Fernandópolis completa neste domingo, 22, 77 anos de fundação. A Câmara vai outorgar em sessão solene às 10 horas, a Medalha 22 de Maio a 13 personalidades. Entre os homenageados estará o senhor Alfredo Scarlatti Sobrinho, que vai completar 81 anos no dia 8 de agosto. Ele chegou a Fernandópolis em 1945 com 10 anos de idade. A cidade estava completando 6 anos de fundação. Nestes 71 anos, ele que se formou contador na “escola da vida”, se transformou no secretário de finanças preferido de grande parte dos prefeitos a partir do momento que se aposentou como gerente no Banco Bandeirantes do Comércio, a primeira agência bancária da cidade.. Trabalhou com Newton Camargo, Luiz Vilar, Armando Farinazzo, Newton Camargo (Adilson Campos), Rui Okuma (Ana Bim). Ficou fora apenas na gestão do Milton Leão, porque tinha estranhado a briga política na gestão do Camargo. Virou o dono do cofre na Prefeitura. “Sempre fui convidado pelos prefeitos. Quando terminou o mandato da Ana em 2008 eu decidi que era hora de parar e deixar para os mais jovens”, disse. Com memória invejável, Scarlatti relembrou momentos marcantes dos 71 anos de Fernandópolis, ao lado da esposa Odete Sebastiana Agustini Scarlatti.
O senhor chegou aqui em 1945 com 10 anos de idade. O senhor vinha de onde?
De Guapiaçu, perto de Rio Preto. Viemos com a família. O meu pai, José Scarlatti, foi convidado para trabalhar na prefeitura como lançador, onde se aposentou. O prefeito na época era Miguel Dutra da Silva. Era o prefeito nomeado.
Que cidade o senhor encontrou quando chegou aqui em 1945?
Olha, a cidade tinha apenas seis anos de existência. Eu achei até que tinha muita coisa, mas era ainda um descampado. Eu me lembro, era ainda menino, então todo dia de manhã eu ia buscar leite no curral que ficava ali onde era a antiga chácara do Badéco (próximo ao Mercadão). Tudo ali era zona rural. Meu pai tinha caminhão e ele viajava muito por aqui desde 1930, vinha trazer mantimentos para o Afonso Cáfaro, que foi um dos primeiros moradores daqui. Depois meu pai transportava a produção para Guapiaçu onde tinha máquina de benefício. Então meu pai já conhecia muita gente por aqui, mesmo antes da fundação. Meu pai conheceu todos.
Como foi a viagem de mudança para chegar a Fernandópolis?
Nós saímos de lá (Guapiaçu) de manhã, antes do almoço e chegamos aqui em Fernandópolis no dia seguinte. Foi mais ou menos umas 24 horas de viagem. Só parava para comprar alguma coisa na estrada. Era tudo mato por aqui. Meridiano, por exemplo, tinha apenas umas casas de pau-a-pique. Naquela época, Meridiano chamava Maravilha. Valentim Gentil também não tinha quase nada. A estrada era muito difícil, chovia, encravava, um dilema. Era muita mata. Durante a noite, como meu pai conhecia o caminho e tinha muita prática, a viagem foi tranquila.
Chegou e foi estudar onde?
No Grupo Escolar Joaquim Antônio Pereira que já existia. Se não me engano, era o segundo ou terceiro ano de funcionamento. Eu me lembro de que todo dia antes de entrar para sala de aula, a gente se reunia na frente da escola, cantava o Hino Nacional e depois entrava.
Neste domingo, 22, Fernandópolis completa 77 anos e o senhor chegou aqui há 71 anos. O senhor viveu a maior parte da história da cidade?
Fiquei uns anos fora. Era bancário, trabalhava no Banco Bandeirantes do Comércio e fui transferido para Assis. Fiquei três anos lá e depois retornei. Isso foi em 1957 e no final de 1959 eu voltei. Em 1968 fui para Estrela d´Oeste para a gerência do Banco lá e retornei em 1974. Eu comecei a trabalhar com 11 anos no Escritório de Contabilidade do Arnaldo Beviláqua, acho que foi um dos primeiros escritórios daqui. Com 14 anos fui para o banco. Entrei no dia da inauguração, era o primeiro banco da cidade, Banco Bandeirantes do Comércio que foi instalado ali na Rua Brasil em frente à Lotérica Fernandópolis do Fernando, naquele prédio que funcionou o Feirão do Alumínio. Depois é que construiu o prédio próprio na Rua São Paulo esquina com a Avenida Amadeu Bizelli. Fiquei trabalhando como continuo até 1957. Aí fui fazendo carreira no banco e fui para Assis como sub-contador. Quando teve uma vaga aqui da sub-contadoria eu fui transferido para cá. Em 1960 fui promovido a contador e sub-gerente até 68 quando fui transferido para Estrela d´Oeste como gerente. Em 1974 retornei para Fernandópolis e fiquei até me aposentar em 1979. Em 1980 quando minha mulher (dona Odete) prestou concurso de ingresso ao magistério não tinha vaga por aqui e ela escolheu Jundiaí. E fomos todos para Jundiaí.
E quando foi que senhor começou a trabalhar na Prefeitura?
No final de 1982, no final de ano, viemos prá cá e encontrei, por acaso, o Raul Gonçalves que era meu amigo. Eu fui gerente de banco e ele tinha máquina de café, então ficamos amigos. E ele me convidou para trabalhar na prefeitura. Ele falou, vem prá cá, o Camargo, que também era conhecido meu, ganhou a eleição. Topei e foi quando já a noite teve uma reunião e já voltei para Jundiaí. A família ficou lá e eu vim prá cá. A posse naquele tempo era em março, Foi quando iniciei a segunda etapa de atividade profissional. Assumi o cargo de secretário de Finanças. Toda a vida trabalhei nesta função na prefeitura.
O senhor ficou o mandato do Newton Camargo inteiro?
Seis anos. Aí saiu o Camargo e entrou o Milton Leão. Fui convidado, mas nos primeiros seis anos eu estranhei a briga política que tinha com a Câmara de Vereadores que não aprovava projetos. Lembro-me que teve uma ocasião que (a Câmara) não autorizava a verba para comprar combustível então, o Camargo encheu a praça de máquinas. Quando eu saí, falei, não quero saber disso mais. Aí o Milton me convidou, mas não quis. Quando terminou o mandato do Milton entrou o Vilar e ele sabia que não queria, mas foi lá com o Camargo em casa, fizeram uma força e eu acabei voltando. Fiquei até o final da administração da Ana Bim.
Quais os prefeitos com quem trabalhou?
Camargo, Vilar, Farinazzo, depois novamente o Camargo que faleceu e entrou o Adilson Campos, aí veio o Rui Okuma que também faleceu e continuei com a Ana Bim até o fim do mandato no final de 2008. Estava com 75 anos e achei que estava na hora de dar lugar para outro mais novo.
Naquele tempo o senhor ficou conhecido como dono do cofre, porque mudava o prefeito, mas o senhor continuava?
É verdade. Podia mudar de partido, mas Graças a Deus a amizade que a gente tinha e o modo de trabalhar, então a gente era sempre convidado. Mudava prefeito, mudava partido e eu continuava. Sempre fui convidado, mesmo antes do prefeito tomar posse ele me procurava e perguntava se queria continuar. Sempre foi assim.
Sua opinião sempre pesava na decisão do prefeito sobre determinados gastos. Tinha prefeito que dava trabalho?
Na época que não existia a Lei de Responsabilidade Fiscal então prefeitos podiam estourar o limite que o Tribunal de Contas deixava passar. Então tinha sim. Tinha prefeito que eu chegava e tinha que falar, uns entendiam, outros questionavam, mas sempre me dei muito bem com todos e sempre foi tranquilo.
O senhor chegou a trabalhar na vigência da Lei de Responsabilidade Fiscal?
Cheguei. Foi logo depois que o Armando Farinazzo saiu, aí entrou o Camargo e já era essa Lei, mas aquela época ainda Fernandópolis gozava de uma situação bem melhor, a cidade ainda tinha uma boa arrecadação, nós éramos da região o município que mais arrecadava ICMS, mais do que Votuporanga, então não tinha muito problema não. Hoje eu vejo que está muito difícil. Dá até dó de prefeito. Eu achei mais fácil trabalhar com a Lei de Responsabilidade porque os secretários de finanças passaram a ser responsáveis também. Então toda a licitação o secretário de finanças tem que declarar garantindo que vai ter previsão de receita para a execução da licitação.
Hoje quando o senhor olha para Fernandópolis aos 77 anos, ela superou sua expectativa ou cresceu menos do que poderia crescer?
Acho que superou sim. Hoje quem anda por aí nota que a cidade está muito grande. Eu até estranho quando anunciam o número da população. Eu acho sempre que tem mais (população). Mas, a cidade poderia ter avançado mais não fosse a política. Uma coisa que vou falar e acho que Fernandópolis deu até uma estacionada foi quando no final do governo do Farinazzo ele não se reelegeu. Quando o Armando era prefeito a cidade ainda era a líder da região. Ele foi candidato à reeleição e o partido era o mesmo do governador (PSDB) e o Armando era o líder da região e muito respeitado. Então o PSDB não foi reeleito e quem ganhou foi Votuporanga onde o partido do governo ganhou e nunca mais saiu do poder. Jales também. Fernandópolis teve ainda o azar de perder dois prefeitos. O Newton Camargo, um dos prefeitos com quem eu tinha mais amizade, confiança, infelizmente faleceu, teve um ano só de administração e aí depois veio o Rui OKuma, era uma esperança, aconteceu a mesma coisa.
Desse período de 71 anos em Fernandópolis, qual foi o momento marcante?
Eu era garoto ainda, acho que tinha 12 anos, eu estava na Estação, na chegada do trem. Foi histórico, a cidade toda estava esperando o Trem. Foi uma festa. Veio o governador, acho que era o Adhemar de Barros. Nossa, naquele dia foi uma polvorosa na cidade.
A cidade sempre teve essa divisão política?
Desde o começo, Rolim, Pacheco e por aí foi até hoje. Todo mundo falava, Votuporanga termina eleição tá todo mundo junto. E aqui é difícil. Veja que a cidade nasceu de uma rixa entre Brasilândia e Vila Pereira. Eu trabalhava no Escritório de Contabilidade que tinha várias firmas lá de Brasilândia, então eu tinha que levar documentos pra lá. Eu passava um aperto danado. Nossa Senhora, a molecada provocava. Até a molecada tinha rixa. Demorou muito para superar isso. Aquela época era muito longe a Brasilândia, no caminho não tinha nada. Hoje já emendou tudo.
Fernandópolis está comemorando 77 anos. O que gostaria que a cidade ganhasse de presente de aniversário?
De presente de aniversário teria que ser uma união política verdadeira. Não podemos continuar com brigas, querer cassar prefeito. Olha, isso não pode, porque senão vamos continuar por baixo.
O senhor vai receber neste domingo, 22, a Medalha 22 de Maio. Como está sentindo?
É honra. Foi uma emoção quando o André Pessuto (presidente da Câmara, autor da indicação da homenagem) esteve aqui para me convidar. Eu não esperava. Pra mim, talvez até não mereça, mas fico muito feliz com a lembrança. Não preparei discurso, vai ser de improviso. Deixar a emoção falar. (A esposa do sr. Alfredo, Dona Odete, lembra que ele recebeu uma Moção de Aplausos indicada pelo então vereador José Carlos Zambon, que está em um quadro na sala de jantar).