Granella: agora, “Cidadão Fernandopolense” de fato e de direito

20 de Agosto de 2025

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Granella: agora, “Cidadão Fernandopolense” de fato e de direito

A Câmara de Fernandópolis outorgou o titulo de Cidadão Fernandopolense para o escritor, jornalista, fotógrafo, servidor público e voluntário Wilson José Granella.  Granella nasceu em Cedral e, aos três meses de idade, veio com a família para Fernandópolis. O título, então, confere a ele a cidadania de direito, porque a cidadania de fato, a história já consumou. Como escritor, Granella já publicou nove obras: “O Totem do Amor”, o primeiro em 1975. Depois vieram “O Repórter da Cidade - Fatos e Fotos sobre Fernandópolis” e os romances “Corações no Limiar da Eternidade”, “Por favor, Ajude-me a ser Feliz!”, “As Almas da Casa-Grande”, “O Afinador de Violinos”, “Sombras Arrependidas”, “Paixões que Esmagam” e “A Escuridão e o Alvorecer”. Ele produziu também nos últimos quatro anos DVDs - documentários fotográficos de Divaldo Pereira Franco e Chico Xavier. São eles: “Mansão do Caminho 60”, “Anos de Amor ao Próximo”; “Caminhos de Luz” e “Chico Xavier e outras Veredas”. Já a paixão pela fotografia o levou para a Polícia Científica. Mas foi no trabalho voluntário que Granella, ao lado da esposa Val e de voluntários, se realizou com a fundação da Associação Henry Pestalozzi, que hoje atende 80 meninas e meninos. “Se a câmera fotográfica que empunho há décadas nos retrata a todos por fora, encontrei no trabalho voluntário, que é ele que nos retrata por dentro e que fez toda a diferença na minha existência”, diz nesta entrevista ao CIDADÃO onde relembra a infância, a juventude rebelde na luta contra a ditadura e as experiências vividas no “chão desbravado por Joaquim Antônio Pereira”.

O senhor é homenageado pela Câmara com o título de “Cidadão Fernandopolense” proposto pela vereadora Neide Garcia.  Como recebeu essa homenagem?
Honrado pela lembrança do meu nome entre tantos que, nascidos em Fernandópolis ou em outras terras, contribuíram e ainda continuam elevando o nome deste abençoado chão desbravado por Joaquim Antônio Pereira e famílias que abrigam hoje os seus filhos, netos e bisnetos, além daqueles rostos anônimos de mãos calosas que igualmente domaram o sertão, erguendo o primeiro cruzeiro.
Quando chegou a Fernandópolis? Veio de onde? Que Fernandópolis encontrou? 
Desembarquei em Fernandópolis trazido pelos braços amorosos de minha jovem mãe Aparecida, aos três meses de idade, em agosto de 1956, vindo de uma casa pequena encravada num sítio dos arredores de Cedral, interior do estado de São Paulo. Os meus pais Aparecida e Deolindo (o primeiro motorista da circular da cidade, dirigindo uma perua Kombi na linha Praça Santa Rita de Cássia – Brasilândia – Estação Ferroviária) se casaram na igrejinha primitiva da antiga Vila Pereira, seguindo depois para Cedral, então moradia dos meus futuros avós paternos. Morando no bairro Brasilândia, ali fiz o curso primário, tendo por primeiros professores Nereide Rocha e Teruo Arakaki. Conheci de perto o fundador Carlos Barozzi, num tempo em que as quermesses ocorriam junto ao coreto do largo da igreja São Luiz Gonzaga, templo frequentado por meus pais, avós maternos, tios e primos; local de doces lembranças das aulas de catecismo ministradas por Antônio Marim (maestro e músico da Banda Municipal) e meu tio Celeste Maschio. Ali fui coroinha, ajudando nas missas e procissões. Aos 9 anos mudei com meus pais e o irmão caçula Edmilson para a conhecida Vila Aparecida, conseguindo o primeiro emprego no Escritório São Paulo, dos amigos Valcir Donda e Rubens Rio, tempo que existia a Carteira de Trabalho do Menor, registro do qual me orgulho muito. Fernandópolis corria em busca do crescimento regional, mesmo tendo políticos que se enfrentavam com todas as armas, nas eleições. Discursos memoráveis, aqueles do advogado e então prefeito municipal Percy Waldir Semeghini, apelidado de Gato, com o seu bigode farto e os inseparáveis óculos de armação grossa e preta.
Pode-se dizer que você conhece Fernandópolis por vários ângulos: como escritor, jornalista, fotógrafo e voluntário de entidade. Qual desses ângulos você prefere? Por quê?
Hoje, no entardecer da minha existência física por aqui, agradeço a Deus a bênção da vida, pelas manhãs de sol ou enevoadas, pelos entardeceres. Como escritor, as lembranças do acadêmico Mário Graciotti, amigo de Monteiro Lobato, escritor e editor que me auxiliou na publicação do meu primeiro livro, lançado em maio de 1975; no jornalismo, a experiência do polêmico João Garcia Pelayo (o Franco), Jayme e João Leone, Edson e Moacir Ribeiro (Rádios Difusora e Cultura, emissoras em que trabalhei); a fotografia que me abriu tantas portas e ampliou as minhas amizades, mais tarde me levou à Polícia Científica, no cargo de fotógrafo pericial.  Se a câmera fotográfica que empunho há décadas nos retrata a todos por fora, encontrei no trabalho voluntário, que é ele que nos retrata por dentro. Um difícil caminho que, junto a Associação Filantrópica Henri Pestalozzi, partilhando com a minha companheira querida Valdelice, a Val, educadora, as tarefas de cuidar de meninas e meninos para um Mundo Novo, fez toda a diferença na minha existência. “Em qualquer circunstância é preciso não esquecer que podemos ver e ouvir para compreender e auxiliar.”
Do jovem que levantou bandeira contra a ditadura ao voluntário de hoje. Como define essa caminhada? Qual a grande lição?
Vivi os meus primeiros anos de “rebeldia” quando o general Emílio Garrastazu Médici assumiu a presidência do Brasil em 1969. Bater no peito dizendo que, sem direitos e sem feijão era hora de oposição? Cadeia. Ficou a experiência, caminhos de tropeços, como tudo que resulta das nossas próprias escolhas. Sorrir e chorar? Adversários? Uma grande bobagem. O amanhã que desejamos deve ser desejado e executado hoje.
Como analisa esse momento que o Brasil passa em comparação com outros períodos dos quais, inclusive, participou? 
Quando garoto, muito jovem ainda, li o pequeno livro do jornalista e ensaísta político inglês George Orwell, falecido em 1950, chamado A Revolução dos Bichos. Igual ao autor, fui me enchendo, com o amadurecimento, de decepções com os políticos e suas ideias socialistas – discursos em que os fins justificam os meios, tragando o povo para o abismo em que ele não consegue enxergar ilusão e realidade. Uma sociedade mais justa e igualitária? O livro nos conta a história do senhor Jones e a sua granja, local em que os animais conversam, dialogam entre eles e, a partir do sonho de um porco, promovem uma Revolução etc. Encruzilhada qualquer exige que sigamos adiante. Do turbilhão que ora vivenciamos, certamente a renovação nos aguarda. A vida é marcada por períodos, terrenos aplainados e outros por solavancos...
Qual Fernandópolis você espera que saia das urnas em outubro?
Uma Fernandópolis que possa deixar uma carta aberta de moral e realizações às gerações futuras, deixando às traças do esquecimento aquelas criaturas voltadas ao universo do próprio umbigo.
O senhor está à frente de uma entidade em Fernandópolis, a Associação Filantrópica Henri Pestalozzi, que atende crianças, graças ao trabalho de voluntários. Quais os projetos que estão em andamento?
A Pestalozzi continuará neste ano de 2016 atendendo, com a ajuda de amigos e colaboradores de toda ordem, as meninas e meninos ali acolhidos. Em funcionamento a Padaria Café Caipira (toda terça-feira) e a Casa de Costura Benedita Fernandes (aos sábados), trabalho voluntário em favor da entidade.
Qual o maior desafio do chamado terceiro setor formado pelas entidades?
Caminhar com as próprias pernas, dependendo menos das migalhas governamentais; bagatelas que deixam as entidades sempre no meio de um furacão sem fim, forçando até, pelas circunstâncias, a mudanças dos seus objetivos junto à comunidade em que atua.
Como explicar esse lado voluntário dos fernandopolenses?
Fernandópolis, em seu todo, sempre foi uma cidade generosa (mesmo que afirmemos que são sempre as mesmas pessoas da sociedade a ajudar), voltada às necessidades de sua gente. Cada cidade com o seu rosto próprio. Há décadas não existem crianças e mães nas esquinas e ruas da cidade. Conheci de perto aqueles olhares entristecidos e mãos estendidas em direção dos motoristas e transeuntes. A caridade, as ações solidárias de um coração já mostram que a criatura está se descobrindo em um mundo em que devemos ser todos irmãos!
Qual o seu maior sonho, agora como cidadão fernandopolense?
Continuar fazendo o que venho modestamente realizando, até que minhas forças permitam, devolvendo à esta terra querida as bênçãos que ela me proporciona, desde que cheguei no colo de minha mãe, para habitar pequena casa do sítio Santo Antônio, à margem de um riozinho, afluente do córrego do Gatão, nos fundos do bairro da Brasilândia; procurar aprender e a ferir menos aqueles que caminham ao meu lado, para não acabar na desagradável condição de espinheiro...