“Escolhi enfrentar as dificuldades”

20 de Agosto de 2025

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“Escolhi enfrentar as dificuldades”

Samuel Bortolin é uma daquelas pessoas que desafiam os limites e emociona os que conhecem sua história. Ele nasceu prematuro, no sexto mês de uma gestação de gêmeos. O irmão morreu. Ele sobreviveu, mas trouxe uma sequela: Paralisia Cerebral em grau severo. Os diagnósticos eram os mais pessimistas. Aos 27 anos, desmontou os prognósticos que apontavam que ele nem ficaria de pé. É exemplo de superação. É senhor do seu destino. Fernandópolis faz parte de sua história. Aqui ele cursou duas faculdades. Na Unicastelo, fez o curso de Direito e na FEF, cursou Educação Física. 
“Sou completamente independente, trabalho, dirijo, morei por cinco meses no exterior, onde pude aperfeiçoar-me como atleta. Sim, eu corro! Participo de provas de rua, e minha meta é sempre me superar, sempre buscar um tempo melhor, sempre ver como posso fazer para alcançar meus objetivos”, escreveu sua página no facebook. Além disso, faz palestra baseada em sua história de vida. E é uma palestra para Policiais Militares que está trazendo ele novamente a Fernandópolis. Sua história, que é inspiração para todos, motivou essa entrevista aos leitores do CIDADÃO. 

Quem é Samuel Bortolin?
Tenho 27 anos, sou paratleta e palestrante. Nasci aos seis meses de gestação e por complicações no parto, tenho paralisia cerebral de grau severo. Os prognósticos médicos diziam que eu não andaria, que nem chegaria a engatinhar. Um médico disse que seria possível eu andar, minha família acreditou nele. Comecei a andar aos sete anos de idade, após fazer uma cirurgia de rotação de bacia e alongamento de tendão. Hoje sou corredor amador, me formei em Educação Física e Direito e tenho bastante autonomia.
Superação, senhor do próprio destino... Enfim, como você se definiria?
Acredito que toda pessoa possa e deva ser o senhor do seu próprio destino. Isso é uma questão de postura perante a vida, onde você tem duas opções: ou se abate e cai no vitimismo, ou enfrenta as dificuldades da melhor maneira possível. Minha escolha é a segunda opção.
Em que momento da sua vida você resolveu ser protagonista?
Aos 16 anos de idade, eu estava exausto da rotina de fisioterapia e tratamentos ortopédicos, aí relaxei. Como consequência, minha coluna travou e ouvi dos médicos que teria que parafusá-la, ou mudar minha rotina, com treinos de fortalecimento muscular mais intensos. Foi aí que tive a percepção de que meus resultados demandariam um esforço de minha parte. Vi que só era possível ter autonomia com muita dedicação, e desde então, vivo uma constante evolução.
Esta semana você publicou em seu facebook que atingiu a marca de 1.000 km em três anos. O que representa essa marca?
É uma marca muito especial, é daquelas coisas que conseguem te impulsionar. Sempre que passa pela minha cabeça desistir, penso em algo marcante e percebo que vale a pena continuar, vale a pena acordar de madrugada, sob chuva ou qualquer outra adversidade, e isso me motiva a continuar me superando. Não imagino até onde eu posso ir, mas vou continuar buscando melhorar sempre.
Você passou um período em Fernandópolis quando fez a Faculdade de Direito. Como foi esse período?
Lembro-me de Fernandópolis e dos fernandopolenses com muito carinho. Esta cidade foi fundamental no meu processo de amadurecimento para a vida adulta, foi a primeira vez que eu morei sozinho, e que tive bastante autonomia. É muito gratificante cada vez que eu retorno, o pessoal é muito acolhedor. Fiz amizades aqui que levarei para o resto da minha vida.
Além disso, você cursou uma segunda faculdade, a de Educação Física? 
Sim, cursei. Assim que me mudei para Fernandópolis, continuei o curso de Direito na Unicastelo, e ingressei na FEF, para dar inicio a Educação Física. Fiz Direito pela manhã, Educação Física à noite, e a tarde tive muitas vezes jornada dupla de estágio. Ainda assim, vivi de forma muita intensa por aqui.
Como foi a sua relação com as pessoas? Em algum momento viu algum olhar de pena?
Sempre busquei amizades pela pessoa que eu sou, nunca busquei aproveitar de uma situação ou me colocar como vítima para obter algo. Essa é minha conduta de vida, com uma educação muito bem passada pelos meus pais. Então, se alguém tinha pena ou algo do tipo, dificilmente me aproximava, já as pessoas que queriam me ajudar por consideração, essas tem minha amizade até hoje. Isso é uma conduta que aprendi desde criança e levarei para o resto da vida. 
Quem te inspirou para transformar a sua jornada em exemplo de superação?
Muitos dos meus amigos (inclusive de Fernandópolis) me falavam “cara, sua história de vida me motiva a querer ser uma pessoa melhor”. Eu quando criança, sempre quis ter alguém com as mesmas dificuldades que as minhas, me aconselhando, me dando uma perspectiva positiva da vida, mas nunca conheci nenhum PC mais velho do que eu (PC é o termo utilizado para paralisia cerebral). Então, comecei fazendo eventos para crianças com deficiência e seus familiares, com o intuito de motivá-los e fazê-los enxergar as coisas da melhor maneira possível, a partir daí, surgiram outros tipos de público com interesse em me ouvir. Percebi então, que poderia fazer eventos mais abrangentes.
Você está retornando a Fernandópolis para uma palestra. O que você aborda em suas apresentações?
É muito bom retornar aqui, poder ver meus amigos, e lembrar de momentos vividos em Fernandópolis. Abordo nas apresentações, minha vida de modo geral, a maneira que eu lidei com as adversidades, e tento passar para todas as pessoas uma melhor perspectiva sobre a vida.
Você se julga vítima do destino? Como olha para a vida?
Julgo-me com muita sorte! Vim de um parto de gêmeos, fui o único sobrevivente. Tenho bons amigos, uma parceira incrível e uma família extraordinária. Minha mãe sempre me disse que Deus não da uma cruz que a gente não possa carregar. Acredito que todos temos um propósito e que o fato de eu ter nascido com essa condição, poderia proporcionar para as pessoas do meu convívio e para mim, um aprendizado diferente.
O que você ainda sonha para sua vida? 
Eu tenho muitos sonhos. Um deles é manter essa evolução constante, me superando. Outro é conseguir transmitir minha história de vida para o maior número de pessoas possível.
Qual mensagem você deixa a população?
Onde está seu foco, está a sua força. Todos nós podemos ser o senhor do nosso próprio destino, mas esse caminho na maioria das vezes vai na contramão do comodismo, do vitimismo e do conformismo. Você vai se expor mais para vida, provavelmente até irá se machucar mais tendo essa postura, mas ao final, é muito gratificante!