A FOTO...
do prefeito de Ourinhos, Guilherme Gonçalves (Podemos) aguardando atendimento na UPA, como qualquer cidadão, viralizou na internet nos últimos dias. O ex-gari, eleito prefeito da cidade de 103 mil habitantes localizada no oeste do Estado de São Paulo, já está próximo de entrar na lista dos políticos com um milhão de seguidores no Instagram.
O FEITO...
é notável do ponto de vista político, quando se compara que o prefeito de uma cidade do interior está cabeça a cabeça com Ricardo Nunes, prefeito de São Paulo, a maior cidade da América Latina, e que tem pouco mais de 1 milhão de seguidores na internet. O governador do Estado, Tarcísio de Freitas, no comando da máquina estadual, tem 5,3 milhões de seguidores.
O CASO...
em si revela aspectos importantes da relação entre cidadãos e seus representantes políticos no Brasil e ajuda a explicar o crescimento repentino da popularidade nas redes sociais. A cena (o prefeito na Upa) rompe com imaginário comum do político brasileiro, onde é frequente a percepção de que eles, os políticos, vivem distantes da realidade da população. A foto vira símbolo da nova política (ou a ilusão dela).
CARREGA...
na repercussão, a própria história do prefeito, um ex-coletor de lixo que rompeu o domínio das elites políticas para ocupar o gabinete do Paço Municipal de sua cidade. Mas, o caso serve para expor, por contraste, o que a população rejeita fortemente na classe política, que é a cultura de privilégios. Mostra também que o público está emocionalmente carente de representatividade e de exemplos positivos na política.
QUEM...
não se lembra do prefeito Sérgio Meneguelli, eleito em 2016 prefeito de Colatina no Espirito Santo e que surpreendeu o Brasil indo cumprir sua agenda de prefeito de bicicleta. Hoje, deputado estadual, eleito em 2022 com a maior votação da história capixaba, Meneguelli continua usando sua bicicleta para ir para a Assembleia Legislativa. Seu trabalho é acompanhado no Instagram por 692 mil pessoas.
PARA...
o bem ou para o mal, a internet está aí como realidade. E já é motivo de preocupação para os políticos, de olho na campanha eleitoral de 2026. O ex-prefeito Edinho Araújo, virtual candidato a deputado federal, alertou para o risco de repetição do efeito da “nacionalização” das eleições, como ocorreu em 2018, quando surgiram os chamados candidatos das redes sociais e que levou Rio Preto a ficar sem representação na Assembleia Legislativa e ter apenas um representante (Luiz Carlos Mota) na Câmara Federal, efeito classificado como de “terra arrasada”, recuperado em parte em 2022.
EM...
entrevista ao Diário da Região, Edinho Araújo, disse acreditar que a eleição do ano que vem será ainda mais nacionalizada pela polarização que o país vive desde 2018 deixando em segundo plano o debate de grandes temas nacionais e regionais. Quem serão os candidatos das redes sociais que vão se apresentar ao distinto público paulista nas urnas no ano que vem? O caminho está aberto...
CERTO...
é que as redes sociais mostram que o eleitor, decepcionado, tende a se comover com gestos como o do prefeito/gari de Ourinhos, que ativa, segundo especialistas, o “sentimento de esperança” por uma política que passe ao largo do famoso “jeitinho brasileiro”. Transitar nessa seara para atrair esse capital midiático e emocional, é como andar no fio da navalha. E sempre é bom lembrar do rojão de vara, sobe e desce na mesma velocidade...