Febre maculosa não é uma doença nova

20 de Agosto de 2025

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Febre maculosa não  é uma doença nova

Febre maculosa, a doença transmitida pelo carrapato foi reconhecida no Brasil, segundo registro histórico, em 1929. Portanto, não é uma doença nova, mas nos últimos dias ela passou a ser o centro de preocupação dos brasileiros com o surto ocorrido em uma fazenda (a Santa Margarida) na cidade de Campinas onde 3,5 mil pessoas se reuniram para uma festa. Quatro pessoas que participaram da festa morreram dias depois, entre elas uma adolescente de 16 anos. 
No Estado de São Paulo a doença está presente em algumas regiões. No ano passado foram registrados 63 casos de infecção e 44 mortes. Neste ano, a Vigilância Epidemiológica Estadual confirmou 19 casos e 9 mortes. 
Segundo o Ministério da Saúde, no Brasil, são os carrapatos do gênero Amblyomma, principalmente aquele conhecido como carrapato estrela, responsáveis pela transmissão. Mas o ministério alerta que qualquer espécie pode transmitir 
a febre maculosa, inclusive o carrapato do cachorro.
Em Fernandópolis, o médico infectologista do Cadip – Centro de Atendimento a Doenças Infectocontagiosas – Dr. Mauricio Favaleça, tranquilizou a população. “Não estamos numa região de incidência da doença, diferente do que ocorre em regiões endêmicas como Campinas, Assis e Presidente Prudente”. Segundo ele, a existência do carrapato não significa transmissão. “O carrapato precisa estar contaminado pela bactéria chamada Rickettsia rickettsii. Precisamos ficar atentos quando se tem esse fator de risco que é o contato com o carrapato contaminado e nos sintomas que podem aparecer até 15 dias depois”, destacou o médico. Leia a entrevista:

Nos últimos dias, a febre maculosa ganhou manchetes por conta do surto ocorrido em Campinas. Temos motivos para nos preocupar com a febre maculosa aqui em Fernandópolis?
A febre maculosa não é nenhuma doença nova. São reportados casos todos os anos no Estado e aconteceu esse fato de um número grande de pessoas estarem reunidas em uma festa na zona rural onde ocorreram óbitos de pessoas contaminadas que evoluíram para a forma grave da doença. Isso chama a atenção da população pela gravidade da doença em si. A nossa região não tem a densidade da doença, mas temos que pensar que hoje o deslocamento de animais, de pessoas existe e potencialmente gera um risco. Mas, não estamos numa região em que a incidência da doença seja alta, diferente do que vem ocorrendo nas regiões de Campinas, Assis e Presidente Prudente.  Mas temos sempre que estar atentos, principalmente de pessoas que possam ter contato com o carrapato e começarem a manifestar sintomas.

"Cada organismo responde de uma forma a infecção da febre maculosa. Mas, os sintomas confundem com outras doenças"


O carrapato estrela faz parte do nosso habitat, as vezes está no nosso animalzinho de estimação. É o carrapato que precisa estar contaminado pela bactéria?
Isso. A transmissão da doença ocorre pelo carrapato contaminado por uma bactéria chamada Rickettsia rickettsii. A manifestação dos sintomas pode demorar até 15 dias. Então, temos que ficar atentos quando se tem esse fator de risco que é o contato com o carrapato. E tendo sintomas, temos que agir rápido para o diagnóstico e início do tratamento de forma precoce, o que faz muita diferença. 
Uma pessoa contaminada transmite para outra pessoa?
Não, a doença não é transmitida de pessoa para pessoa. Ela só é transmitida pelo carrapato contaminado pela bactéria. Precisamos tomar cuidado quando encontramos um carrapato no corpo especialmente na hora de retirá-lo. Não é recomendável esmagar ou arrancar de qualquer forma. Melhor que se pegue uma pinça para retirá-lo com cuidado. 
O que se observa é que os sintomas são semelhantes à de outras doenças. O que diferencia a febre maculosa das outras doenças?
É um diagnóstico diferencial já que são sintomas comuns para várias doenças como a dengue ou uma gripe. A pessoa vai ter febre, dor no corpo, dor de cabeça o que é comum em outras doenças. O que vale é pensar nessa epidemiologia, onde a pessoa esteve nos últimos dias e se era local de possível contato com o carrapato. A evolução da doença vai variar de cada organismo, mas pode evoluir com dor na barriga, náuseas, vômitos, síndromes hemorrágicas, disfunção do fígado, disfunção renal e chegar ao quadro grave de septicemia. Claro, tudo isso, vai depender de cada indivíduo. Cada organismo responde de uma forma a infecção. Mas, inicialmente os sintomas confundem com outras doenças e por isso é importante se perguntar onde a pessoa esteve e se houve o risco de ter tido contato com o carrapato. Às vezes, a pessoa nem viu os carrapatos, mas esteve no local onde havia esse risco. Temos que prestar atenção no histórico do paciente. 
Existe forma de prevenir o contágio, usar um repelente, um tipo de roupa adequada? 
A forma de prevenção é através da vestimenta. Quanto mais estivermos cobertos menos chance de ter contato com o carrapato. Não tem medicamento preventivo ou repelente para essa doença. Então a prevenção se dá pelas vestimentas e cuidados para ter atenção quando for para esses locais, verificar se tem carrapato, retira-los o quanto antes e ficar atento aos sintomas no período de 15 dias.  

"Está aumentando os casos de esporotricose que é uma doença causada por um fungo e transmitida por arranhadura ou mordedura de gato"


Aquele carrapato do cachorrinho que temos em casa. Temos que nos preocupar?
O carrapato tem que estar infectado para haver a contaminação. É mais difícil ocorrer quando se trata de carrapato urbano e o animal não teve contato na zona rural. Difícil acontecer, mas sempre que envolve carrapato precisamos ter cuidados. 
Com exceção da febre maculosa que ganhou destaque agora, temos alguma outra questão no Cadip que preocupa os médicos infectologistas?
Aqui no Cadip a gente atende uma gama enorme de doenças infeciosas. O que temos conversado bastante com os profissionais e vou aproveitar para alertar também a população, é com a esporotricose que é uma doença causada por um fungo e temos atendido um número maior de pessoas, principalmente por transmissão através da arranhadura ou mordedura de gato que é o principal transmissor. Estamos tendo um aumento nos atendimentos dessa doença nos últimos anos aqui em Fernandópolis.
O senhor poderia dar mais detalhes?
É uma doença causada por um fungo e ela ocorre por inoculação e aqui os casos são de transmissão pelos gatos doentes com lesões de pele, feridas e no pegar o animal, alimentar, a pessoa sofre um arranhão ou mordedura e a partir daquela lesão na pele, ela começa a formar uma ferida, uma úlcera, que pode ir aumentando e causando alguns nódulos acima. A gente precisa identificar a lesão para tratar, porque senão a ferida vai aumentando e a pessoa tem um dano.

"Vamos conviver com o vírus da Covid-19 assim como convivemos com o vírus da influenza"
 

 
Nos últimos dias registramos mortes por Covid-19. É uma preocupação?
Em relação ao Covid-19, precisamos entender que teremos que conviver com o vírus. Todo mundo já sabe como se previne, temos vacina e temos agora um arsenal maior para tratar os casos que ocorrem. Temos medicamento para fase inicial da doença, medicamento na fase de doença mais avançada e inflamatória. Temos um arsenal maior para tratar a doença, mas estamos tendo casos e temos que lembrar as pessoas que tem comorbidades, maior risco de ter a doença na sua forma grave, precisam tomar os cuidados, até porque vamos conviver com esse vírus assim como convivemos com o vírus da influenza que também estamos tendo casos e internações por conta disso.