Ansiedades, depressões, fobias sociais...

20 de Agosto de 2025

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Ansiedades, depressões, fobias sociais...

Esses são alguns dos efeitos colaterais no ser humano produzidos por um mundo onde prevalece o excesso de informação, competitividade, situações de estresse, jornadas de trabalho muito longas e a busca constante por melhores resultados e desempenho. Para o psicólogo clínico e palestrante Everson Mandarini Masson, com tantas facilidades que a tecnologia e modernidade oferecem, estamos deixando de ser humanos.  “O resultado não seria outro, estamos adoecendo coletivamente”, diz nesta entrevista ao CIDADÃO, onde faz um apanhado dos problemas que, cada vez mais, afligem as pessoas. A busca de ajuda terapêutica com profissionais habilitados é o caminho para o equilíbrio emocional. “Quando se procura um profissional, ele não está lá para dar conselhos, julgar, dizer se você está certo ou errado, mas sim para pensar junto e ajudá-lo a chegar à verdade, em quem você realmente é”.  
Quando procurar um psicólogo?
A busca por uma ajuda profissional surge antes mesmo do terapeuta. Quando algo não vai bem, incomoda, machuca, persiste e não encontramos recursos suficientes em nós mesmos para compreender e enfrentar a situação que está afetando ou impedindo o andamento saudável de nossa vida, é o sinal de que necessitamos buscar um auxílio psicológico, é sua alma gritando num silêncio escuro e desesperador; a maioria tende a procurar alguém, um bom amigo, uma cartomante, ou seja, alguém que ouça e ajude. Outros preferem ouvir música, jogar bola, dançar, tomar uma cervejinha com os amigos. Realmente tudo isso pode ser útil para superar as dificuldades, porém o alívio proporcionado é apenas momentâneo e superficial, quando não representa apenas uma fuga. Você já reparou que quando procuramos alguém para desabafar, o outro sempre tenta contar a sua própria história e ficamos com a sensação de que não fomos ouvidos? E naquele momento você precisava de alguém que o ouvisse com atenção e pensasse junto para aliviar a dor e ajudá-lo a trilhar um novo caminho. É nisto que o processo psicoterapêutico se difere. A Psicologia, com suas técnicas científicas e fundamentos teóricos filosóficos, pode realmente ajudar as pessoas a viverem melhor, pois o objetivo maior é o autoconhecimento. É preciso deixar claro que quando se procura um profissional, ele não está lá para dar conselhos, julgar, dizer se você está certo ou errado, mas sim para pensar junto e ajudá-lo a chegar à verdade, em quem você realmente é. O importante é procurar um profissional com sensibilidade para entender sua dor e que lhe faça sentir acolhido. Costumo dizer que a sessão vai além de um encontro com o terapeuta, é um encontro do paciente consigo mesmo. Infelizmente, o preconceito mistura-se com a ignorância, fazendo com que muitos deixem de se beneficiar do trabalho terapêutico. Participar deste processo ainda é considerado “coisa de louco” quando, na realidade, a alienação de si mesmo é que se torna um dos grandes geradores de conflitos. Lembre-se que procurar ajuda terapêutica é um sinal de coragem e maturidade. Não de fraqueza, como muitos acreditam.
Quais os problemas mais recorrentes que chegam ao seu consultório?
Ansiedades, depressões, fobias sociais, transtorno do humor, relacionamentos conflituosos dentre outros, se evidenciam em nossa atualidade, os diversos problemas emocionais são representados por sintomas como: culpas, desesperanças, isolamento, agressividade, insônia, labilidade, raiva, vingança, medos, frustrações, solidão, rejeição... Desencadeando também manifestações psicossomáticas, uma mente doente adoece o corpo, gosto da citação de Henry Maudsley quando diz: ‘’A aflição que não encontra saída através das lágrimas, faz com que outros órgãos chorem’’. As queixas de  dores físicas são muito comuns, geralmente após uma verdadeira peregrinação de médico em médico e sucessivos exames, o paciente sente um paradoxo alívio em saber que não tem nada, porém continua sentindo as dores, surge a frustração de não saber o que está lhe acontecendo, exemplos claros destes sintomas são as fibromialgias, cefaleias tensionais, distúrbios gastrointestinais, doenças auto imunes e etc.    As doenças psíquicas sempre existiram mas talvez antigamente não recebessem muita atenção, as pessoas podiam ter medo de serem vitimas de preconceitos e talvez escondessem seus sentimentos, ou síndrome do pânico, por exemplo, mas sofreram em silencio por não saberem que se tratava de algo que poderia ter atendimento. Há até quem diga que virou moda falar nestes temas e que antigamente não existiam tais problemas, mas na realidade o que não existia era o nome do problema.
Como lidar com as dores alheias sem se deixar influenciar?
 A relação entre terapeuta e paciente é tema de infindáveis discussões no meio acadêmico já há muitos anos. Situações em que o terapeuta se mostra muito pouco e, com isso, frustra o paciente, inviabilizando o processo não são raras. Em minha experiência como psicoterapeuta, tenho encontrado algumas razões bastante fortes para compreender a atitude arredia de alguns profissionais. Entretanto, continuo a pensar que, quando um terapeuta não se apresenta como pessoa, dentro de seu consultório, o processo está destinado a fracassar. Não que a exposição deva ser total, desmedida. Apenas tenho razões para crer que aquele terapeuta que não se expõe em seu ambiente de trabalho, o faz por mais por uma convicção técnica. Posicionamentos radicais carregam a ideia de que o terapeuta deve manter certa distância de seu paciente para que consiga avaliar de forma eficiente o caso que atende, esta postura me parece não muito acolhedora dificultando muito o fortalecimento do vínculo terapêutico. Aprecio muito a afirmação de Carl Jung ‘’Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana’’. Neste ponto reside o grande desafio do profissional manter sua neutralidade, sempre amparado por seus referencias teóricos filosóficos, o que o lhe deixa seguro no processo terapêutico, mas jamais permitir que a técnica sobreponha a humanização da relação. Para finalizar esta questão, julgo relevante fazer a seguinte pergunta: E quem cuida dos cuidadores? É imprescindível que o terapeuta tenha alguns cuidados, desde com seu bem estar físico, mental e social, buscando sempre novos conhecimentos, tendo seus momentos de lazer, manter uma supervisão com outro profissional, e lembrar sempre que antes mesmo de ser terapeuta é um ser humano e também deve respeitar seus limites.
Por que as pessoas andam tão deprimidas?
Primeiramente temos que entender que depressão não é tristeza, é uma doença que necessita de tratamento, proveniente de uma disfunção no sistema nervoso central, que desequilibra e diminui as concentrações de determinados neurotransmissores, responsáveis pelo aparecimento de sintomas físicos, emocionais e comportamentais. Algumas pesquisas apontam que 18% das pessoas vão apresentar um episódio de depressão ao longo da vida. Lembrando que somente um profissional pode diagnosticar corretamente a depressão clínica, mas é preciso que o indivíduo apresente pelo menos cinco dos sintomas, por duas semanas consecutivas, sendo as mais evidentes a tristeza e a perda de interesse em atividades que antes eram prazerosas. Retomando a questão, especialistas tem afirmado que a depressão é uma das doenças mais comuns da atualidade, estima-se que atualmente, cerca de 350 milhões de pessoas no mundo todo sofrem de depressão. A doença tem crescido consideravelmente nestes últimos anos, estudos deflagram que o excesso de informação, competitividade, situações de estresse, jornadas de trabalho muito longas e a busca constante por melhores resultados e desempenho configuram este triste cenário mundial. Digo sempre que tantas facilidades que a tecnologia e a modernidade nos trouxeram, sem dúvidas de grande valia, todavia também trouxe alguns efeitos colaterais para a humanidade, talvez o pior deles, estamos deixando de ser humanos. O resultado não seria outro, estamos adoecendo coletivamente.
O ser humano gosta de sofrer? De ser eterna vítima?
Inicio respondendo esta pergunta, com uma parábola. ‘’Muitas pessoas se preocupam muito com a colheita e se esquecem de semear’’, o que fatalmente sucumbi em uma geração de pessoas frustradas, esta mentalidade de vítima é muito prejudicial, pois nesta condição na qual a própria pessoa se coloca, deixa de assumir suas responsabilidades no problema, vive acreditando que a vida é injusta, que não tem sorte e nada dá certo para ela, esperam que algo lhes aconteça permanecendo em uma passividade diante dos desafios. Este complexo de vítima é ver a si mesmo como um eterno mártir sofredor. Os que caíram nas garras da auto piedade vão por aí, puxando a carroça dos seus sofrimentos quase sempre imaginários – mas não por isso menos reais – e, provocando nos outros, enfado e repulsa. Isso é muito triste, quando se sabe que tudo o que eles querem é exatamente o contrário: ganhar carinho e atenção. O vitimismo é mestre em matéria de distorção da realidade. Parente próximo da tristeza, quando ele possui uma pessoa, coloca diante de seus olhos um filtro cinza e opaco que a impede de apreciar – e se deleitar – com as cores do mundo. Encerro esta questão com dois pensamentos de um grande mestre, Carl Jung: ‘’Tudo aquilo que não enfrentamos em vida acaba se tornando o nosso destino. Aquilo a que você resiste, persiste”. Te encorajo a tomar um posicionamento diante de seu viver, abandonando a condição de vítima, e retomar sua história antes que alguém o faça.
Sócrates dizia na antiguidade: Conhece-te a ti mesmo? Ainda não nos conhecemos?
Sócrates foi um grande defensor do autoconhecimento, e durante a sua vida dedicou muito tempo para tentar entender a sua própria natureza. Esta frase indica que o primeiro passo para o verdadeiro conhecimento é nos conhecermos a nós próprios. Se quisermos conhecer o mundo à nossa volta, devemos em primeiro lugar conhecer quem nós somos. O conhecimento, conhecer a nós próprios, é um processo, uma busca que não tem fim e a cada dia podemos aprender mais. O processo de autoconhecimento muda a forma como uma pessoa interage com o mundo e com as outras pessoas, abrindo a possibilidade para conhecer e aprender novas coisas. Este caminho da descoberta de si mesmo, é um caminho sem volta e libertador!
A morte, a doença incurável e terminal, ainda são tabus?
Certa manhã vindo para o consultório, me chamou a atenção uma frase sobre o portal de entrada do cemitério “Se queres morrer bem, viva bem’’, imaginar que a cada dia nosso tempo está se esgotando, regurgita algumas emoções desconfortáveis, mas que nos chamam para uma reflexão, um intrigante paradoxo a morte ensinando a viver. A morte pode ser vista como um mistério incompreensível. Ou como um absurdo inaceitável. A morte pode até ser tratada como um tabu. Mas, seja como for, aceitemos isso ou não, a morte é uma realidade inexorável. Por mais que queiramos nos esconder dela, deixar de existir é tão natural quanto existir. A ideia da finitude remete um grande pavor e questionamentos sobre nossa própria existência diante do que não sabemos ou conhecemos causa estranheza e muito nos faz refletir se podemos ou devemos ocultar tal pensamento. O tema sobre morte e morrer requer seriedade, ética e respeito diante dos valores pessoais, familiares e culturais. O indivíduo se projeta diante da vida no antes e depois, por conseguinte na angústia de seu sofrimento que ora está no processo do adoecimento e morte. Estar doente significa já um estado de vulnerabilidade, e quando não há um tratamento mais humanizado o indivíduo se vê a sós diante do seu sofrimento e enfrentamento de sua patologia, somente num estágio como o enfrentamento da doença é que se dá conta de tantas etapas da vida que deixaram de ser valorizadas, no entanto não havia uma patologia. Esse questionamento está dentro da normalidade que o indivíduo vivencia, pois o colocam diante de sua real condição de pulsão de vida e morte, as instâncias psíquicas estão plenamente em conflito sobre tal questão. De acordo com uma das autoridades mundiais sobre o tema morte, Kübler-Ross salienta que enquanto a atenção é dada ao paciente, pela escuta, o indivíduo deixa fluir seu apelo à vida enquanto tem consciência que pode ser tarde demais. Neste processo do despedir-se, de encerramento de sonhos e planos envolto de intenso sofrimento a contribuição da Psicologia para com o doente em fase terminal é de suma importância, visto que sendo ele o profissional da escuta saberá acolher a expressão das dores pelas quais passa o paciente, sejam elas em relação à doença, seja em relação a algo mal resolvido, sejam temores, planejamentos para o pós-morte ou outros. O Psicólogo também poderá ajudar a família e a equipe de saúde a compreender a importância da fala do paciente nessa sua fase final evitando assim, que o mesmo seja negligenciado em relação à escuta.
“- Como podemos nos preparar para morrer? – Perguntei. – Fazendo como os budistas. No começo de cada dia ter um passarinho pousado no ombro, que pergunta: “É hoje que vou morrer”? Estou preparado? Estou fazendo tudo que preciso fazer? Estou sendo a pessoa que quero ser? [...] – A verdade Mitch, é que, quando se aprende a morrer, aprende-se a viver”. (MITCH, 1998, p. 84, 85).