Fevereiro é mês de combater os males causados pelas bebidas alcoólicas. Neste sábado, 18, inicia a Semana Nacional de Combate ao Alcoolismo. A SBP - Sociedade Brasileira de Pediatria acaba de lançar o Guia Prático de Orientação sobre o impacto das bebidas alcoólicas para a saúde de crianças e adolescentes. A ingestão precoce de álcool é a principal causa de morte de jovens de 15 a 24 anos de idade.
Especialistas já apontam para a necessidade de coibir o surgimento de novos alcoólatras, agindo com a conscientização de indivíduos que estão numa linha bem tênue entre o alcoolismo e o “beber socialmente”, termo bastante usado por bebedores em potencial.
Às vésperas do carnaval, período em que há forte estímulo para a ingestão de bebidas alcoólicas, o principal objetivo do documento é alertar pediatras, pais, professores e os próprios adolescentes para os prejuízos do consumo precoce. O objetivo é promover hábitos saudáveis entre os jovens.
Segundo estudos científicos citados no guia, quase 40% dos adolescentes brasileiros experimentaram álcool pela primeira vez entre 12 e 13 anos, em casa. A maioria deles bebe entre familiares e amigos, estimulados por conhecidos que já bebem ou usam drogas. Entre adolescentes de 12 a 18 anos que estudam nas redes pública e privada de ensino, 60,5% declararam já ter consumido álcool.
As pesquisas mostram que o tipo de bebida mais consumida entre os jovens varia de acordo com a região. No Sudeste há consumo maior de destilados, como vodca, rum e tequila. Essas últimas, geralmente são mais consumidas em “baladas”, onde é comum a mistura de álcool a outras bebidas não alcoólicas, como refrigerantes ou sucos.
Outro dado alarmante: recente pesquisa da Secretaria Nacional Antidrogas apontou que 12,4% da população entre 12 e 65 anos preenche critérios para dependência alcoólica. Aplicado esse índice na população de Fernandópolis, corresponderia a cerca de 10 mil pessoas.
CONSEQUÊNCIAS
Os adolescentes que se expõem ao uso excessivo de álcool podem ter sequelas neuroquímicas, emocionais, déficit de memória, perda de rendimento escolar, retardo no aprendizado e no desenvolvimento de habilidades, entre outros problemas.
O custo social do uso abusivo de álcool também é elevado. Os adolescentes ficam mais expostos a situações de violência sexual e tendem a apresentar comportamento de risco, como praticar atividade sexual sem proteção, o que pode levar à gravidez precoce e à exposição a doenças sexualmente transmissíveis.
O alcoolismo entre 12 e 19 anos também eleva a probabilidade de envolvimento dos jovens em acidentes de trânsito, homicídios, suicídios e incidentes com armas de fogo. “A mortalidade nessa faixa etária está intimamente ligada ao consumo precoce do álcool”, alertam especialistas.
Associação luta contra o alcoolismo há 45 anos
Na luta contra o alcoolismo, Fernandópolis tem várias entidades e até clinica particular. A mais antiga é a Associação Antialcoólica de Fernandópolis que está às portas de completar 45 anos. Fundada em 14 de março de 1972 a entidade atua na recuperação de alcoólatras.
O presidente Litério João Greco diz que na luta contra o alcoolismo, a Associação Antialcoólica sobrevive porque tem sede própria, na Rua Rio Grande do Sul ao lado dos Correios. “Os governos federal, estadual e municipal esqueceram-se da gente. Funciona o ano inteiro com a renda do “Trenzinho da Alegria” que opera no fim do ano. Nós realizamos reuniões todos os sábados das 20 às 22 horas. Nem que for para atender uma única pessoa, a associação está de portas abertas”, lembra.
Greco aponta ainda que a cada ano cai o número de pessoas que buscam a associação. Ao longo dos 45 anos de fundação, a Associação tem relatos de centenas de pessoas que perderam anos de suas vidas por causa do álcool e hoje lutam para salvar aqueles chegaram ao fundo do poço e buscam a ajuda na entidade. Entre os que lutam para manter a entidade aberta está o advogado Osvaldo Silva, que está na AA há mais de 40 anos.
“Hoje atendemos 10% do que atendíamos anteriormente”, revela Greco. Ele lembra que na cidade tem outra entidade que luta contra o alcoolismo, a “Alcoólicos Anônimos”. “A dificuldade lá é a mesma”, afirma.
Fernandópolis também tem o CAPS-AD, Centro de Atenção Psicossocial Álcool e outras Drogas, mantido pela Prefeitura, que desenvolve diferentes terapias no tratamento da dependência química desde oficinas de artesanato, atividade física ao ar livre, laborterapia, através do cultivo de horta, jardinagem e o cuidado com animais de pequeno porte, e grupos destinados a psicoeducação em álcool e outras drogas, prevenção de recaídas e reinserção social.
Na cidade também funciona uma clínica particular, a Renascer, que ocupa uma chácara ao lado da antiga Cantina do Morini e que presta atendimento para dependentes de álcool e outros tipos de droga.