“A sementinha do bem”

20 de Agosto de 2025

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“A sementinha do bem”

Um projeto lançado há quatro anos na Escola Municipal José Zantedeschi mostra o papel da educação como agente de transformação, alinhada ao esporte. O projeto do professor Denis Thyago de Oliveira movimenta os estudantes numa espécie de gincana do bem tendo como temas grandes eventos esportivos. Este ano, são os Jogos Panamericanos que serão disputados em outubro no Chile. Por isso, PanZante. A ação consiste em cada sala de aula representar um país participante dos Jogos incluindo, além do projeto social, ‘uma viagem’ por novas culturas e conhecimentos. Neste ano a ação ocorre em torno do tema Saúde, envolvendo a campanha do leite, tampas e lacres para a Associação dos Voluntário no Combate ao Câncer (AVCC); doação de sangue e captação de medula para o Hemocentro de Fernandópolis; e a arrecadação de cabelos para o Hospital de Amor para a confecção de perucas que serão doadas aos pacientes. “Não são apenas os jogos, mas através deles, ensinar os grandes valores, o fair-play, a empatia, o respeito. A ideia é de transformação desses alunos para que lá fora sejam propagadores do bem, contaminem essa comunidade e nossa sociedade. É plantar a sementinha do bem”, diz o professor nesta entrevista. Leia:

Conte sobre o projeto que mobiliza os estudantes e une esporte e solidariedade na escola?

É um projeto que lançamos aqui no Zantedeschi a partir da identificação de quatro causas sociais importantes na cidade: a causa animal, a saúde, os idosos e as pessoas com deficiência. A cada ano, a gente procura atender uma causa e aproximar os alunos dessa causa. Nesse ano, especificamente, focamos a saúde na segunda edição do PanZante, Pan em alusão aos Jogos Pan Americanos e Zante homenageando o nosso patrono José Zantedeschi. O objetivo é mobilizar os alunos e as famílias para entender a importância da saúde em Fernandópolis. Por isso os nossos parceiros desse ano são o Hemocentro sobre a importância da doação de sangue, a AVCC com um trabalho brilhante de atenção a pacientes carentes com câncer e o Hospital de Amor com arrecadação de cabelos para confecção de perucas para os pacientes em tratamento.

Em que momento surgiu o desejo de unir esporte e ação social?

Há sete anos com meu ingresso aqui na escola. Eu venho de Votuporanga, mas esses dias repensando de onde vieram essas ideias de projeto solidário ligados à educação, ao esporte, refleti sobre minha infância. Na minha escola, a Uzenir em Votuporanga (Uzenir Coelho Zeitune) tinha essas campanhas e era magnifico porque trazia a família do aluno para dentro da escola que no meu entender é a razão do grande sucesso do projeto porque envolve essa parceria família e escola. Eu vejo o poder que a Educação tem na transformação, alinhada ao esporte através da educação física. Não são apenas os jogos, mas através disso ensinar os grandes valores, o fair-play, a empatia, o respeito e o projeto se torna significativo ainda mais aqui nesta escola com alunos de uma comunidade carente, que tira do pouco do que tem para doar. A ideia é a de transformação desses alunos para que lá fora sejam propagadores do bem, contaminem essa comunidade e nossa sociedade.

"A cada ano, o projeto procura atender uma causa e aproximar os alunos dessa causa"

Como funciona o projeto?

O projeto este ano começou no mês de fevereiro com essa parceria com o Hemocentro, AVCC e Hospital de Amor. Com o Hemocentro são duas formas de as famílias auxiliarem: através da doação de sangue e cadastro da medula óssea. A ideia é que os alunos movimentem as famílias para que isso aconteça. Eles levaram panfletos, divulgamos o trabalho do Hemocentro que é magnifico. Eu tinha receio na doação e com o projeto fui motivado a fazer as minhas primeiras doações. E foi algo emocionante, de saber que estamos doando sangue que vai ajudar outra pessoa. O nosso outro parceiro, que está conosco há cerca de cinco anos, é a AVCC para quem destinamos as tampinhas e os lacres que são captados pelos alunos e que vão render recursos para compra de cadeira de roda, cadeira de banho e também entramos com alguns alimentos, como farinha de trigo e leite, porque são produtos que eles usam bastante. Neste ano temos a parceria também com o Hospital de Amor para captação de cabelos que são encaminhados para Barretos e destinados para o Instituto Cabelegria que confecciona perucas que são doadas para crianças e mulheres em tratamento contra o câncer.

E o objetivo se cumpre?

Sem dúvida. É plantar a sementinha entre os alunos para que eles, lá fora, possam contaminar com o bem as suas famílias. No caso, a nossa parceria com o Hemocentro, que é a doação de sangue e cadastro de medula, os alunos ainda não podem fazer, só a partir de 16 anos, mas a ideia é que eles consigam mobilizar seus familiares e vizinhos para que entendam a importância da doação de sangue e captação de medula óssea. Temos recebido muito apoio em todas as ações, como do pessoal do Hemocentro que conheci este ano, do Cláudio Azevedo do Projeto Seja um Herói que é um grande parceiro nosso.

"A razão do grande sucesso do projeto é porque envolve essa parceria família e escola"

O que mais toca no projeto?

Sou professor há 17 anos e a sete estou aqui no Zantedeschi, Trabalho também no Sesi em Votuporanga e vejo os dois lados da realidade. Cada vez que vejo alunos que não tem condições trazendo do pouco que tem em casa para o projeto, é emocionante. A gente vê que o projeto atinge o objetivo, mexendo com as famílias. Ver os alunos trazendo as declarações de doação de sangue, alunas cortando o cabelo para doar para confecção de perucas para pacientes em tratamento contra o câncer, não tem palavras. Conversando com uma professora, ela me dizia que para a mulher cortar 15 a 20 cm de cabelo é difícil. E ver uma aluna de 8 anos, cortando o seu cabelo pensando numa pessoa que está sem cabelo por causa do tratamento de câncer é algo transformador, de grande significado e emocionante.

E o retorno que recebe?

É um aprendizado, porque é uma ação que mexe com a gente. Pensando na profissão, isso só reforça a ideia de que nasci para ser professor. É difícil, é desafiador, principalmente nos dias de hoje, onde precisamos movimentar os alunos e a tecnologia está gritando. Mas, essa troca com eles gera emoções. A cada dia são captações de emoções, algo que nos faz continuar acreditando que vai dar certo e que conseguiremos transformar a sociedade.

"Cada vez que vejo alunos trazendo do pouco que ela tem em casa para o projeto, é emocionante"

Quais os principais desafios?

Ligado à educação física, é que ainda não temos um local adequado para a prática esportiva. Tem projeto de construção da nossa quadra poliesportiva e vejo que isso vai somar demais, porque hoje temos um local adaptado. Com a construção da quadra as aulas de educação física terão um “up” ainda maior, na qualidade onde poderemos trabalhar todas as modalidades esportivas, como por exemplo, o voleibol onde precisamos dispor do espaço adequado. É um desafio, porque muitas vezes o aluno não tem condições de ter um tênis adequado. A quadra eleva o patamar do que hoje fazemos num espaço improvisado.