O Cisarf – Consórcio Intermunicipal de Saúde – foi criado em junho 2003 na gestão do ex-prefeito Adilson Campos e reúne 13 municípios da região (Fernandópolis, Estrela D’Oeste, Guarani d’Oeste, Indiaporã, Macedônia, Mira Estrela, Ouroeste, Pedranópolis, Populina, São João das Duas Pontes, São João de Iracema, Turmalina e Meridiano) para, a princípio, suprir a ausência do estado no atendimento de especialidades. Nesse período de 20 anos o Cisarf contabiliza 48.449 prontuários e 814.916 pacientes atendidos. Seis meses após a criação do consórcio, assumiu a gerência administrativa Dirce Sinibaldi Azadinho que permanece até hoje à frente da gestão, tendo passado por diferentes administrações de prefeitos. Celebra o fato de ter todas as contas aprovadas pelo Tribunal de Contas. Hoje, o perfil do Cisarf mudou. Apesar de manter algumas especialidades em atendimento como psiquiatria e angiologia, o órgão assumiu o caráter mais administrativo na gerência de órgãos como SAMU, parte da UPA e o CAPS AD. O RH se multiplicou ao longo dos 20 anos. De 8 funcionários no início, hoje são 122, sem contar os médicos. Nesta entrevista, Dirce Azadinho conta a história do consórcio nestes 20 anos. Leia:
O Cisarf está completando 20 anos e você está completando 19 anos e seis meses no comando. Conta um pouco dessa vivência?
O Cisarf foi criado em junho de 2003 no governo do prefeito Adilson Campos e veio crescendo com o apoio de todos os prefeitos que vieram depois, Rui Okuma, Ana Bim, Luiz Vilar e atualmente André Pessuto. Todos apoiaram para atingir essa marca de 20 anos. Em 9 de janeiro de 2024 completarei 20 anos na gestão. A ideia do Cisarf foi do Dr. José Martins que era o secretário de Saúde na época. Ele tinha visto esse consórcio em outras regiões e trouxe a ideia para o prefeito Adilson Campos que encampou. Na época o Estado deixava muito a desejar no atendimento das especialidades e o Hospital de Base de Rio Preto não dava conta de atender toda a região. O consórcio foi montado para suprir a ausência do Estado e passou a oferecer especialidades como cardiologia, dermatologia, endocrinologia, neurologia, psiquiatria, otorrino e até ultrassom. A chegada do AME supriu essas especialidades e o Cisarf ficou com a psiquiatria, que no AME não tem, faz exames de ultrassom para as gestantes de alto risco e ressonância magnética. Em 2014, o Cisarf assumiu a administração do SAMU e o CAPS AD. Hoje também atendemos angiologia e cirurgia vascular. Essa especialidade foi mantida com o Dr. Renato Baraldi porque o vascular atende pessoas com controle de TAP (nível de coagulação do sangue), que tem feridas que precisam ser vistas semanalmente e a trombose. Então é uma especialidade que não pode esperar muito tempo para agendar. A flexibilidade no Cisarf é maior do que no próprio AME.
Como o consórcio sobreviveu nestes 20 anos, administrando interesses dos municípios?
Olha isso se deve ao diferencial de atendimento no Cisarf pelos profissionais que passaram por lá ao longo desse tempo. Temos sempre que nos colocar no lugar da pessoa do outro lado do balcão, porque um dia usaremos esse serviço, nossos pais poderão usar e temos que pensar que a pessoa que está indo lá, vai em busca de um atendimento. Às vezes a pessoa chega ali estressada, mas com uma conversa, uma atenção diferenciada, você acalma e ela sai mais tranquila e melhor. Esse é nosso objetivo no Cisarf.
Você não é funcionária de carreira, seu cargo é comissionado e mesmo assim você permaneceu na gestão com diferentes prefeitos ao longo dessas duas décadas...
Sim, passei por administrações de diferentes prefeitos, não só de Fernandópolis, mas de outras cidades da região que integram o consórcio. No começo a gente tinha que provar para o prefeito que o Cisarf era um órgão que valia a pena e que Fernandópolis não custeava as demais cidades. A gente apresentava planilhas, gráficos, mostrando que nossa cidade não pagava a conta de outras cidades. Hoje o serviço é muito amplo e dá muita dor de cabeça, com licitações, processos trabalhistas. Mas amo o que faço, sempre me dediquei para que o paciente seja bem atendido.
"O consórcio foi criado para suprir as especialidades que o Estado estava deixando a desejar. Hoje o perfil é mais administrativo"
Como é a divisão de cotas entre os municípios?
A cota participação é dividida entre os municípios de acordo com a sua população e, de acordo com o que pagam. É lógico que Fernandópolis tem uma cota maior por conta de uma população maior. Temos municípios com 3, 4 mil habitantes e Fernandópolis tem 70 mil. O que me gratifica nesta trajetória é que todos os prefeitos sempre apoiaram o Cisarf. Nesta gestão do André tem um diferencial junto com o secretário de Saúde Ivan Veronesi, apoiando muito o Cisarf que passa por muitas dificuldades. A gente faz um orçamento anual, só que hoje não tem apenas funcionários com carga horária de 40 horas semanais, igual no começo. Hoje, temos o SAMU e uma parte do RH (Recursos Humanos) da UPA que é um mini hospital e onde apenas sete municípios aderiram. Cinco não aderiram porque tem hospital, casos de Ouroeste, Estrela d´Oeste, Indiaporã e Populina. E São João das Duas Pontes pactuou com Estrela d´Oeste. Então não tinha como o Cisarf assumir toda a UPA. Por isso, Fernandópolis continua colocando funcionários lá. Desde maio pegamos a parte médica com a licitação realizada no Cisarf.
Como é gerenciada a cota de cada município?
A divisão é assim: Fernandópolis fica com 65% da despesa do Cisarf. Estrela e Ouroeste arcam com 4,4%. Populina, Macedônia, Meridiano, Indiaporã, com 2,8%. Os seis menores, Guarani d´Oeste, Turmalina, São João das Duas Pontes, São João de Iracema, Pedranópolis e Mira Estrela ficam com 2,5%. Quando aumenta, o reajuste é dentro do montante que pagam. Nesse governo não tivemos dificuldade em pedir correção do orçamento e as cotas de participação são mantidas em dia pelos municípios. Já tive dificuldades ao longo do tempo de passar quatro, cinco meses, sem receber de algum município. Mas, hoje felizmente está tudo em dia.
"No começo a gente tinha que provar que o Cisarf era um órgão que valia a pena e que Fernandópolis não custeava as demais cidades"
O que mudou no atendimento do Cisarf ao longo dos 20 anos?
Ele foi criado para suprir as especialidades que o Estado estava deixando a desejar. Como a vinda do AME, não havia mais necessidade de manter as especialidades. Porém, o Cisarf hoje administra o SAMU que regionalizou, antes era só Fernandópolis e hoje atende todos os municípios do consórcio, com bases em Ouroeste e Estrela d´Oeste. Veio o CAPS AD (Centro de Atenção Psicossocial - Álcool e Droga). Antes criamos SADEQ (Serviço de Atendimento a Dependentes Químicos) porque o Ministério Público estava exigindo dos 13 municípios o atendimento ao dependente químico e nós não conseguíamos trazer o CAPS AD porque era para cidades com mais de 100 mil habitantes. Entramos com um projeto pelo Cisarf que englobava atendimento de uma população de 109 mil habitantes e conseguimos instalar em 2014. Hoje temos no CAPS AD um atendimento humanizado com psicólogo, assistente social, artesão, terapeuta ocupacional, enfermeiros, técnicos, médicos que prestam atendimento semanal de 40 horas. Quando entrei no Cisarf ele tinha oito funcionários. Hoje estamos com 122 funcionários, fora os médicos contratados. Então tornou-se um grande RH e ficou um órgão mais administrativo.
No início do Cisarf as pessoas iam para fila para conseguir uma consulta. E hoje?
Os municípios da região ligam semanalmente para o agendamento de suas cotas e isso acontece até hoje. Já o agendamento dos pacientes de Fernandópolis, antes as pessoas precisavam vir para a fila para conseguir a vaga. Tinha gente que chegava a dormir na fila. Era muito constrangedor. Foi um período de muita dificuldade já que as vagas eram poucas para muita gente. Hoje, não tem mais isso. Temos três psiquiatras no Cisarf com 550 consultas mês e o agendamento é feito pelo CROSS (Central de Regulação de Ofertas de Serviços de Saúde). Na angiologia são 200 consultas mês. A pessoa passa pela Unidade Básica, o médico encaminha e a Central de Saúde agenda no CROSS com dia e hora marcados para atendimento. Não fosse o CROSS ainda teríamos as filas.
"Hoje o Cisarf gerencia o SAMU, parte da UPA e CAPS AD e estamos com 122 funcionários, fora os médicos contratados"
O Cisarf é fiscalizado pelo Tribunal de Contas do Estado?
Sim, as contas são anualmente auditadas pelo Tribunal de Contas e o Cisarf não teve uma conta desaprovada até hoje.
Na pandemia, como foi o atendimento?
O Cisarf nunca parou. Na parte de consultas psiquiatras os médicos faziam online. Alguns preferiam vir nas consultas e a gente adotava o distanciamento. Na parte de ultrassom não tinha como suspender porque era gestação de alto risco e que precisava de acompanhamento. Então, nunca paramos.