Fernandópolis registrou 665 raios durante tempestade no domingo

20 de Agosto de 2025

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Fernandópolis registrou 665 raios durante tempestade no domingo

Fernandópolis acordou mais cedo no domingo. Impossível dormir diante da sequência interminável de descargas elétricas (raios) em meio à tempestade que caía sobre a cidade. Foram dois eventos da natureza que surpreenderam os fernandopolenses: a chuva de forte intensidade e a sequência de relâmpagos e trovões.

Quando amanheceu, os poucos fernandopolenses que se arriscavam sair de casa sob chuva comentavam nunca terem assistido situação semelhante. Outros já contavam os prejuízos com a queima de aparelhos eletrônicos e eletrodomésticos. Já passava das 9 horas da manhã quando a tempestade começou a se dissipar.

Qual foi a intensidade da chuva e quantos raios caíram no domingo em Fernandópolis? O CIDADÃO  foi atrás das respostas. O Ciiagro  - Centro Integrado de Informações Agrometeorologicas -, do Instituto Agronômico de Campinas, que mantém estação automática instalada na Unicastelo registrou a chuva em dois períodos. Das 7 horas da manhã de sábado, 5, às 7 horas da manhã de domingo, 6, o índice de chuva registrado pela Estação foi de 76,5 mm. No segundo período, das 7 da manhã de domingo, 6, às 7 da manhã de segunda-feira, 7, o índice  de chuva registrado foi de 92,5 mm. Somando os dois períodos o total da chuva foi de 169 mm (veja matéria sobre os estragos da chuva na cidade na pág. 8A).

E a quantidade de raios? O jornal CIDADÃO buscou a  informação no INPE - Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - que possui um grupo que cuida desse fenômeno no Brasil. É o Grupo de Eletricidade Atmosférica (ELAT). Em nota, o ELAT informou:

“Dia 6/3 (domingo) foram registrados 665 raios núvem-solo (raios que atingem o chão)  em Fernandópolis. O horário com maior incidência foi das 4h às 8h”.

Esse número representa uma média de 166,2 descargas por hora, ou 2,7 por minuto.

O ELAT informa ainda na nota enviada para CIDADÃO  que “acima de 100 raios por dia, os pesquisadores consideram um índice alto de descargas”. Portanto, Fernandópolis alta incidência desse fenômeno no domingo.

A explicação para a ocorrência está no El Niño. Segundo estudos do ELAT/INPE, o El Niño pode ter várias intensidades: fraco, moderado, forte e muito forte. “O fenômeno atual é muito forte, por isso neste verão pode aumentar em mais de 20% a quantidade de chuvas na região Sul e Sudeste”, acrescenta a nota.

De acordo com o ELAT, o Estado de São Paulo é o sexto no Brasil com registro de raios, uma média de 2,31 milhões de registros por ano, ou 9,29 raios por km2. Itaquaquecetuba lidera o ranking das cidades paulistas com maior incidência de raios: 13,3 raios por km2. A cidade de São Paulo é o município que ocupa o primeiro lugar em mortes no país -  foram 26 mortes entre 2000 e 2014. O ELAT também enviou informações sobre mitos e curiosidade e como se proteger dos raios (veja matérias ao lado).

ESTRAGOS

Os efeitos dos 665 raios registrados em Fernandópolis no domingo de manhã foram sentidos por vários fernandopolenses. As reclamações de queima de aparelhos eletrônicos e eletrodomésticos vieram de vários bairros. Na Cohab Antônio Brandini,várias residências foram atingidas. Um raio atingiu a residência de Alfredo Donizete Bastos. “Eu tinha acabado de sair de casa quando houve o estrondo”, contou.  O morador registrou a queima da TV, geladeira, DVD e telefone. No mesmo bairro, Maria Carrasco disse que sua TV também queimou. Várias empresas ficaram sem comunicação e passaram a segunda-feira, aguardando reparo das linhas telefônicas.  

 

Mitos e curiosidades sobre raios

Um raio não cai duas vezes no mesmo lugar?

Não é verdade e uma prova disso é o Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, que recebe ao menos seis descargas atmosféricas por ano. A origem desse mito está nos índios, que usam pedras atingidas por raios como amuletos, acreditando que estão protegidos contra os relâmpagos.

É perigoso ficar dentro do carro durante a chuva?

Na verdade, o veículo fechado é o local mais seguro contra raios – nunca ninguém morreu no Brasil atingido por raio dessa forma. Se o carro é atingido por um raio, a descarga elétrica se espalha por sua superfície metálica, sem atingir quem está dentro dele.

Espelho atrai raios?

O mito vem dos tempos em que os espelhos tinham molduras metálicas bem grossas – elas, sim, um atrativo para as descargas.

Qual é a diferença entre trovão, raio e relâmpago?

Relâmpago é toda descarga elétrica emitida por uma nuvem; raio é a descarga elétrica que toca o solo. Trovão é o som produzido pela descarga elétrica.

Dá para saber a que distância caiu o raio?

É possível estimar a distância em quilômetros com um cálculo simples: basta contar o tempo (em segundos) entre o momento que se vê o raio e se escuta o trovão e dividir por três obtendo-se a distância aproximada em quilômetros.

Existem raios que não partem das nuvens?

Sim, são os chamados raios ascendentes, que saem de estruturas altas (torres, prédios altos) em direção às nuvens. Correspondem a cerca de 1% dos raios. O ELAT foi o pioneiro no registro deles no Brasil, observados em torres do pico do Jaraguá na cidade de São Paulo.

Os raios são diferentes em diferentes regiões?

Sim. No Brasil, os raios do Rio Grande do Sul tendem a ser mais fortes e destrutivos do que os que caem em outras partes do país.

 

Proteção contra raios

Com base nas informações coletadas sobre as circunstâncias de morte por raio mais comuns, o Grupo de Eletricidade Atmosférica (ELAT) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) desenvolveu uma cartilha detalhada de proteção contra raios, cujas recomendações devem ser seguidas durante as tempestades. O material pode ser encontrado no link: http://www.inpe.br/webelat/homepage/menu/protecao/cartilha.de.protecao.contra.raios.php

Se possível, o melhor é sair da rua na hora de uma chuva forte com raios e trovoadas.

Dentro de casa, não use telefone com fio, não fique perto de tomadas, canos, janelas e portas metálicas e não toque equipamentos ligados à rede elétrica.

Se estiver na rua, deve procurar abrigo nos seguintes lugares: carros não conversíveis, ônibus ou outros veículos metálicos não conversíveis; em moradias ou prédios, de preferência que possuam proteção contra raios; em abrigos subterrâneos, tais como metros ou túneis;

Ao ar livre, evite segurar objetos metálicos longos (varas de pesca, tripés, tacos de golfe etc.), empinar pipas e aeromodelos com fio, andar a cavalo e ficar em contato com a água. Saiba que pequenas construções (tendas, barracos, celeiros), veículos sem cobertura e árvores oferecem risco e não protegem.

Evite de ficar no topo de morros, no alto de prédios, em áreas descampadas, em estacionamentos, próximo a cerca de arame ou embaixo de árvores isoladas.

Em janeiro deste ano o grupo também desenvolveu uma campanha inédita de proteção contra raios baseada em 15 anos de dados de mortes devido ao fenômeno no Brasil. Foi desenvolvido um vídeo para orientações de proteção para quem está ao ar livre e um vídeo para orientações dentro de casa. Os vídeos podem ser visualizados no link:http://www.inpe.br/webelat/homepage