No Dia das Mães, muitas mães receberão beijos e abraços dos seus filhos. Mas algumas mães, escolhidas por Deus, receberão beijos e abraços especiais, que revelam a pureza de um amor incondicional. São as mães de Down. Graziela Zantedeschi Mazeti, casada com o engenheiro Marcos Antônio Mazeti, presidente do Sindicato Rural, é mãe de Gabriel, 20 anos, e de Manuela, 9 anos. Ela diz que queria ser dentista, quando Gabriel nasceu e descobriu ser mãe de um menino com Síndrome de Down. Foi então, que ouviu o conselho da mãe e buscou a Psicopedagogia Clínica, com aperfeiçoamento em Educação Especial pelo filho Gabriel e por outras pessoas. “Trabalho nesta área e gosto de ajudar as pessoas a entenderem suas dificuldades, tentar supera-las e se sentirem alguém no mundo”, afirma.
Nesta entrevista especial para o Dia das Mães, ao CIDADÃO, Graziela conta como percorreu, ao lado do marido, por esse mundo, até então desconhecido, do Down. No início, sentiu medo, não sabia o que era a Síndrome de Down, não tinha muita informação e nem vivências com pessoas especiais. “Mas com o passar dos anos percebi que ser mãe de uma pessoa com Síndrome de Down, é como ser simplesmente mãe de outro filho sem deficiência, que tem suas responsabilidades, suas preocupações, que ama por completo, incondicionalmente, é ajudar, orientar no que precisar; ser mãe é quando você percebe realmente o sentido da vida”, diz. A entrevista é um roteiro para encontrar sentido para o amor. Por isso, ela encerra a entrevista com um recado para mães e pais de Down:
“Amem... tenham fé...”
O que é ser mãe do Gabriel?
Ser mãe do Gabriel primeiramente deu muito medo, não sabia o que era a Síndrome de Down, não tinha muita informação e nem vivências com pessoas especiais. Mas com o passar dos anos percebi que ser mãe de uma pessoa com Síndrome de Down, é como ser simplesmente mãe de outro filho sem deficiência, que tem suas responsabilidades, suas preocupações, que ama por completo, incondicionalmente, é ajudar, orientar no que precisar; ser mãe é quando você percebe realmente o sentido da vida.
O Gabriel completou 20 anos esta semana. O que ele te ensinou ao longo dessa jornada?
Sim, completou! Me ensinou muito. Primeiramente a ser a pessoa que sou hoje. Graças a ele vejo o mundo com outros olhos, acho que aprendi ser mais paciente, encarar as dificuldades com mais perseverança, me ensinou a ser mais humana.
Qual foi o momento mais especial desse encontro, mãe, pai e filho?
Foi quando realmente aceitamos a deficiência dele, porque quando descobrimos foi um choque, muito difícil encarar que você tem um filho especial. Claro, que sempre amei, desde o ventre, mais o momento mais especial foi quando o aceitei assim, como realmente é. Infelizmente isso só aconteceu por volta dos 3 anos.
Em algum momento você temeu essa responsabilidade com o Gabriel? Como lidaram com o placar de erros e acertos?
Sim, quando nasceu. O que vou fazer? Pensei. Não entendo, não conheço... tive medo, receio e acho que até preconceito. O que me ajudou muito a entender e a lidar com a situação foi meu marido, Marcos e minha família, que nunca me abandonaram e sempre estiveram presentes, nas horas felizes e tristes. Isso me deu forças e me ajudou a encarar o que estava acontecendo.
Muitos pais adotam a prática de esconder o filho alegando querer protege-lo do mundo. Como conduziram essa questão?
Nos anos iniciais do Gabriel, eu passei por isso, não contava a nenhum amigo sobre a deficiência, percebi aos poucos que foi por ter medo das conversas, vergonha de ter um filho assim e as pessoas te apontando, tem sim um certo pensamento de proteção, mas foi uma mistura de preconceito, medo e vergonha. Acho que enquanto esses tipos de pais não aceitarem, que a aceitação não é fácil, vão continuar escondendo. E a aceitação deve ser natural, você pesquisar sobre o que seu filho tem, o que fazer, que profissionais procurar, apoio na família, porque isso vai atrapalhar a vida desse filho e desses pais que estão fazendo isso, pois irão estar perdendo tempo de aproveitar, viver coisas boas e ainda, deixar de dar oportunidade do filho se sentir uma pessoa feliz.
A chegada da filha, o que ela acrescentou na vida do Gabriel?
Nossa, a chegada da Manuela foi muito importante e feliz para todos nós. Quando ela nasceu ele tinha 11 anos. Então, primeiramente ficamos preocupados com ciúmes, mas na gravidez, conversamos muito com ele, demos responsabilidade. Ele vai ajudar, vai cuidar... então ele se sentiu importante e útil. Ele amou e ainda a ama muito. Ela o deixa calmo, tranquilo, e como todo irmão às vezes sai uma briguinha.
O que você descobriu sobre o mundo do Down e o que te surpreendeu nesta busca?
Nossa! Descobri que o mundo Down tem suas perfeições, são puros, verdadeiros, amam de verdade, são sensíveis, muito carinhosos, são também bravos como qualquer um quando querem algo, mas o mais importante é que sabem ser felizes, do seu jeito e passam essa alegria maravilhosa pra gente. É uma energia muito forte.
Como foi levar o Gabriel para a escola?
Foi difícil. Começou o tratamento com multiprofissionais na Apae de Curitiba/PR, pois nasceu lá. Aos 3 anos foi pra escolinha infantil e se adaptou bem. Até o 5 °ano foi bem, teve suas dificuldades, mas não posso considerar ruim. A partir do 6° ano teve problemas, pois eram vários professores, conteúdos que não entendia... assim, ficou estudando até o 7° ano e depois, por conta própria, aos 17 anos, não quis mais continuar estudando. Atualmente faz aula particular, natação, equoterapia e fonoaudiologia, que contribuem muito para seu desenvolvimento.
Hoje você é psicopedagoga. O filho contribuiu para buscar essa formação?
Com certeza! Eu queria ser dentista! Ia prestar vestibular quando ele nasceu. Então, quando eu estava chorando no quarto, minha mãe que é Pedagoga, me disse: Por que você não faz Pedagogia e depois se especializa na área dele? Demorei para entender, mas este era o meu destino. Hoje não sei fazer outra coisa. Trabalho nesta área e gosto de ajudar as pessoas a entenderem suas dificuldades, tentar supera-las e se sentirem alguém no mundo.
Qual o seu olhar para a inserção social das crianças especiais em salas de aulas comuns? Quais os acertos e erros dessa inserção?
Na minha opinião, ainda é muito difícil a inclusão, pois apesar de termos professores conscientes, dispostos a trabalhar com a diversidades, sabemos que as crianças especiais como qualquer outra criança não são iguais, cada uma com suas individualidades, particularidades, cada uma aprende de um jeito... Isso dificulta um pouco o trabalho do professor, mas ele não pode desanimar e deve tentar fazer a sua parte na educação daquela criança. Ajudando a crescer e se sentir igual a todas fazendo parte da sala de aula. Mas a inclusão depende dos pais também, eles que sabem o que é melhor para seus filhos, se querem que estude nos princípios inclusivos ou se querem que estudem em escolas especiais.
Qual seria o ideal de educação para inserir socialmente nossas crianças especiais?
Acho que seria primeiro a aceitação dessas crianças, respeito com as diferenças, paciência, buscar conhecer e estudar a deficiência que está trabalhando e gostar do que faz. Isso é o principal.
Com sua experiência de mãe, qual mensagem deixaria para as mães de filhos especiais?
Amem... nunca deixem de amar, por mais difícil que seja o caminho, por mais dificuldades que passem, lutem por seus filhos, tenham fé, acreditem neles, pois são capazes, cada um do seu jeito. Deem a oportunidade de viverem e serem felizes!