Maria Guimarães Papa vai completar na semana que vem 31 anos de trabalho no Serviço Social da Santa Casa de Fernandópolis, que no dia 20 de fevereiro completou 60 anos de funcionamento. Ela chegou ao hospital recém-formada em Serviço Social e a sua dedicação resultou nesta união que dura há 31 anos a ponto dela afirmar com todas as letras: “Eu amo a Santa Casa. É aqui que quero estar. A Santa Casa faz parte de minha vida, cujo vínculo é além do exercício da minha profissão”. Em um hospital do porte da Santa Casa, Maria Papa, convive com a dor das pessoas que buscam socorro e geralmente são carentes. Além disso, enfrenta a restrição imposta pela crise financeira que assola a Santa Casa. O pior momento, diz, é lidar com a restrição de vagas. Mas há história que marcam como a de uma vítima de arma de fogo, com tetraplegia, que ficou internado na Santa Casa por cerca de oito meses entre UTI e unidade de internação. “Foram seis meses de atendimento multiprofissional, já que ele necessitava de cuidados tanto de Enfermagem, Fisioterapia, Terapia Ocupacional, Fono, Médico, Nutricionista e de todos os outros setores”, diz, lembrando-se de toda a operação montada até sua alta no início deste ano. “São casos como esse que nos motivam a continuar a nossa luta diária, em busca de novas vitórias, relata. Mas há cenas tristes, como a do incêndio que marcou a virada do ano na Santa Casa. “Foi uma cena terrível ... parecia estar assistindo a um filme de terror”. Na semana, que a Santa Casa completa 60 anos, a Assistente Social Maria Papa, que vive a Santa Casa há 31 anos, tem muita coisa a dizer:
A Santa Casa está completando neste final de mês 60 anos de fundação e no início de março, a senhora completa 31 anos no hospital.Como foi esse encontro?
A Santa Casa de Fernandópolis presta serviço à população de Fernandópolis e região há 60 anos, entretanto apresentando dificuldades financeiras sempre teve a preocupação de ampliar seu atendimento; considerando a demanda crescente e prestar atendimento humanitário e de qualidade. Meu ingresso na Santa Casa de Fernandópolis ocorreu assim que me formei e permanece até hoje, sendo, portanto, o primeiro e único emprego que tenho na minha trajetória profissional, que me proporcionou a ampliação de conhecimentos, experiência profissional, extremamente gratificante pela possibilidade de facilitar o atendimento desse seguimento à população, contribuindo com acesso a serviços de saúde de baixa, média e alta complexidade. Portanto a Santa Casa de Fernandópolis faz parte da minha vida cujo vínculo é além do exercício da minha profissão.
Como podemos definir sua atuação como Assistente Social na Santa Casa? Qual a maior dificuldade?
Com relação à minha atuação relaciono as principais ações:
-Acolhimento
-Orientação e encaminhamento para rede de serviço.
- Auxilio nas solicitações de vagas para outros serviços
-Apoio aos familiares
-Informação, comunicação e defesa de direitos dos usuários e acompanhantes
-Visitas domiciliares quando necessário
-Reunião com acompanhantes de paciente internados com periodicidade semanal
-Agendamento de exames fora do Hospital, entre outros
A senhora lida com a dor das pessoas que buscam socorro no hospital. Como é viver diariamente essa realidade na Santa Casa?
A dificuldade é a restrição de vagas e serviços de outras unidades de saúde em receber o paciente que a Santa Casa necessita encaminhar, muitas vezes o processo é moroso e as dificuldades encontradas resultam na minha frustação profissional, mesmo com conhecimento de que a situação é estrutural.
Como é administrar a situação de um paciente carente, com a situação da Santa Casa que vive uma das maiores crises financeiras?
Apesar da crise financeira, a Santa Casa de Fernandópolis tem se empenhado para manter um atendimento de qualidade e humanizado. A atual conjuntura socioeconômica e política brasileira e o baixo investimento do Estado na área da saúde têm repercutido diretamente na crise financeira dos hospitais filantrópicos, mais especificamente nas Santas Casas de todo território nacional. Em relação à crise financeira da Santa Casa de Fernandópolis, ainda não foi resolvido, cabendo prioritariamente a responsabilidade ao Estado e à sociedade Civil. Considerando que a responsabilidade é de todos nós, deve haver maior envolvimento dos municípios e dos cidadãos.
Nestes 31 anos na Santa Casa, alguma história marcou sua vida?
Paciente vitima de arma de fogo, levando a tetraplegia, deu entrada na Santa Casa de Fernandópolis dia 25 de maio de 2015 e alta para casa dia 4 de janeiro deste ano. Ficou quase oito meses na nossa instituição, entre UTI e unidade de internação. Nesse período foi necessário varias intervenções do Serviço Social, pois a família do paciente era do Pará, e precisava vir para prestar cuidados ao filho. Foram seis meses de atendimento multiprofissional, já que ele necessitava de cuidados tanto de enfermagem, Fisioterapia, Terapia Ocupacional, Fono, Médico, Nutricionista e de todos os outros setores.
Com a melhora do seu quadro clínico, começou-se a programar a alta para casa. Mais uma vez o Serviço Social entrou em ação, pois ele precisava de acompanhamento da atenção básica e inicialmente, de equipamentos. Em virtude da necessidade de equipamentos a sua alta foi prorrogada, devido a dificuldade de conseguir os mesmos através do SUS. Sendo assim, ele continuou hospitalizado recebendo toda atenção e carinho possível e necessário. No dia 4 de janeiro, ele foi embora, nos deixando com a clara visão de que prestamos um cuidado humanizado e digno. Atendendo a todas as necessidades do nosso cliente. E muito além, tentando garantir que esse cuidado permanecesse após sua alta hospitalar. São casos como esse que nos motivam a continuar a nossa luta diária, em busca de novas vitórias.
O que lhe dá mais prazer no desempenho de sua função?
Facilitar, agilizar e solucionar o atendimento do paciente.
O que a deixa mais triste?
O que mais me entristece é a rejeição e o abandono dos familiares de pacientes internados, cuja situação exige a intervenção do Serviço Social para acionar recursos da rede pública e privada como também a própria família.
Recentemente a Santa Casa passou por um incêndio em meio às festas de fim de ano. Como viveu este momento?
Foi uma cena terrível ... parecia estar assistindo a um filme de terror. Mas com apoio de colaboradores, médicos, Corpo de Bombeiros e a comunidade, a solução foi rápida para que os pacientes não ficassem sem atendimento. Porém, foi muito triste presenciar tudo aquilo.
Ao completar 31 anos no hospital, o que é viver a Santa Casa?
Durante esses anos convivi com dificuldades, mas por outro lado, com situações extremamente gratificantes que sempre me impulsionaram a continuar persistindo na expectativa de que os problemas fossem sanados. O êxito do trabalho do Serviço Social deve ser creditado também a todos os colaboradores, os diretores e ao corpo clínico, registrando meu especial agradecimento e gratidão. Eu amo a Santa Casa. É aqui que quero estar. “O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso, existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis”, Fernando Pessoa.