“Tainan, volta para o seu lugar”. “Tainan, para de conversar”. “Tainan, já para diretoria”. Geralmente, estas eram as frases mais recorrentes nos diálogos entre os professores da Escola Estadual Afonso Cáfaro em Fernandópolis e o aluno Tainan Gonçalves da Silva. No entanto, nos últimos dias, esse tratamento mudou para “Parabéns, Tainan, eu disse que iria ficar bom”; “Uau, nem parece que foi um aluno que pesquisou isso tudo”; “Você tem um futuro pela frente, é muito esforçado”.
Isso, porque uma professora da escola, que por coincidência do destino está de licença maternidade, exerceu seu instinto materno e não desistiu de Tainan, transformando-o em um jovem cientista, dedicado e promissor.
Os destinos de Tainan e da professora de Ciências, Química e Matemática Jucimara Uliana Gomes se cruzaram em 2014, quando o aluno já recorria à educadora pedindo lhe orientação para algum projeto que pudesse desenvolver quando estivesse no 8º ano do ensino fundamental. “Eu vi o projeto de iniciação científica do meu irmão mais velho na escola e fui me interessando. Via os demais alunos sendo premiados e ficava pensando que poderia ser uma oportunidade de mostrar o meu valor para minha família. Queria dar alguma felicidade para minha mãe que estava acostumada apenas com reclamações. Então, eu pedia para que a professora me ajudasse a fazer o meu também”, contou o aluno.
E foi logo aí que a professora enxergou um potencial que talvez outros não enxergaram no “garoto-problema”, que frequentava a diretoria, em média, duas vezes por dia por indisciplina.
“O Tainan me procurava no laboratório e me perguntava quando ele teria aula comigo. Queria me ajudar sempre, guardava tubos de ensaio, organizava as coisas para mim e eu acreditei no potencial dele. Era um garoto tagarela, que atrapalhava as aulas e como é carismático e amigo de todos da sala, não adiantava mudá-lo de lugar que ele conversava do mesmo jeito com os outros alunos. Era ‘respondão’, indisciplinado, não respeitava o professor, se envolvia em brigas, se irritava fácil, jogava carteira, enfim, dava muito trabalho, mas este ano passei a dar aulas para ele e sempre acreditei que poderia tornar essa tagarelice dele em algo positivo”, disse Jucimara.
Com muito apoio e palavras de incentivo, Tainan conseguiu montar seu projeto científico com apoio da aluna Raissa Ramos Pereira sobre a introdução da Morinda citrifolia (noni) no combate a hipertensão. A ideia inicial era o combate ao câncer, mas como ficaria ainda mais complexa a pesquisa, a dupla resolveu pesquisar sobre a hipertensão, já que na família de Tainan existem vários familiares que sofrem da doença.
O trabalho intitulado “O Noni faz bem, combate a hipertensão também” foi um dos oito trabalhos apresentados por alunos de Fernandópolis – todos da Cáfaro – na Mostratec, uma das maiores feiras de ciências e tecnologia realizada anualmente pela Fundação Liberato, na cidade de Novo Hamburgo-RS, como já destacado por CIDADÃO.
“Esses alunos só querem apoio, um ‘empurrãozinho’, querem ouvir: ‘vai que você consegue’. Querem mostrar o trabalho, saber se gostamos, enfim essa atenção e essa mediação é que transforma. Mostrar a eles que são capazes. Esse é o poder da educação e é o que amo fazer diariamente”, destacou a professora, que orientou quatro dos oito trabalhos inscritos na Mostratec.
Afastada dos trabalhos, se engana quem pensa que a orientação ao projeto de Tainan cessou na metade do ano, quando a mesma deu à luz. Para surpresa de todos, o agora ex-aluno-problema, continuou buscando atendimento via telefone ou pessoalmente até a casa da professora, abdicando de seus finais de semana.
“Apoiar um aluno nota 10 é fácil, agora nem todos professores tem essa iniciativa de fazer o que ela fez por mim, por isso sou grato a ela e aprendi a dar o exemplo em sala de aula”, disse o aluno promissor que sonha ser ator.
Jucimara volta ao batente em março de 2016, mas já sabe da vontade de Tainan em fazer um novo projeto e continuar pesquisando. “Gosto desses alunos que dão trabalho. Meu maior prêmio, enquanto educadora, é modificar as pessoas. Já tinha lidado com outros alunos em outras escolas, mas aqui eu me encontrei. Uma escola que pensa como eu penso e está cheia de ‘Tainans’ por aí precisando de uma ‘mãozinha’.