas vezes o abusador é do convívio social e até da família e isso explica a subnotificação, já que a família abafa o caso e procura resolver o problema dentro de casa. “É preciso coragem para buscar ajuda externa para minimizar os danos a curto, médio e longo prazo, tanto para a vítima quanto para a família. Precisamos quebrar esse tabu, é um problema gravíssimo”, alerta Amanda Careno preocupada com os prejuízos ao desenvolvimento psicológico da criança e adolescente que ficam psiquicamente desorganizados.
O conselheiro do Conselho Tutelar João Batista dos Reis cita que esses casos chocam e são mais comuns do que se pensa. “A gente costuma achar que em Fernandópolis não tem isso. De repente você descobre uma realidade diferente. Tem casos e são muitos e atingem todas as classes sociais, indistintamente”, confirma.
Agentes sociais orientam as famílias e escola a observarem o comportamento das crianças e adolescentes. “A mudança de comportamento pode dizer muita coisa”, enfatiza Reis. Nesta época de internet e rapidez das informações Amanda Careno lembra aos pais a necessidade de administrar o conteúdo que as crianças e adolescentes estão expostos. “O abuso e exploração sexual das crianças não é apenas o caso resultado de contato físico. Qualquer contato que visa o prazer de um maior já configura abuso”, esclarece.
Alan José Mateus, que também é conselheiro do Conselho Tutelar, esclarece que a função do Conselho é investigar todas as denúncias que chegam. Por isso ele fez questão de divulgar os telefones de atendimento: 3442-5125 (das 8 às 17 horas) e o 99783-0788 (plantão 24 horas). Qualquer denúncia pode ser feita anonimamente e até a cobrar. “As denúncias que chegam vamos verificar. Muitas vezes saímos para atender um caso e encontramos casos desse tipo”, lembrou. Ele alertou para a população evitar trotes nos telefones do Conselho. “É um assunto muito sério para ser alvo dessa prática”.