A vida dos alunos da rede estadual de ensino de Fernandópolis não tem sido fácil desde que a Prefeitura rompeu o convênio com o Governo do Estado e a merenda voltou a ser centralizada. Esta semana, CIDADÃO recebeu a denúncia de um professor, informando que as escolas estariam oferecendo barrinhas de cereais como merenda e que o governo teria enviado apenas metade do dinheiro necessário às escolas para o pagamento de fornecedores.
A informação foi confirmada por alguns alunos procurados por nossa reportagem, que dizem ter passado a levar lanches de casa para comer na hora da merenda.
“A merenda nunca foi a melhor do mundo, mas pelo menos antes dava vontade de comer. Variava, sabe, tinha coisas gostosas, frutas... Hoje prefiro levar alguma coisa de casa dentro da bolsa, pelo menos assim não fico com fome”, disse uma aluna que terá a identidade preservada.
COMIDA ENLATADA
Logo no início do ano letivo, CIDADÃO trouxe a reclamação de pais e alunos a respeito da merenda. À época, comida enlatada estava sendo servida para as crianças e adolescentes da rede pública estadual e muitos deixaram de comer.
“Estão servindo comida enlatada para os meus filhos e eles estão reclamando de que é muito ruim. Eles e seus coleguinhas não estão mais comendo”, afirmou uma mãe para nossa reportagem, no mês passado. “Não está boa mais não”, completou uma aluna que terá a identidade preservada. “Agora nós estamos recebendo uma fichinha que temos que entregar na cantina para pegar a merenda”, disse outra aluna da rede estadual.
Consultados à época, alguns diretores confirmaram, em off, que parte dos produtos da merenda são enlatados, como o feijão, por exemplo, mas negaram que a qualidade tivesse caído e que os alunos não estivessem comendo.
No entanto, o que já estava ruim parece ter piorado, segundo o relato de alunos e do professor que fez a denúncia. O estado está mandando a maioria dos alimentos por meio de caminhões baú, enquanto os hortifrútis estavam sendo adquiridos pelas próprias escolas, com recursos vindos do estado.
Porém, o estado teria enviado apenas metade do dinheiro necessário para o pagamento dos fornecedores de hortifrútis e a entrega já estaria prejudicada.
OUTRO LADO
Procurado, o novo dirigente de ensino de Fernandópolis, Cândido José dos Santos, que chegou a cidade na terça-feira, 15, afirmou que nenhuma reclamação sobre falta de recursos havia chegado até ele e explicou que esse dinheiro viria de um repasse do governo federal.
“Ainda não recebi nenhuma informação sobre isso, mas é bom aproveitar para esclarecer que esse recurso extra que as escolas recebem, por meio de repasse da Diretoria de Ensino é de um recurso do governo federal do programa de enriquecimento da merenda. Esse recurso é passado através de adiantamento às escolas para que elas façam a utilização do mesmo para a compra de verduras, de frutas e legumes para enriquecer o cardápio da merenda escolar. Porém vou apurar essa situação, ver o que está acontecendo para que a gente possa resolver isso o mais rápido possível”, disse Cândido.
Sobre o cardápio irregular e a chamada merenda seca com barrinhas de cereais, o novo dirigente de ensino afirmou que já está tomando as providências necessárias para que a merenda volte a ser de qualidade.
“Nós já entramos em contato com a secretaria de educação para que possamos equalizar essa situação. Hoje (quarta-feira, 16) voltarei a fazer contato com a professora Celia, que é a coordenadora de infraestrutura e serviços escolares da secretaria a qual o departamento de assistência ao aluno está subordinada, para que possamos acertar o cronograma de entregas dos alimentos e regularizemos a situação da merenda nas escolas o mais rápido possível e passemos a oferecer o nosso cardápio padrão e não este cardápio de merenda seca, que é emergencial. Estou inclusive utilizando dos meus contatos que tive enquanto trabalhei na secretaria de Educação para que possamos trazer a merenda padrão o mais rápido possível”, concluiu.
O ROMPIMENTO
De acordo com a secretária municipal de Educação, Lídia Mara Buíssa, o convênio com o governo do estado sempre gerou prejuízo para o município e, por isso, a Prefeitura decidiu devolver a responsabilidade exclusiva para o governo estadual.
“O governo sempre mandou um valor X por aluno que era complementado pelo município para oferecer mais repetições e isso só estava trazendo custos para o município. Então decidimos devolver para o estado, assim como outras cidades também estão fazendo”, explicou a secretária por meio do departamento de comunicação da Prefeitura.
Apesar de a secretária não relacionar a entrega da merenda para o estado, com as investigações do Legislativo a respeito da aquisição de produtos para sua confecção, fica evidente que a decisão está longe de ser apenas uma coincidência, afinal, além de ter que complementar os custos, o Executivo ainda arcou com a dor de cabeça de uma CPI.