“Vou fazer política pública para o povo”

20 de Agosto de 2025

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“Vou fazer política pública para o povo”

A psicóloga comunitária Neusa Vieira já está a pleno vapor no comando da Drads – Diretoria Regional de Assistência e Desenvolvimento Social – que abarca 49 municípios na região de Fernandópolis. Escolhida por análise de currículo que enviou diretamente ao secretário de Desenvolvimento Social Gilberto Nascimento, Neusinha diz que está chegando com o “sapatinho da humildade e com simplicidade” para fazer o que gosta: política pública em favor do povo.

Nesta semana já recebeu em Fernandópolis a visita do coordenador de Assistência Social Itamar Paulo de Souza Junior, que coordena todas as Drads do Estado. Diz que prepara um diagnóstico institucional do órgão que comanda e avisa que, assumir o cargo de diretora da Drads, não embute pretensões políticas, pelo menos por enquanto. Forjada na comunidade do Jardim Araguaia, onde nasceu, Neusa Vieira diz que é muito positivo para a política pública esse olhar do governador Tarcísio  de Freitas de privilegiar o conhecimento técnico. Leia a entrevista:

Em que momento decidiu se candidatar a vaga de diretora da Drads?

Soube que o governo estava procurando um nome técnico para a Drads e que meu nome tinha sido cotado nos bastidores. Fui incentivada por amigos a encaminhar um currículo direto para o secretário de Desenvolvimento Social Gilberto Nascimento. Posteriormente o Itamar Paulo de Souza Junior (da coordenadoria de Ação Social) começou a fazer o filtro, com análise do currículo para ver se eu tinha as condições para o cargo. É muito positivo para a política pública esse olhar do governador Tarcísio de Freitas de privilegiar o conhecimento técnico.

Empossada no cargo, qual a primeira ação?

Tomamos posse no dia 5 e já iniciamos um diagnóstico institucional de tudo que envolve a Drads. Queremos que a população saiba o que é a Drads, para que ela serve, quem ela serve, quantos municípios atende, população atendida, quantos equipamentos de assistência social têm em cada município, qual é função de cada um e qual o impacto para a comunidade. Então, queremos um diagnóstico da situação real para elaborar um plano de trabalho para chegarmos na situação ideal. Isso, acredito, é fazer a gestão.

Como pretende atuar como diretora da Drads?

Precisamos entender o que representa a Diretoria Regional de Assistência e Desenvolvimento Social, um órgão do governo do estado que engloba 49 municípios, onde temos municípios de pequeno e médio portes, ou seja, baixa e média complexidade. Fernandópolis, Votuporanga, Jales e Santa Fé do Sul são média complexidade. Os demais, são municípios de pequeno porte. Todos os municípios respondem a Drads que é um órgão do governo. O trabalho nosso na Drads é fazer esse mapeamento, conhecer cada ação dos municípios. Estou chegando com o sapatinho da humildade, com simplicidade, porque sabemos o que representa um trabalho comunitário. Nossa responsabilidade é com políticas públicas que possam mudar a vida das pessoas, porque quem precisa e é cadastrado em programas do governo na rede sócio assistencial, precisa ter a garantia dos seus direitos. Agora estou dentro de uma roupagem institucional, mas vou fazer política pública para o povo.

"Queremos um diagnóstico da situação real para elaborar um plano de trabalho para chegarmos na situação ideal"

O que levou a ter a ousadia de enviar o currículo e se candidatar ao cargo?

Eu venho de um contexto de privações, onde sempre tem a negativa, você não pode, você não consegue, isso não é para você. E eu sou um pouco revoltada com isso, não aceito esse negativismo. Se alguém falar que não dou conta, vou me desafiar e provar o contrário. Venho desse contexto e sempre fui muito questionadora. Quero entender pela minha cabeça, compreender como funciona. E quando compreendi que política pública muda a vida das pessoas, passamos a fazer aquele exercício, seu eu fosse o que faria de diferente? Se eu agrego na minha comunidade, na minha cidade, o que poderia agregar dentro do meu estado com a minha visão? A política pública é simples, é para gente simples, então, fui audaciosa na questão da simplicidade e ter a oportunidade para mostrar que podemos chegar lá. É a população mais carente que ganha. Estou muito ansiosa para conhecer toda a região. Acho que eles acertaram (na escolha) porque gosto muito de trabalhar.

"Quando falamos de políticas públicas, falamos de direitos do povo. E o povo tem que agir em legítima defesa"

Quando alguém chega a um cargo como esse, logo vem a pergunta sobre pretensões políticas. Tem pretensão política?

Não, não tenho pretensões políticas. Isso é uma coisa que pode se desenrolar no futuro, mas só aceitaria esse desafio se fosse uma demanda da população e não tivesse pessoas mais qualificadas. Na minha posição, como diretora da Drads, vou conseguir ajudar com mais objetividade quem precisa. É a minha visão hoje e tudo pode mudar, o cenário muda, mas no meu raciocínio hoje é que agrega muito mais ao meu currículo ser diretora da Drads do que eu como uma figura política. Quero mostrar serviço na Drads. Tem tempo para isso e não estou ocupando esse cargo como projeto político. Meu projeto é dentro da política pública.

Como fica sua participação na Associação Coração em Ação e projeto Formiguinhas?

Já renunciei ao cargo de coordenadora geral da associação Coração em Ação e também me desvinculei como vice-presidente do Conselho da Mulher e como membro do Conselho Municipal de Saúde. A Cleide Filette que é presidente fará agora a reorganização da diretoria.

"Quero mostrar serviço na Drads. Não estou ocupando esse cargo como projeto político"

Lider e psicóloga comunitária ajudam a dar confiança para a missão?

Pela minha atuação as pessoas me veem com perfil de assistente social. Eu venho de um contexto como líder comunitária, que participava de conselhos, que é o movimento do assistente social. Fui trabalhar no Creas que é a assistência especializada, também fiz um trabalho de mapeamento de território para o Cras, como agente de pesquisa social. Trabalhei no Caps, no projeto Girassol com crianças e adolescentes, fui presidente da Associação de Hip-hop na área da cultura e idealizei a Associação Coração em Ação para trabalhar com educação, saúde, esporte, empreendedorismo, meio ambiente, dentre eles tem o projeto Formiguinhas que é o nosso carro chefe. Quando as pessoas me olham me veem nesse universo do assistente social. Quando fui fazer psicologia, gostei da área, me identifiquei, mas quando cai na área da psicologia social tem uma ramificação que se chama psicologia comunitária, aí entendi o meu papel no mundo. Quando falo que é minha área de atuação é porque o psicólogo comunitário, de Rio Preto pra cá não conheço ninguém, não tem na nossa região. Tem o psicólogo que presta concurso e vai trabalhar na área social dentro de uma instituição. Esse psicólogo com caráter comunitário não tem. Estou nadando em mar aberto no campo da psicologia comunitária que é agregadora, é transformadora.

Você defende muito a tese das políticas públicas? Por quê?

Quando falamos de políticas públicas, falamos de direitos do povo. E o povo tem que agir em legítima defesa, saber dos seus direitos e deveres. E a nossa coragem tem que ser maior que o medo. O que nos dará segurança para dialogar nesses espaços de direitos é o conhecimento sobre que estamos falando. Se falar numa linguagem com educação, respeito e ética, o servidor público tem que responder para a população. A população precisa ser instruída, ela aprende por modelagem. Então, se o setor público fizer o trabalho dele redondinho vai modelar comportamento, vai instaurar uma nova cultura. Por isso temos que falar sempre em política pública, porque se ficarmos na linguagem da politicagem, o cenário vai se perpetuar. A população está enojada com a politicagem estrutural. A grande mensagem é: toda a participação da população é um ato de cidadania.

Está preparada para enfrentar a burocracia do serviço público?

Por isso já comecei a fazer um diagnóstico institucional para saber o que posso e o que não posso fazer e preparar meu plano de gestão de curto, médio e longo prazo. Neste início pretendo agendar quatro encontros setoriais nas regiões de Fernandópolis, Votuporanga, Jales e Santa Fé do Sul para estabelecer diálogo e vínculos. A nossa proposta de trabalho é acolhimento e valorização.